Uma oportunidade para ressignificar

Flávia Moreira

‘’A ruptura que mais doeu. A dor que ninguém viu. A saudade que só eu senti. A separação que não era para ser de mim. A sua ausência nas festividades da escola, momentos que a vida apagou. As lágrimas que afogaram o meu travesseiro. A falta do abraço protetor e do sorriso acolhedor. Os alimentos que você pagou, mas por anos destruíram a minha alma. O preço da sua felicidade não foi o valor da minha calma. Afinal, o que era mais importante? 

A dor que não curou. A revolta que não findou. A saudade e falta do que você não foi. A expectativa do que talvez você jamais será. O preço da sua amargura. O orgulho que te massacrou. O vazio que você deixou. A casa arrumada que te esperou. As bonecas que abandonei. A carência que sofri e os braços errados de quem eu me recorri. Fato é que lutas não tem fim, mas a rejeição e a dor sim’’

O texto acima narra as dores da vida, nenhuma ocorrida de forma planejada. Mas se existe algo que me fascina são histórias de superações. Falo de relações entre pais e filhos, homens e mulheres. Quando se perde a confiança em alguém sem perder o autocontrole é lucro, você se torna capaz de silenciar, praticar o domínio próprio, fruto do Espírito Santo. Alguns intervalos de anos, podem mudar totalmente uma pessoa. Mudanças expressivas, não mudança de pensamento completamente. Se você não conversa com alguém há cinco anos, sem intimidade com essa pessoa, provavelmente você não a conhece mais. A possibilidade dessa pessoa ter mudado radicalmente é enorme. Um péssimo estudante na faculdade, pode se tornar um excelente advogado ou até mesmo um juiz. A pessoa que não acreditava em Deus, passa acreditar. Portanto, o juízo de valor sobre a pessoa com quem você não mais convive é sério julgamento, pois do contrário as pessoas tendem se restringir ao tempo, ela não está aberta a conquistar novo âmbito social, pois emocionalmente ela é desequilibrada. Não dá para praticar o auto- engano, pois a ausência do outro pode tê-la reunido em seu afeto, mas a convivência pode decidir superá-la. Uma coisa é expor sua fragilidade e suas razões, outra é não buscar entender a contra- parte e que em algum momento todos foram vítimas dos percalços narrados e de rupturas dolorosas. 

Repito e agrego, uma coisa é expor sua fragilidade, outra é a exposição de um desequilíbrio emocional ao mundo, dando gosto inclusive a pessoas que nem querem seu bem, dando ênfase ao passado. Por maior que tenha sido a crueldade, a nobreza sempre estará na resposta comportamental de quem tem consciência de sua inocência. Boas intenções refazem laços, colorem a vida e perfumam a alma. 

Na semana passada fui agente de conciliação entre pai e filho, que percorreram por mais de uma década os corredores dos caminhos opostos do coração um do outro, cegados em machucados pelos dramas da vida. Vítimas do abandono inconsciente- ciente e imaturo, mas com pré-disposição e desnudos do orgulho descobriram força para preparar terra fértil e semear restauração e ressignificação. Deduzo que o coração deve ser muralha para o que saca a paz, mas nunca para o prelúdio da paz. Independente de opinião alheia, a torre forte é o próprio Deus, que tem habilidade em restaurar histórias. E você, já pensou na possibilidade de fazer o caminho inverso? Já se atentou à bendita graça da possibilidade que ainda há no dia em que chamamos por hoje?   

 

Por Flavia Moreira. Advogada, pós-graduada em Direito Público, Direito processual Civil, pelo IDDE em parceria com Universidade Coimbra de Portugal, ‘IUS GENTIUM CONIMBRIGAE, especialista em Direito de Família e Sucessões, associada ao IBDFAM e membro do Direito de Família da OAB/MG.

 

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