Zema vem a Divinópolis com cobranças pelo Hospital Regional

Vereadores criticam governador e pedem agilidade no processo de retomada da obra, paralisada desde 2016

 

Matheus Augusto

Pela segunda vez em quase dois meses, o governador Romeu Zema (Novo) volta a Divinópolis, para a cerimônia de entrega de viaturas à Polícia Militar (PM). A visita, no entanto, deve ser marcada por cobranças pela retomada e conclusão do Hospital Regional. Em pronunciamento da tarde de ontem na Câmara, foi abordado o tema, mencionando a sobrecarga de atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) nas últimas semanas, período de aumento de casos de doenças respiratórias. As críticas foram direcionadas, em especial, ao sistema de regulação e ao chefe do Executivo estadual.

Primeiro a discursar, Flávio Marra (Republicanos) mencionou a reunião, na segunda-feira, no Centro Administrativo para discutir medidas a fim de minimizar a pressão sobre a UPA. 

— É um assunto que não acaba, é um buraco sem fim — lamentou.

Segundo ele, nos últimos 30 dias, “o que estava ruim piorou”. O vereador voltou a criticar a permanência do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBDS) à frente da administração da UPA. A Prefeitura rompeu o contrato com a organização no fim do ano passado, mas, até o momento, o processo de escolha da nova gestão não foi concluído. 

— Não sei por que eles estão à frente da UPA ainda — questionou. 

Marra aproveitou seu tempo de fala para enaltecer o trabalho dos servidores. 

— Eu não tenho nada contra os servidores, eles estão fazendo milagre. Estão trabalhando com pouca estrutura, quadro reduzido e fazem milagre atendendo Divinópolis e 53 municípios. Como que uma UPA em Divinópolis vai dar conta de atender 53 municípios mineiros? A gente não dá conta — afirmou. 

Em referência à transferência do terreno do Hospital Regional do Município para o Estado, ele lembrou que a Casa fez sua parte ao autorizar a dação. Como a retomada da obra ainda não aconteceu, o sentimento, disse, é de “palanque político”. Diante das incertezas, Marra pregou união entre Legislativo, Executivo e demais representantes políticos da cidade pelo fim da politicagem com a promessa do fim da obra, iniciada em 2010. 

— Sabe o que dá a entender? Que não querem terminar o hospital porque virou palanque político, é bom para dar voto. (...) Será que estão esperando chegar mais próximo da campanha? — sugeriu.

O vereador também citou a possibilidade de o Estado temer a conclusão do hospital devido, posteriormente, à necessidade de manter financeiramente a estrutura. 

Seu apelo final foi direcionado ao governador, que visita a cidade nesta manhã. 

— O povo aqui está morrendo. Tem 36 pessoas esperando para serem transferidas, fora os que mandam para casa. Esse mentiroso vai estar aqui. Não venha passear. Ele [Zema] ficou três anos sem vir aqui. De janeiro até hoje já terá vindo duas — citou. 

 

Muita visita, pouca solução

O vereador Hilton de Aguiar foi outro a não poupar críticas a Zema. Para ele, o governador volta ao município para apresentar um novo “conto de fadas”. Hilton destacou que, desde a posse, mesmo com mais de 90 mil votos no segundo turno, o representante do Novo não valorizou Divinópolis. 

— Ele vira as costas para Divinópolis, é muito fácil vir uma vez ou outra — criticou.

Hilton culpou o Estado pelas dificuldades enfrentadas pela saúde local. 

— Não é culpa da UPA, o São João não consegue. Quem consegue é o Estado, que não se preocupa — afirmou. 

 

SUS…

As críticas de Ney Burguer (PSB) foram direcionadas ao sistema de regulação estadual, o SUS Fácil, o qual ironicamente rotula como SUS Difícil. O vereador destacou que, no início desta semana, a UPA tinha 36 pacientes internados à espera de uma transferência – na semana passada eram 58.

— Fora os que estão esperando em casa. Tem gente que, há mais de 90 dias, espera por uma cirurgia ortopédica. É vergonhoso — lamentou.

Ney criticou a lentidão das autoridades responsáveis em adotar medidas para minimizar a espera.

— Será que estão esperando morrer mais gente para tomar uma providência maior?

Dentre as ações adotadas até o momento, está a compra, pelo Executivo, de leitos particulares com o dinheiro devolvido pela Câmara no ano passado. A tentativa, para o vereador, é apenas parcial e carece de um plano mais concreto. 

— Daqui a pouco, vai superlotar novamente — prevê.

Israel foi um dos poucos a isentar o atual governador parcialmente da culpa sobre a não entrega do hospital. Para ele, a principal responsabilidade recai sobre as gestões anteriores. 

— Não podemos culpar o Zema. O Zema não tem culpa sozinho: 99% do atraso do hospital regional tem nome e se chama Fernando Pimentel [governador de Minas Gerais pelo PT de 2015 a 2018], maior caloteiro de Minas Gerais. Só no governo do Pimentel Divinópolis teve um calote de R$ 127 milhões que não foram repassados, dívida essa que caiu nas costas do Zema — defendeu. 

Israel disse, ainda, acreditar que a visita do governador não será para “pedir voto”. 

 

Busca de soluções

Presidente da Comissão de Saúde no Legislativo, Zé Braz (PV) citou a busca por melhorias da situação por meio do diálogo com autoridades em saúde. Apesar de citar a importância do Poder Executivo em comprar leitos para “minimizar o sofrimento dos pacientes”, ressaltou que a atribuição é do Estado. 

— Leitos para internação é competência do Estado comprar e regular, mas, infelizmente, o Estado está sendo omisso — criticou. 

Zé lembrou que a UPA é uma unidade de transição: “lá não é lugar de internação”.

Dentre as outras medidas anunciadas até o momento, está a instalação, na Policlínica, de um ambulatório para o atendimento de doenças respiratórias, que começa a funcionar hoje. O objetivo é reduzir a procura de pacientes com casos leves por atendimento na UPA.

O presidente também anunciou o início de reformas estruturais nas unidades básicas de saúde, como parte do esforço para reforçar a atenção primária. A primeira a receber as melhorias será a do bairro Niterói, devido à “maior demanda, segundo o engenheiro”, relatou Braz. 

Sobre a visita de Zema, ele pediu abertura para diálogo. 

— Teremos a oportunidade de conversar e cobrar dele melhorias para nossa cidade — finalizou.

 

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