Vítima de feminicídio tinha medida protetiva contra agressor

Suspeito teria desrespeitado ordem judicial pelo menos duas vezes; outros filhos estão sob cuidado de parentes

Madrugada do dia 30 de maio de 2022. A data deve se eternizar no coração de familiares, amigos e conhecidos de Maria Luisa e Edanya Julielly. A mãe de 36 anos e a filha de 12 foram vítimas fatais de um crime bárbaro no bairro Padre Eustáquio, região Sudeste de Divinópolis. O principal suspeito é um homem de 44 anos, que continuava foragido até o fechamento desta reportagem, por volta das 18h30 de ontem. Ele é ex-companheiro da vítima.

Segundo informações obtidas pela reportagem junto à Polícia Militar (PM), a vítima de 36 anos possuía uma medida protetiva contra o agressor. O homem teria desrespeitado a ordem judicial pelo menos duas vezes.

O crime

Socorristas do Samu receberam um chamado por volta das 3h36 para apoio ao Corpo de Bombeiros, no atendimento de agressão física, ferimento de faca, seguido de incêndio, na rua Buenos Aires, bairro Padre Eustáquio.

— Ao chegar ao local, a equipe da Unidade de Suporte Básico (USB) averiguou que havia cinco vítimas e precisou de apoio da outra USB. No local, uma adolescente, de 12 anos, já estava morta. Dois meninos, um de cinco e outro de três anos, conscientes e aparentemente estáveis, foram levados para a UPA — informou o Samu em nota.

Outro adolescente, de 15 anos, estava consciente, com ferimentos leves, porém com necessidade de sutura no braço. Ele tentou impedir que o homem praticasse os crimes. Uma mulher, de 36 anos, estava com rebaixamento do nível de consciência e vários ferimentos pelo corpo e com queimaduras em mais de 50% do corpo. Ela foi levada e socorrida ao Complexo de Saúde São João de Deus, mas não resistiu aos ferimentos. 

O homem também ateou fogo na casa.

Dinâmica dos fatos

A reportagem foi ao local do crime e conversou com o tenente Celso Santiago, que participou da ocorrência. Ao Agora, ele narra suas primeiras impressões do crime bárbaro.

— Segundo informações de vizinhos e do filho da vítima, o suspeito teria pulado o muro e invadido a residência com duas facas. Um adolescente de 15 anos tentou impedi-lo e foi golpeado quatro vezes. Logo após, o homem se dirigiu ao quarto da menina de 12 anos, a golpeou e ela morreu no local. Na sequência, agrediu a ex-companheira e incendiou o imóvel — afirma.

De acordo com o policial, um vizinho que escutou os barulhos foi em direção da residência, arrombou o portão e, com ajuda do adolescente, retirou as duas crianças menores, impedindo uma tragédia maior. 

— Os bombeiros contiveram as chamas. O Samu fez os primeiros atendimentos e levou a vítima para a Sala Vermelha do São João de Deus. Com múltiplas fraturas, ela acabou não resistindo. O adolescente não precisou ser internado. Foi atendido na UPA e liberado. Ele, junto com os irmãos menores, estão com os familiares — disse.

O tenente destaca a importância da participação popular para auxiliar na procura do principal suspeito pelo crime.

— Por enquanto, estamos fazendo averiguações. Não podemos divulgar para não atrapalhar. Pedimos a população que qualquer informação seja passada no 190 ou 181 para localizar o suspeito e fazê-lo responder na Justiça — enfatiza.

Investigação em andamento 

O Agora também pediu informações à Polícia Civil (PC), sobre o andamento da investigação. Em nota, explicou basicamente como outros órgãos já haviam se pronunciado.

— A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), assim que tomou conhecimento dos fatos, deslocou a perícia criminal e policiais civis ao bairro, onde foram realizados os primeiros levantamentos. A princípio, a mulher, de 36 anos, foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos. O corpo dela e da adolescente, de 12 anos, foram encaminhados ao Posto Médico-Legal para os exames cabíveis. O outro filho, de 15 anos, recebeu os devidos atendimentos médicos; já o suspeito, de 44 anos, até o momento, não foi localizado. A Polícia Civil instaurou Inquérito Policial para apurar os fatos e a investigação encontra-se em andamento. Demais informações serão divulgadas oportunamente para não prejudicar as investigações — resume a nota.

Posicionamento

O caso gerou enorme repercussão na cidade. O presidente da Câmara de Divinópolis, Eduardo Print Júnior (PSDB), cobrou atitudes das autoridades para localizar o suspeito. 

— A brutalidade perpetrada nesse crime contra essas mulheres e tantas outras que têm sido vítimas por essa mesma prática, não podem ser apenas mais alguns números numa estatística que envergonha o país — pontua.

A Prefeitura de Divinópolis também lamentou o caso. 

— Com pesar, presta condolências aos familiares e amigos de mãe e filha que faleceram, vítimas dessa violência brutal. Os crimes contra a mulher e a família, infelizmente, são recorrentes em todo o país e, mesmo com medida protetiva, não é suficiente para impedir tal brutalidade — relata.

 Ainda de acordo com o Executivo, uma equipe social do Cras da região foi designada para acompanhar a família e prestar assistência no que for necessário.

 — A Prefeitura de Divinópolis não medirá esforços para continuar trabalhando, junto à sociedade, forças de segurança e políticas públicas de proteção à violência doméstica — enfatiza.

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