Valem mais do que uma vida

Valem mais do que uma vida 

Estarrecida. Talvez essa seja a expressão perfeita para definir como a população divinopolitana amanheceu ontem com a notícia do assassinato de uma mulher de 36 anos e de sua filha, de 12 anos, no bairro Padre Eustáquio. A cada nova informação que chegava, as náuseas, o enjôo, a descrença e o desespero tomavam conta. Ainda não dá para imaginar o que mãe, filha e as demais vítimas – o adolescente de 15 anos e as crianças de 5 e 3 anos, que tiveram ferimentos leves – viveram naquela casa na madrugada de ontem. Ainda não é possível mensurar o terror a que elas foram submetidas na mão do acusado pelos crimes. A sensação neste momento, além da descrença, é da desesperança. Afinal, a cada vida perdida de uma mulher, e a cada inércia das autoridades, a única certeza que se tem é que mais e mais mulheres continuarão sendo vítimas de uma sociedade machista, hipócrita e negligente. 

Talvez esses sejam os melhores termos para definir a sociedade brasileira atualmente. Uma menina de 12 anos perde a vida, ao lado da mãe, ambas esfaqueadas e queimadas. Na semana passada, uma advogada foi esfaqueada na frente dos filhos, em Belo Horizonte, pelo ex-namorado, que não aceitava o fim do relacionamento. O pior só não aconteceu para essa família porque a babá das crianças e populares interviram na situação. O homem tinha uma medida restritiva. A mulher havia dormido na noite anterior na casa de sua funcionária, por medo das ameaças que sofria do ex. O suspeito do duplo feminicídio em Divinópolis chegou a postar em suas redes sociais que mataria mãe e filha. E não para por aí.  No último sábado, um homem jogou sua filha, de pouco mais de um mês de vida, da janela de um prédio, em Teófilo Otoni, Vale do Mucuri, devido a uma briga com a mãe do bebê. A recém-nascida chegou a ser socorrida, mas não resistiu.

Pior do que os crimes é constatar que todas essas ocorrências entram na estatística. Agora, neste momento, enquanto você lê este texto todas essas mulheres são apenas dados de feminicídio e de tentativas. Chega a ser desesperador. E isso só traz o fato de que aqueles que se importam de verdade com a situação, que se torna a cada dia mais alarmante, estão condenados a viver diariamente com “socos no estômago”, pois quem é pago para melhorar as leis, torná-las de fato instrumento de evolução da sociedade brasileira está mais preocupado com outros assuntos que lhes possibilitem uma reeleição atrás da outra. É desolador chegar até aqui e ver que vidas são perdidas porque não há no país seres humanos no Poder Legislativo capazes e com o mínimo de boa vontade para mudar o Código Penal, que tenha leis mais duras e que coloquem um fim na impunidade. Infelizmente, no Brasil, a sede de poder, o ego elevado em evidência e a gorda conta bancária valem mais do que a vida de uma mãe, de uma filha, de uma mulher, de uma recém-nascida. 

E mais lamentável ainda é que a mesma sociedade que hoje se estarrece com crimes tão  bárbaros em que o assassino não tem a punição que merece é a que compactua e aplaude políticos capazes de olhar apenas para o seu próprio umbigo. Atitude que apenas contribui para aumentar a estatística e confirmar ainda mais a certeza da impunidade.  Até quando?

 

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