Vultos da Independência - II

21 de abril de 1822 – Imagino o estado de espírito da pequena e destemida população brasileira, quando passados 30 anos da morte, cruel e revoltante, do Alferes Joaquim José da Silva Xavier! Na mente dos brasileiros de então as circunstâncias da lamentável ocorrência foram hediondas, a tal ponto que a cada um deles a rememorava, segundo suas nascentes convicções, com o natural sentimento de revolta, no mais alto grau de protesto ao servilismo, que já se vislumbrava para uma futura nação.  O ódio frenético dos dogmáticos estrangeiros tentava, a todo custo, sufocar nosso grito de liberdade, manifestado no idealismo de Tiradentes.

Dispunha ele da exata medida de espoliação contra o povo, especificamente mineiro, tentando, num processo de conversas e convencimento, trazer para seu grupo, ainda em formação, seus colegas de farda, sob o argumento de que havia de se socorrer os filhos pobres, por vezes famintos, das Américas. Na avaliação do mártir, era possível  reverter a abominável  situação, vez que em Minas Gerais no século anterior viviam homens ilustres, como o bel. Cláudio Manoel da Costa;  desembargador Tomás Antônio Gonzaga; Inácio de Alvarenga Peixoto, poeta e detentor de grandes fortunas, além dos padres Carlos Correia da Silva e Oliveira Rolim.

Se da delação de Joaquim Silvério dos Reis abortou-se o antecipado Grito de independência, decorrendo a prisão dos inconfidentes e o suplício do grande líder nacional, não menos verdade que a resposta surgiu sob forma de movimentos revolucionários, não importando o tamanho de cada qual, culminando com o de 7 de Setembro, e brados de liberdade posteriores, mesmo nas duas Repúblicas, com repressões ainda maiores que a de Vila Rica.  A história não é estática, pretendendo-se esconder sua trajetória e os líderes que tombaram nos cadafalsos, ou a céu aberto nas batalhas.  Vivencia-se, em algumas regiões do país, o carnaval em pleno 21 de Abril, riscando-se a efeméride do calendário cívico. Abominável acinte, engendrado por quem ainda não assimilou a mensagem do excelso líder de 1792, incomodado com a veracidade da história.

 Não só os documentos da ditadura militar devem ser conhecidos, acontecimentos anteriores, também. Em 1964, reprimiram-se inúmeros “conjurados”, torturados e mortos quantos se opusessem a quem roubasse o ouro da democracia. Trocaram os viscondes por generais de Barbacena.  A política do esquecimento toma espaços da vida pública, inclusive nos parlamentos e judiciário, coadjuvada pela confortável omissão dos órgãos de cultura civis.  Meu desabafo vem no contraponto a estes instantes de sofridas alegrias, de trágicos dias de covid.

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