Viver sem medo

Viver sem medo

 

Laiz Soares

 

"Eu tinha medo. Mas não imaginava que fosse ser uma violência física, achava que fosse um ‘bate boca’, uma discussão. Foi exposta a minha dignidade. Como mulher, fui desrespeitada, assim como servidora pública". Essa foi a fala de Gabriela Samadello após ser agredida pelo seu colega de trabalho na prefeitura de Registro, no Vale do Ribeira (SP). 

A violência sofrida pela procuradora Gabriela Barros  é assustadora e ver como seu caso ainda termina na liberdade do agressor é revoltante. Quando vi o vídeo da agressão, nesta terça-feira, além da fome por Justiça, senti o medo exposto na fala da Gabriela, um medo comum a muitas mulheres, tanto em seus trabalhos como em outros espaços.

Demétrius Oliveira de Macedo já havia sido agressivo com outra funcionária e Gabriela foi forte ao denunciá-lo para a Secretaria Administrativa da prefeitura, com intuito de ajudar sua colega.  Ao usar sua voz para levantar o tema de assédio moral no trabalho, Gabriela foi agredida por Demétrius. Após os socos e chutes, a procuradora abriu um Boletim de Ocorrência na Polícia Militar, mas Demétrius foi liberado da delegacia logo em seguida.

Onde está a justiça por Gabriela? Qual a segurança que a vítima tem diante de tal situação? Uma mulher foi agredida moral e fisicamente e ficou em situação vulnerável após a violência. Em reportagem para a Globo, o delegado responsável pelo caso considerou que "não havia uma situação de flagrante" e por isso soltou o agressor. O assédio físico e moral ainda está em investigação e a polícia aguarda os resultados dos exames periciais para análises e elucidação dos fatos. Depois de tudo isso, finalmente, ele foi preso ontem. Não podemos ignorar a gravidade deste caso.

 

O assédio no mercado de trabalho é um problema a ser enfrentado em nossa sociedade. Em empresas e organizações, nós mulheres somos vistas como inferiores e desrespeitadas de diversas formas. Uma pesquisa feita pelo Instituto Patrícia Galvão, em parceria com o Instituto Locomotiva, aponta que 40% das mulheres entrevistadas dizem que já foram xingadas ou já ouviram gritos no trabalho, contra 13% dos homens que passaram por essa mesma situação. 

Essa realidade não ocorre só no Brasil, segundo dados da entidade norte-americana Internacional Bar Association (IBA), o assédio moral e o assédio sexual atingem 75% mais vezes as mulheres do que os homens. A violência moral pode se transformar em um violência física a qualquer momento, como vimos no caso da procuradora Gabriela Barros, por isso não podemos permitir que qualquer tipo de agressão seja justificada no ambiente de trabalho.

É preciso que o poder público gere incentivos e constrangimentos legais para estimular ambientes de trabalho saudáveis  e que haja consequências para aqueles que assediam os seus colaboradores.

Tivemos a aprovação a pouco tempo do projeto de Lei 1.399 de 2019, que institui medidas para o combate ao assédio moral ou sexual, no ambiente de trabalho, com atuação simultânea em três frentes: a abertura de canais seguros de denúncia e apuração dos fatos, o apoio psicológico à vítima de assédio e a elevação do nível de conscientização dos empregados e empregadores quanto ao problema e sua gravidade. 

Hoje, com a aprovação da lei, é essencial que nosso Estado cumpra com a fiscalização e a execução das medidas promovidas pela legislação. Queremos respeito, dignidade e qualidade de vida. Queremos caminhar sem medo. 



Laiz Soares é formada em Relações Internacionais pela PUC Minas e estudou Administração e Marketing na ESSCA na França. Fez formação executiva no Insper em Relações Governamentais no Brasil. Chefiou o gabinete da Deputada Federal Tabata Amaral e fundou o movimento Nenhuma a Menos.

 

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