Viaduto da Ferradura será inaugurado amanhã
Complexo é considerado parte fundamental na mobilidade urbana de Divinópolis
Matheus Augusto
A conta gotas. Assim tem sido o processo de elaboração e desenvolvimento do Complexo da Ferradura, que terá seu viaduto inaugurado amanhã, às 10h. A obra começou a ser construída em 2013, foi paralisada em 2015 e, neste ano, foi retomada.
Processo
O Agora conversou com José Elísio Batista, secretário dos governos de Antônio Martins, Fábio Notini, Aristides Salgado e Galileu Machado. Hoje, ele é membro do Conselho de Desenvolvimento Urbano e Econômico de Carmo do Cajuru e é um profundo conhecedor do projeto. Além disso, conhece cada ponto de Divinópolis e seus gargalos..
O projeto, conta José Elísio, nasceu em 1993, durante a gestão do então prefeito Aristides Salgado, porém só foi oficializado no governo Galileu, em 2003. A área é considerada primordial para melhorar a mobilidade urbana na cidade, além de beneficiar a demanda estrutural da atividade econômica do Distrito Industrial, desenvolvido pelo ex-prefeito Antônio Martins, em 74.
— Se a gente fechar o círculo do Anel Rodoviário, Divinópolis completa um dos pressupostos para uma mobilidade urbana plena — destaca.
O círculo ao qual José Elísio se refere envolve o seguinte trajeto: terminal da Ferradura, travessia da linha férrea, estrada de Cajuru, entrada do Lagoa Park, aeroporto, passando por cima do rio Itapecerica atrás do Divinópolis Clube, Hospital Regional até a BR- 494.
Origem
A iniciativa nasceu em 1993, com a aproximação da Agência de Desenvolvimento de Araxá e o Conselho de Desenvolvimento de Divinópolis. Naquele período, a região de Araxá e Patrocínio, conhecida pelo café do Cerrado, “o mais sofisticado Brasil”, expressou o desejo de deixar de exportar pelo porto seco de Varginha e Santos.
— Eles idealizaram, então, o terminal ferroviário em Patrocínio, e um grande terminal em Divinópolis com porto seco — explicou, citando o destino final seria Vitória, no Espírito Santo.
O plano, no entanto, foi frustrado pelo então governador de Minas Gerais entre 1995 a 1999, Eduardo Azeredo.
— Tem aquela célebre frase mentirosa de que a estrada ia de nada a lugar nenhum para justificar o que ele fez conosco. Naquela época, Minas teria direito a mais um porto seco. É uma estação aduaneira, onde se faz operações, importações, exportações, desembaraços, apreensões de contrabando etc. Ia ter mais um. E o Eduardo Azeredo, que teve sua candidatura lançada aqui, é da nossa região, (...) na presença de algum de nós, falou que não ia liberar. Na época, era o governo do estado que indicava para o governo federal onde implantar.
— Azeredo indicou Uberaba, que “não fazia sentido, pois já tinha Uberlândia do lado — criticou Elísio.
Apesar da decisão, a iniciativa seguiu viva para melhorar o fluxo de veículos no município. Entre os benefícios citados pelo ex-secretário estão a melhoria do acesso aos moradores, especialmente das regiões sudeste e nordeste.
— Com o Hospital Regional, quem morar no Dona Rosa vai ter que ir até o Centro da cidade e subir a avenida Paraná. Quando poderia ir direto pelo fundo — cita.
Outro exemplo citado por ele, é a dificuldade enfrentada pelos moradores do Interlagos que trabalham no Centro Industrial, que precisam pegar dois ônibus.
— É uma estupidez do ponto de mobilidade urbana. Divinópolis é uma cidade que não tem a tradição de investir nos chamados projetos estruturantes. Não dão voto, pois não afetam a população no entorno, mas mexem com o conjunto da cidade. Então os políticos não são afeitos a eles.
José Elísio relembra os investimentos conseguidos por Antônio Martins, que viabilizou o Anel Rodoviário e a avenida JK.
— A Ferradura é, na realidade, a continuidade do anel pelo outro lado. Do ponto de vista de mobilidade urbana, está se fazendo uma grande obra. O viaduto ficou parado esse tempo todo primeiro porque ele foi feito no lugar errado.
Em sua avaliação, a escolha de tentar incluir o bairro Candidés prejudicou a ideia inicial.
— O primeiro erro da Ferradura, cometido ainda no governo Aristides, foi colocar o acesso no lugar errado. No projeto original, o acesso era pela avenida Luís Guilherme, que é a rua mais larga do Distrito Industrial. Do Floramar para frente, pegaria a faixa de servidão da Cemig, 60 metros de largura, e ela encaixaria na estação da Ferradura, esse era o grande projeto. Mas qual foi a ideia? Deixar de fazer onde deveria ser feito e fazer passando dentro do bairro para atender a população. Então, de uma avenida perimetral virou rua — detalha.
Ainda segundo José Elísio, o tráfego de caminhões é especialmente impossibilitado.
— Ao mudar o trajeto, a Prefeitura esbarrou no bairro Candidés. Então, quando se vem pelo Centro Industrial, pela avenida Iara, uma avenida larga, quando chega no Candidés, você faz um curva de 90° que duas carretas não cruzam, uma garra na outra, por conta desse erro político, para passar asfalto dentro de bairro e agradar o povão. Projeto econômico é uma coisa, projeto popular é outro. Fizeram errado — define.
Citando o futuro, Elísio ressalta a importância da duplicação da BR- 494.
— Divinópolis está encaixotada, por isso não recebe investimentos. Não tem espaço que comporte grandes movimentos de caminhões e pessoas. (...) A Ferradura resolve em partes, já que ela também está encaixotada, e a 494, que do ponto de vista de atração de investimentos é a única opção que temos.
Retomada
A conclusão do viaduto foi retomada em junho deste ano. Na época, a Prefeitura informou que o investimento total era de R$ 2,1 milhões, com recursos de convênio com o Estado, do então deputado estadual Cleitinho (Republicanos) e do federal Domingos Sávio (PL) e montante do próprio Município.
— Com a proposta de encurtar em 30 quilômetros o percurso para escoamento da produção do Centro Industrial Coronel Jovelino Rabelo, as obras de encabeçamento englobam a estrutura de contenção em muro de gabião, execução de aterro, drenagem, pavimentação e obras complementares — comunicou.
O objetivo é interligar a região Sudeste (bairros Santa Lúcia, Padre Eustáquio, Dona Rosa e Santa Rosa) com a Nordeste (bairros Icaraí, Candidés, São Caetano, Lagoa dos Mandarins, Floramar, São Simão) e a rodovia MG-050.
— A partir do complexo será ainda possível o acesso à estrada com destino a Carmo do Cajuru — acrescentou.
Em nota, Domingos Sávio celebrou a conquista. O deputado federal destinou, em 2021, R$ 400 mil para a retomada.
— Além de desafogar o trânsito da região central e do bairro Interlagos, ganharemos um novo atrativo industrial. Há um espaço muito considerável que pode ser negociado junto à iniciativa privada para a instalação de novas indústrias, uma vez que estará bem próximo a uma rota importante que é a AMG-0345 — destacou.