Zema é recebido com protesto, mas mantém posicionamento
Visita do governador à cidade foi criticada por vereadores, que cobraram valorização dos servidores
Matheus Augusto
O governador Romeu Zema (Novo) foi recebido em Divinópolis com protestos dos servidores da Educação com apoio de alguns da Segurança Pública. Novamente, o governador manteve o discurso de estar impossibilitado de atender às demandas da categoria. Ele classificou os protestos como “políticos”.
— Parece que é bandeira de alguns sindicalistas e deputados quererem se aproveitar do ano eleitoral. Quem não pagava o salário em dia, 13º salário, oferecia plano de saúde era o governo passado. Quem tem pagado em dia e está dando aumento é o meu — avaliou.
Para o chefe do Executivo, a legislação é clara e ceder à pressão dos protestos seria irresponsabilidade fiscal.
— Não vou cometer ilegalidade. O Estado pode dar o reajuste geral para todas as categorias limitado à inflação do ano anterior — assegurou.
Zema, por fim, disse que continuará com a “disciplina de gastos”.
— Colocamos a folha em dia, o 13º em dia, as férias premium. O que mais quero é valorizar o servidor público, mas tenho que obedecer a lei. Não serei irresponsável como já tivemos governos passados, que dão o reajuste e depois não pagam — finalizou.
Mudou de lado?
A visita do governador foi uma das pautas principais também na reunião de ontem, na Câmara. Flávia Marra (Patriota) demonstrou apoio aos servidores. Durante seu pronunciamento, ele questionou o governador por não se mostrar flexível aos educadores.
— Tinham quase 300 pessoas lá fora e ele [Zema] não foi lá nem deixou ninguém entrar dentro para dialogar — criticou Marra.
O vereador relembrou que o governador, quando veio à cidade antes da eleição de 2018, prometeu valorizar a Segurança Pública e a Educação, no entanto, não vem cumprindo o compromisso firmado.
— Hoje, ele mudou de lado. Ele estava como candidato e agora foi para o outro lado do balcão. A desculpa agora é que não pode, que vai descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, que não tem dinheiro.
‘Desculpas esfarrapadas’
As justificativas de Zema não convenceram o vereador, que as classificou como "desculpas" e “vaidade”.
— Tem profissional da Educação recebendo R$ 1.600. A gente não pode ficar calado ouvindo e vendo isso — defendeu.
A presidente da Comissão de Educação, Lohanna França (sem partido), defendeu a greve na Educação. Ela disse que o governador usa argumentos “fajutos” para não atender as demandas da categoria.
— Os alunos não ficaram dois anos sem aula, eles tiveram aula no período remoto, em que os professores trabalharam bem mais. (...) Os professores não criaram o coronavírus, mas nos adaptamos para levar um ensino de qualidade. O professor não pode pagar a conta da pandemia.
Blindado
Flávio Marra convocou os demais vereadores para “tomar as dores” dos servidores e, apesar de não ter força política para mudar essa realidade, visto que a questão é estadual, apoiar as categorias.
— Temos que gritar, ficar ao lado deles [servidores]. (...) Não tem ninguém pedindo favor, mas direito. O governador não dá a mínima; entrou no carro blindado dele de R$ 200 mil e vazou para Belo Horizonte — criticou.
Diego Espino (PSL) defendeu Zema sobre o uso do veículo.
— Ele é um governador. Isso faz parte do governo, não da própria pessoa do Romeu Zema — explicou.
Espino citou, ainda, que as lideranças municipais conversaram com o governador sobre a possibilidade da retomada de voos comerciais na cidade.
Apoio formal
Marra apresentou uma Moção de Apoio à luta dos sindicalistas e disse aguardar a assinatura dos demais colegas.
— Não podemos nos omitir, não é porque mudou de lado que pode mudar de opinião. (...) Vamos ver quem tem lado nesta Casa — finalizou.
História repetida
Hilton de Aguiar (MDB) também não poupou críticas ao chefe do Executivo estadual.
— É muito fácil colocar a culpa nos governos passados, Zema. (...) Ele veio aqui na cidade para mentir. Não dá para suportar — afirmou.
O vereador Ney Burguer (PSB) citou que o cenário e as promessas deste ano são as mesmas feitas quando Zema visitou a cidade há quatro anos.
— O que está acontecendo hoje em nossa cidade é o que aconteceu há quatro anos: é o governador que vem, faz promessa, que vai acabar o Hospital Regional, com aquela conversa mansa, que vai defender o pessoal da Segurança e da Educação porque é empresário — comparou.
Ney declarou, com arrependimento, ter votado no governador em 2018.
— Votei no senhor confiando na sua palavra, mas caí no conto do vigário porque você é um mentiroso. (...) Por que você não veio no ano passado? — questionou.
O vereador também mencionou que, mesmo a Câmara autorizado a transferência do terreno do Hospital Regional ao Estado, o processo ainda precisa da aprovação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
— Agora vai ter que ir para a Assembleia. Mais enrolação. Aquilo [hospital] é um elefante branco de palanque político — criticou.
Ney pediu aos deputados estaduais da região que votem o projeto com celeridade.
— O senhor [Zema] me enganou e hoje você veio aqui para enganar mais gente. (...) Se essa obra não começar até junho, não começa mais [devido ao período eleitoral]. Vai sobrar para os deputados que não agilizarem. (...) Governador, escute o apelo dos profissionais da Segurança e da Educação. Você tem que, pelo menos, dar dignidade e respeito. Faz o que o mineiro faz de melhor: respeito ao próximo, respeite esses profissionais — citou.
Desvalorização
A cobrança da valorização da Educação também foi abordada por Israel da Farmácia (PSD).
— Não posso deixar de criticar o modo como Zema vem tratando a Educação em Minas. Só temos um estudo eficiente com um professor bem pago. O que forma um bom ser humano é um bom professor, que precisa estar bem pago, é um direito que eles têm — frisou.
Ana Paula do Quintino (PSC) também citou o tema ao reforçar a importância da conclusão do Hospital Regional, não apenas para Divinópolis, mas toda a região que será atendida.
Já Ademir (MDB) disse que há governantes que “só prezam pelo material para aquilo que vai dar voto”.
— É muito triste ver governador e governantes que não estão nem aí para os trabalhadores, não se preocupam com as perdas salariais, os direitos adquiridos — pontuou.