Tomar um café: cultura bem brasileira

Welber Tonhá
O café faz parte da nossa vida, está inserido em nossos costumes e nossas vivências. É um dos primeiros contatos que temos com algum alimento assim que despertamos ou, no meu caso, para despertar.
Essa bebida chega a ser sinônimo de gentileza. Quem nunca convidou um amigo para tomar um café em casa, apenas para recebê-lo a fim de uma boa prosa.
A origem de seu nome, “café”, é árabe, embora a planta tenha origem africana, foi no Iêmen, região oeste da Arábia, que ela começou a ser cultivada. A história do café, aliás, começa pela criação do nome, que tem origem árabe. Lá a planta era conhecida como Kaweh e a bebida foi denominada como Kahwah ou Cahue, que significa Força.
A bebida era consumida principalmente por monges, em rituais religiosos, pois os auxiliavam durante as noites de reza e vigília noturna.
Conhecida também como, vinho da arábia, o café ganhou escala comercial no séc. XIV, na região de Moka, principal porto do Iêmen, que foi responsável por um dos maiores cultivos do produto no mundo árabe. E o seu porto, o maior exportador.
Não existiria tanta história do café, se não existissem as cafeterias. Assim, a Turquia marca grande importância nessa trajetória. Pode-se dizer que o país foi responsável pela difusão da bebida no mundo, uma vez que criou em 1475 a primeira cafeteria: o Kiva Han. Com a inauguração do espaço, o café ganhou também um caráter social. Esse conceito popularizou-se em 1574, quando as cafeterias de Cairo e Meca viraram referência para artistas e poetas. Em Divinópolis temos ótimas cafeterias, como A Dona Caseira, A Mãezinha, O Cofee Leve, o antigo (este fechado) Café com Creme, também foi icônico na cidade.
Mas o café também sofreu preconceitos, associada à música e a encontros sociais, a nova droga do oriente desagradou os religiosos. Na época, a Europa vivia conflitos como, a Contra-Reforma, que queria consolidar novamente o cristianismo católico. Por ser uma bebida de país muçulmano, o café era considerado herege. Para tentar amenizar os embates, o Papa Clemente VIII (1536-1605) até propôs que a bebida fosse batizada com o intuito de torná-la cristã.
Os questionamentos controversos sobre a planta serviram de inspiração para Johann Sebastian Bach. Como resultado, pela admiração ao café, o músico compôs, em 1732, a Cantata do Café. Alegre e fora dos padrões religiosos, a composição apresenta uma história de amor, que exalta as qualidades da bebida.
A chegada do café ao Brasil traz uma série de histórias que narram conflitos de interesses e mistério. A primeira muda da planta veio em 1727, trazida por Francisco de Melo Palhete.
Bandeirante, a serviço da Coroa Portuguesa, ele vinha da Guiana Francesa e recebeu a planta - clandestinamente - da esposa do governador francês Claude d’Orvilliers. Aparentemente, a gratidão da Madame d’Orvilliers já deu o que falar por aqui.
Da sua chegada ao Brasil até a consolidação como modelo econômico, passaram-se 100 anos de história do café. As produções de planta no país começaram em modestas lavouras mas, com o passar do tempo, o chamado ouro negro foi responsável pelo alvorecer da esperança de um recomeço para Portugal.
O café foi o principal produto de exportação do séc.XIX e do início do séc XX. As plantações atravessavam as províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Foi um dos momentos mais intensos da história do café no país.
A História do café é muito ampla e interessante, voltarei a falar sobre a cultura do café e sua influência na vida dos brasileiros na próxima semana.
Alguns trechos de frases a respeito do tema abordado
Vai assim, vem outro café, se pita um bom cigarro
(Guimarães Rosa)
Como diz o poeta Zé
para sonhar uma “muié”
E para acordar “um café”
E todo dia, assim que é.
(Welber Tonhá)
Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar.
(Millôr Fernandes)
O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo
que não admite acompanhamento sólido. Mas eu o driblo,
saboreando, junto com ele, o cheiro das torradas-na-manteiga
que alguém pediu na mesa próxima.
(Mario Quintana)
Um café e um amor. Quentes, por favor. Pra ter calma nos dias frios, pra dar colo quando as coisas estiverem por um fio.
(Caio Fernando Abreu)
E coca-cola. Como disse Cláudio Brito, tenho mania de coca-cola e de café.
Meu cachorro está coçando a orelha e com tanto gosto que chega a gemer. Sou mãe dele.
E preciso de dinheiro. Mas que o "Danúbio Azul" é lindo, é mesmo.
(Clarice Lispector)
Em teu abraço eu abraço o que existe
a areia, o tempo, a árvore da chuva
E tudo vive para que eu viva:
sem ir tão longe posso vê-lo todo:
veio em tua vida todo o vivente.
(Pablo Neruda)