UPA registra mais de 4 mil atendimentos neste mês, revela Ibrapp em audiência

Aumento é de 50% em relação ao mês anterior; vereadores cobram soluções para superlotação

Bruno Bueno

 

Resolver os problemas da gestão da UPA Divinópolis. Esse foi o tema da audiência pública realizada na tarde de ontem na Câmara Municipal. Vereadores, membros do Instituto Brasileiro de Políticas Públicas (Ibrapp) — empresa responsável pela administração —, representantes do Executivo e Conselho de Saúde estiveram presentes.

Entre os assuntos abordados, os parlamentares cobraram soluções para a superlotação da unidade. O Ibrapp revelou que mais de 4 mil atendimentos foram realizados somente nos primeiros 13 dias deste mês.

 

Problemas

 

A audiência foi convocada pela Comissão de Saúde da Câmara. O presidente da comissão, vereador Zé Braz (PV), abriu os trabalhos da reunião e direcionou suas cobranças.

— Estamos aqui hoje para debatermos a questão da saúde pública em Divinópolis, no tocante à superlotação na UPA. A gente sabe que as demandas têm crescido. É necessário identificar se há falhas e onde elas estão para que possamos dar dignidade para a nossa população. (...) Não é possível alguém ficar na porta da UPA de 10 a 12 horas de prazo — disse. 

O diretor técnico da UPA, Tarcísio Teixeira, foi o alvo das principais perguntas. Ele está na unidade desde setembro de 2014 quase ininterruptamente. O servidor relatou que a estrutura já chegou a receber 65 pacientes para internação.

— Quando você atinge essa capacidade, é normal que os hospitais não aceitem mais nenhum paciente. Mas a UPA, não. Se internar 70, 80 ou 100 pessoas, não podemos tirar elas da UPA e colocá-las em outro lugar. Além das pessoas aguardando internação, temos uma demanda flutuante. São aqueles que tomam medicação, fazem exames etc — afirma.

 

Atendimentos

 

O aumento significativo do número de atendimentos tem preocupado as autoridades. 

— Foram 7.640 pacientes nos 31 dias de janeiro. Fevereiro, com 28 dias, acumulou 8.788 atendimentos. Só aí já é um aumento de 1.200 pessoas, mesmo com 3 dias a menos. Os primeiros 13 dias de março também preocupam. São 4.181 atendimentos, ou seja, um aumento de quase 50% em comparação ao mês passado — revelou Tarcísio.

O crescimento também foi observado no número de atendimentos pediátricos. Foram 941 pacientes acolhidos em janeiro e 1.503 em fevereiro - um aumento de 60%.

— Isso impacta diretamente no tempo de espera. Além disso, a gravidade desses pacientes também aumentou. Não é só analisar os números friamente. O médico que recebe um paciente grave, que precisa de intubação, está deixando de atender outro que foi classificado como verde ou azul — acrescenta o diretor técnico.

 

Prefeitura

 

O secretário de Saúde, Alan Rodrigo, garantiu que a Prefeitura tem feito o possível para resolver o problema de superlotação.

— Estamos falando de um município que nunca teve cobertura na atenção primária como tem agora. Quando a gente assumiu, 16 unidades tinham médico e todas as outras não. A gente pegou uma situação caótica — pontua. 

Alan destaca que a UPA não deve ser tratada como solução para todos os problemas de saúde da cidade.

— É uma porta de entrada como outras cidades com 300 mil habitantes já têm duas portas SUS. Nosso único hospital SUS é essencial para toda macrorregião. O hospital regional surge como parte de uma solução a médio e longo prazo. Temos que buscar alternativas, pois Divinópolis tem que ser protagonista — ressalta. 

 

Vereadores

 

Após a introdução, os vereadores presentes presentes, Israel da Farmácia (PDT), Ademir Silva (MDB), Flávio Marra (Patriota), Periquito Beleza (Cidadania), Anderson da Academia (PSC), Ney Burguer (PSB). Hilton de Aguiar (MDB) e Wesley Jarbas (Republicanos), questionaram os representantes.

Israel cobrou que o atendimento da unidade seja mais humanizado para garantir qualidade aos pacientes. 

— Cerca de 90% das denúncias que a comissão recebe não são sobre internação, mas sim sobre superlotação na porta da UPA. É vergonhoso você chegar na UPA. Se faz muito sol ou chove, os pacientes lá fora se ferram. (...) Quem está doente não escolhe nem hora nem dia para adoecer. Se a criança está com febre, a mãe vai procurar socorro — comenta.

O vereador também questionou números importantes da unidade. Representantes do Ibrapp afirmaram que a UPA tem custo mensal de R$ 1,7 milhão. Israel também afirmou que a empresa está em busca de lucro e não vai trabalhar para ter prejuízo. 

 

Debate

 

Atualmente, a unidade não possui diretor clínico. O motivo, no entanto, gerou discordância entre Ibrapp e Prefeitura. A empresa alega que a ausência se deve ao fato da necessidade de um novo alvará de funcionamento. O Executivo, contudo, disse que o IBDS não tinha o referido documento e, mesmo assim, atuava com este profissional. 

O vereador Ney Burguer questionou se a ausência do profissional atrapalha o trabalho dos médicos. Em resposta, Tarcísio disse que a responsabilidade deste cargo é coordenar o corpo clínico da unidade. As funções vão de escala de horários até orientação conjunta. Atualmente, a função é feita de forma adaptada por ele próprio. 

 

Denúncias

 

Ney também aproveitou a oportunidade para apresentar uma denúncia relatada por um morador do bairro Antônio Fonseca. Segundo o parlamentar, o homem não foi atendido no posto de saúde do bairro Nossa Senhora das Graças por ser de outra localidade. 

Ademir Silva também direcionou críticas à administração da unidade por meio de uma denúncia.

— Um senhor me relatou que ficou muito tempo na UPA e decidiu reclamar. Os funcionários disseram que chamariam a Polícia. Isso é um absurdo. Está um caos. É um mau serviço prestado, tem alguém fazendo errado. É péssimo ficar esperando o dia todo para ser atendido — relata.

O vereador também pediu que o Ibrapp contrate um profissional para acolher os pacientes na chegada à unidade. Além disso, sugeriu que seja colocado um quadro informando quantos e quais médicos estão atendendo naquele momento. 

A empresa negou a ausência de medicamentos na UPA.

 

Leitos

 

O Executivo fechou um acordo para comprar 10 leitos SUS do Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD) no ano passado. O contrato terminou dia 14 de dezembro e não foi renovado. Questionado por Ademir, o secretário de Saúde justificou a mudança.

— O modelo de financiamento dos leitos é tripartite. O município já se organiza para resolver isso. Eu peço que esta Casa envie uma provocação formal. Se aparecer uma solução, todas as cidades vão ter a mesma iniciativa. Por isso, Ademir, peço que você indique os dispositivos que podem ser utilizados — respondeu.

A compra dos leitos SUS foi possível graças à economia de R$ 800 mil da Mesa Diretora em 2021. O valor, devolvido ao Executivo, foi utilizado na aquisição.

 

“A culpa é sua, Alan”

 

Hilton de Aguiar não poupou críticas ao secretário. O vereador afirmou que o atendimento não condiz com a realidade. Além disso, fez críticas ao Ibrapp e garantiu que fiscalizará a empresa. Também cobrou que o secretário busque soluções para a superlotação e questionou a possibilidade de ampliar o número de postos de saúde que funcionam até as 22h.

Em resposta, Alan disse que, atualmente, cinco unidades funcionam até este horário. Segundo ele, o projeto da Prefeitura é dobrar o número. Alan reconheceu que é responsável pela situação.

Servidora municipal, Sheila Alvino falou sobre a obrigação do Ibrapp em prestar contas ao Município.

— O contrato assinado em setembro formaliza que a empresa deve prestar contas até o 5º dia útil de cada mês subsequente. Em março, eles deveriam ter feito até dia 7. Não fizeram até hoje, dia 13 — relatou.

 

Regulamentação e horário de trabalho

 

O diretor de Regulação em Saúde, Rafael Otaviano Ribeiro, afirmou que a unidade possui uma equipe que fiscaliza diariamente a ocupação de cada setor do Complexo de Saúde São João de Deus. Também falou sobre a regulamentação da UPA.

— As UPAs estão regulamentadas através do Ministério da Saúde. A nossa, por exemplo, é de porte 3, isto é, responsável por atender uma população de 200 a 300 mil habitantes. Esta portaria afirma que a capacidade operacional deve ser de 8 médicos diurnos e 6 médicos noturnos — afirmou Rafael.

Wesley Jarbas e Anderson da Academia falaram sobre a necessidade de educar a população para melhorar o atendimento da UPA. Questionado sobre a pontualidade dos funcionários, algo cobrado pelos pacientes, Tarcísio disse que os pontos de trabalho tem 10 minutos de tolerância: 

— Se alguém está devendo horas, não vai receber o valor total.

 

Atenção primária e instituições parceiras 

 

A pergunta do vereador Flávio Marra foi simples e objetiva: “O que foi feito pela gestão na atenção primária para desafogar a UPA?”. A resposta do secretário Alan Rodrigo veio de forma imediata. 

— Divinópolis nunca havia ultrapassado 50% de cobertura. É a primeira vez que conseguimos 73% na atenção primária. O investimento foi alto, já que aumentamos o salário dos médicos de 9 mil para 16 mil — revela. 

O trabalho de instituições parceiras, como Helena Antipoff e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), também foi destacado pelo secretário.

— Eu sou pai de autista e sei o quanto é difícil ter acesso à terapia educacional e trabalhar pensando numa linha de cuidado. O Antipoff só não foi contratado para trabalhar na UPA porque não conseguiu preencher a documentação. (...) São instituições que nos aliviam muito. Já imaginou Divinópolis em elas? — perguntou.

 

Estado e engrenagem

 

Marra e Periquito Beleza finalizaram a participação dos vereadores. Flávio questionou o Ibrapp sobre a dificuldade de liberação de vagas na regulação do Estado, por meio do SUS Fácil. 

— Todos os dias nós passamos a lista de pacientes que estão internados e fazemos uma lista de prioridades clínicas, ortopédicas, cirúrgicas e pediatras. Todos precisam ser internados, mas essa não é a realidade (...) — salientou.

A audiência também contou com a presença do presidente do Conselho Municipal de Saúde, Warlon Elias. O representante disse que a UPA é uma engrenagem que precisa funcionar de todos os lados. 

— A UPA tem média de 12 atendimentos por hora. Porém, não chegam 12 por hora. Tem vezes que chegam 40 e tem hora que não chega ninguém. É necessário que tudo funcione corretamente (...) — pontuou.

 

Fim

 

A população também teve a oportunidade de participar da audiência. As cobranças passaram pela estruturação e superlotação da unidade. Ao término das participações, Zé Braz pediu que todos se unam em prol da Saúde do Município.

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