Vereadores criticam “ingerência” nas unidades básicas de saúde
Falta de profissionais e estrutura precária das unidades da atenção primária voltam a dominar pronunciamentos
Matheus Augusto
A melhoria na Saúde segue como uma das principais cobranças dos vereadores na Câmara. O assunto ontem, voltou a pautar a reunião. Nos pronunciamentos, os parlamentares apontaram a atenção primária como a principal carência da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa).
Cobranças
Logo no primeiro discurso da tarde, Ana Paula do Quintino (PSC) afirmou respeitar o modo de trabalho de cada um de seus colegas, mas classificou como “degradante gravar vídeo na UPA”. Além de expor e dar visibilidade à situação, a vereadora destacou a importância de cobrar ações efetivas para melhorar as condições de atendimento na unidade.
— O que eu vou fazer na UPA é buscar dados para cobrar do Município. (...) É preciso estar bem tanto para quem trabalha quanto para quem usa — citou.
Outro vereador a expressar preocupação com a UPA foi Josafá Anderson (Cidadania). Ele reconheceu que a situação se agravou com o frio e o novo aumento de casos de covid.
Em seu pronunciamento, Josafá relembrou que, desde o início da atual Administração, tem cobrado uma reestruturação do sistema de saúde. Segundo ele, com a pandemia, houve o deslocamento de diversos profissionais e “ficou muito desorganizado”. Para o vereador, há dois principais problemas nas unidades básicas de saúde: falta de funcionários e estrutura física precária.
— Todo serviço de saúde passa pela reestruturação, valorização do servidor e melhor organização melhor — mencionou.
A consequência, afirmou Josafá, é a superlotação da UPA, “que faz um trabalho de hospital”, além da pressão sobre os servidores.
— A UPA é resultado da ingerência das unidades básicas — definiu.
Mais um obstáculo enfrentado, apontado por Hilton de Aguiar (MDB), é a falta de medicamentos na Farmacinha.
— O povo não pode pagar esse preço — ressaltou.
Ademir Silva (MDB) citou que, neste fim de semana, acompanhou “o caos que está na UPA” pelas redes sociais. Ele indicou que, devido à falta de médicos nos postos de saúde, os pacientes são encaminhados para a unidade.
— Divinopolitanos no chão pode falta de leitos — criticou.
O vereador também lembrou que o problema é antigo.
— Há cinco, seis, anos já vimos esse caos na UPA, que já estava anunciado — disse.
Desta vez, Ademir atribuiu parte dos problemas à gestão da unidade, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBDS). De acordo com ele, o rompimento do contrato no segundo semestre do ano passado e as constantes prorrogações até a conclusão do processo licitatório de escolha da nova gestão contribuíram para a má prestação de serviço.
— Logicamente, teríamos esse caos. Quando uma empresa demite um funcionário por justa causa, ele vai ficar lá só fazendo besteira. (...) Nada contra os funcionários, apenas contra a administração da empresa. (...) Eles vão querer ajudar o divinopolitano porque? eles já estão fora — declarou.
Presidente sobe o tom
O discurso mais incisivo foi do presidente da Comissão de Saúde da Câmara, Zé Braz (PV). Em seu pronunciamento, ele citou a prestação de contas da Semusa nesta semana.
— É o momento que os vereadores deveriam estar presentes e cobrar. Ficar debatendo depois não vai resolver — justificou.
Zé Braz citou que, durante a prestação, a Secretaria informou ter 60 unidades de saúde credenciadas pelo Ministério da Saúde (MS). No entanto, em 17 delas faltam médicos.
— (...) existem unidades só no papel para maquiar e falar para o governo que tem cobertura — criticou.
Com isso, surge o “efeito UPA”, com a procura por atendimentos fora das unidades de saúde. Dados de segunda-feira apresentados pelo vereador resumem a classificação dos atendimentos da UPA em ordem decrescente de prioridade.
Vermelho: 1
Laranja: 8
Amarelo: 70
Verde: 262
Azul: 5
Branco: 24
Ou seja, a maior parte dos atendimentos durante a segunda foi de casos leves e sem urgência.
— Pacientes que são da atenção primária, que não deveriam estar na UPA — explicou o presidente da comissão.
Para ele, existe uma “ingerência técnica” que precisa ser reavaliada pelo Executivo.
— Saúde não é remendo, é assunto sério. (...) Nosso sistema de saúde está virando tapa buraco, tudo tem limite e o limite está chegando — refletiu.
Volta da covid
As doenças dos pacientes também atinge os profissionais. Lohanna França (PV) lembrou que diversos servidores estão afastados por testes positivos de covid. Assim, ela destacou a importância de processos seletivos para suprir a demanda.
— A saúde está um caos. A UPA está lotada devido à situação da atenção primária — afirmou.
Os vereadores Flávio Marra (Patriota) e Roger Viegas (Republicanos) também citaram o “colapso” na Saúde.
Roger, inclusive, reproduziu um áudio no Plenário do questionamento de um cidadão. No áudio, o morador relata que, em seu horário de almoço, foi ao posto de saúde se vacinar, mas foi informado de que a imunização é interrompida ao meio-dia devido a falta de funcionário.
— Está certo? Não está — respondeu Roger.
Para o vereador, a atenção primária “não tem funcionado” e a situação causa um “desgaste irreversível para o governo”.
— As pessoas chegam no posto de saúde e não são atendidas, pois não tem médico — disse.
O edil também comentou a fala de Zé Braz sobre as unidades credenciadas, mas sem profissionais.
— É um gargalo imenso para uma cidade com quase 250 mil habitantes — reforçou.
Ao fim, Roger fez um apelo aos vereadores e ao prefeito Gleidson Azevedo (PSC) para solucionar a questão.
— Chega, já passou totalmente dos limites. Agora, a desculpa é que tempo frio. Mais um ano com a UPA lotada onde nada foi feito. O problema é só falar que o Hospital Regional não está pronto. A população cresce e os problemas também. É um retrocesso absurdo — criticou.
Prevenção
Wesley Jarbas (Republicanos) contou ter ido à UPA na segunda, oportunidade em que pôde “ver de perto as dificuldades”. Como prevenção, ele orientou os cidadãos a voltarem a fazer o uso da máscara.
— Previnam-se porque a gente sabe da dificuldade do caos na UPA e nos postos de saúde — destacou.
Ele também pediu paciência à população.
— Vamos ter paciência. A gestão está tentando fazer o seu melhor — defendeu.
Soluções
O vereador Eduardo Azevedo (PSC) reforçou o andamento do processo de escolha da nova administração da UPA, previsto para o próximo mês. Ele, no entanto, cobrou soluções do secretário Alan Rodrigo enquanto não há transição na gestão da unidade.
— A atenção primária não está conseguindo gerir. Mais de 240 pessoas com fita verde na UPA. Isso não pode acontecer — destacou.
Azevedo relatou que, quando não há médico no posto de saúde do bairro, o paciente deve ser encaminhado para uma unidade que conte com o profissional, e não para a UPA.
- Infelizmente, hoje, a defasagem de médicos é grande. Até ontem, eram sete médicos afastados por covid. (...) Já tem processo aberto para contratação de novos profissionais para tentar suprir essa demanda, porque realmente está um caos — concluiu.