Seu amanhã no hoje

Tenho observado o quanto devaneios emocionais conturbam e comprometem a vida do ser humano. Há pessoas que passam a vida numa busca vazia em razão das escolhas apressadas do passado que tomou em virtude de crenças que foram desconstruídas com o passar dos anos. Atuo numa área onde as relações mudam de tempos em tempos e a coragem e o discernimento possibilitam alterar o rumo de várias histórias. O que era já não é mais, mas o que pode ser, depende da sua atual postura. Quando você assume a posição de equilíbrio tudo muda. Dado autor diz que para fazer algo extraordinário, você não precisa de um ato extraordinário e sim ordinário com disciplina. Você nunca sabe o motivo pelo qual uma pessoa age como age. Isso definitivamente não é tarefa para você saber, caso o outro não fale respaldando suas razões. Ainda mencionando como exemplo parte do clássico   ‘A Viuvinha’ de José de Alencar, há uma passagem que me chamou atenção que fala sobre a forma que Jorge lida com as finanças, com a herança que recebeu. Me fez ter a certeza de que quando uma pessoa sabe do patrimônio e do padrão de vida, fazendo equação adequada ao equilíbrio da pessoa, ela não terá problemas de estabilidade com o futuro. Ocorre que a vaidade é uma equação muito pesada e desproporcional a vida da maioria das pessoas. Vejo isso na maioria dos processos em que atuo, a maioria deles nasce em razão de uma vaidade que desencadeou conduzi-los ao poder Judiciário. São razões que as próprias pessoas desconhecem, mas antes de condenar, aprendi o caminho da compreensão. É que compreendendo eu me torno capaz de convencer o meu cliente a mudar para o seu próprio benefício. Me dou conta então de que a verdade dispensa a verossimilhança – fatos que parecem mentira e podem ser verdades. Uma sequência de coincidências que dificilmente alguém acreditaria o contrário. Nem tudo que parece ser verdade é verdade e nem tudo que parece ser mentira é mentira. No capítulo 13, pg. 65 da referida obra, Jorge afirma: 

‘Não senhor, é justo. O que adquiro com meu trabalho não me pertence, é um depósito que Deus me confia só para pagar as dívidas de meu pai, como pagar as dívidas sagradas que contrai para com uma moça inocente. ‘ 

 Há um contraste entre a maneira relapsa que inicialmente gastou parte da herança com a culpa que sentia, como se o gastar o dinheiro que recebia advindo do suor do seu trabalho roubasse o Sr. Almeida (personagem). ‘Jorge pune a si mesmo por um erro do passado e proíbe a si mesmo de ser feliz. Ao fim da obra Jorge tem a maturidade de entender o ponto final de tudo, quando ele quita as dívidas do passado e volta para os braços da mulher’. A obra é um romance, apesar de não parecer. O ponto aqui é que Jorge se deu a uma punição. Há pessoas que punem a si mesmas por um erro do passado e proíbem a si mesmas de ser felizes. 

O erro do seu passado pode trazer consequência, mas no que depender de você as consequências não podem perpetuar. A sabedoria é interromper a penitência, de concluir o castigo. José de Alencar consegue manejar o contraste da obra, mas ressalta que os erros não devem perpetuar a vida toda.

Quem faz o favor é aquele que aceita e não aquele que oferece. Explico, quem faz o bem faz o bem primeiro a si mesmo, porque experimenta o prazer de fazê-lo. Permite que o outro tenha o sentimento que causa a quem aceita o valor- é melhor dar que receber.  Se tem algo que envelhece mais do que a idade, é a desgraça. Quando você ama e você sofre milhares de interrupções – você percebe o quanto e como foi cruel –  se a tristeza envelhece a alegria renova, traz de volta o vigor, por isso, é necessário aumentar nossas alegrias.  Não me chame de covardia a razão, há coisas que devem ser feitas. Assim, lhe encorajo quais erros você pode reparar e se perdoar. Nada pode e deve perpetuar. Não antecipe o futuro, liberte do passado e refaça –faça o seu presente. Aproveite o novo ciclo que está prestes a bater com o novo ano e refaça, fazendo a sua história. Você tem o poder do novo, totalmente diferente. O autor é o mesmo, mas quanto à obra, você decide o que de fato merece escrever. Uma oportunidade de virada com o calendário que antecede o futuro.  

 

Por Flavia Moreira. Advogada, pós-graduada em Direito Público, Direito Processual Civil, pelo IDDE em parceria com Universidade Coimbra de Portugal, ‘IUS GENTIUM CONIMBRIGAE, especialista em Direito de Família e Sucessões, associada ao IBDFAM e membro do Direito de Família da OAB/MG.

 

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