Um texto desinteressante

RODRIGO DIAS 

Um texto desinteressante

Interessante é esse interesse que move o mundo. O que divide e o que faz guerra. O interesse que torna o “desinteressante” submisso, por puro interesse.

Sozinho, o interesse é sentimento mesquinho.

Quase sempre é ele que está por trás de tudo. Rege as intenções num mundo cada vez mais egoísta.

Até quando vai se satisfazendo, mantém-se uma situação. Se não dá mais vantagem, não faz mais sentido e lá se vai o interesse.

Essa ideia do que é interesse deixa tudo descartável. Uma sociedade que se satisfaz e depois joga fora ou põe de lado o que não é mais do seu interesse. É assim com as relações, com os anseios e desejos.

Por vezes, o interesse nem é real. Não passa de uma sensação em ter posse ou ostentar para provar sabe-se lá o quê. Mas logo se perde a graça, ou melhor, o interesse, e a cobiça há de ser outra.

No meio do caminho vão ficando os resíduos. O que sobrou da satisfação por um interesse egoísta, mesquinho. Aos cacos e desabonadas, estão pessoas frequentemente usadas.

Isso porque o interesse é um jogo de poder no qual quem pode mais, pode, sim. Entre esses e a meta, há o resto. Dos quais pode se passar por cima e fazê-los de refém.

Os interessados também combinam seus interesses. Morais, religiosos, econômicos, bélicos ou estratégicos. Já os desavisados têm seus interesses negados. A eles vai restar o caos e o dó do mundo, que dura até quando algo mais interessante surge para se lamentar.

Num mundo que quase nada é por acaso, os desinteressados são quase figuras patéticas, alienadas de vontades.

Então, para sobreviver, há de se ter algum interesse também. Desses que faz ficar de pé e que desafia o sistema que está aí. O interesse em progredir e não virar estatística, número frio.

Quem vê gente no lugar de interesse em algum grau muda a história. A sua ou a de outra pessoa.

Afeganistão, Haiti, voto impresso, 7 de setembro, vacinas, CPI, Cruzeiro, Auxílio Brasil, tudo num jogo de interesses no qual os resultados são objetivados e criam consequências.

Quase sempre é assim: para satisfazer o interesse de “um ou uns”, todo o resto paga a conta. O que acaba não sendo interessante.

Eles vão sempre existir. Afinal, os interesses movem o mundo e as relações. Agora, a forma como isso vai ocorrer é uma questão de escolha.

A depender do interesse, claro.

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