Ser em extinção

LEILA RODRIGUES 

Ser em extinção

Numa sociedade em que a competição é cada dia mais acirrada, o mercado cada vez mais exigente e a concorrência cada dia mais inteligente, é preciso saber tudo de tudo. Se ontem bastava ser bom, hoje é preciso ser ótimo. É preciso se manter à frente das exigências da sua área de atuação. 

Tudo isso é fato. Temos que buscar formas de sobreviver nesta selva. O lado B de tudo isso é que, esta busca desenfreada pelo sucesso ultrapassa os limites da sanidade. Onde é que está escrito que precisamos ser bons em tudo? 

Tenho visto pessoas fazendo um esforço sobre-humano para serem bons pais, bons filhos, bons amantes, bons alunos, excelentes profissionais, e ainda ser lindo  e saudável! Eles correm como loucos para que tudo se pareça bem. Vivem num cenário montado. Ufa! É cansativo só de ouvir!

 A palavra networking subiu à cabeça das pessoas. Atitudes premeditadas e comedidas que não passam de um plano para se chegar ao podium. Até o "bom dia" sorridente é premeditado! Encontros e contatos são minuciosamente arquitetados. Tudo faz parte da conquista do pódio de bem-sucedido! 

Onde estão as pessoas normais? Aquelas que têm a grandeza de dizerem que não sabem fazer algo, que perderam alguma coisa ou que se deram mal. Onde está você, ser em extinção?! 

Procura-se alguém que possa compartilhar verdades e não apenas vantagens. Procura-se por pessoas que saibam rir, chorar, perder e ganhar. Procura-se por gente que se machuca, que se esfola, que está na fila, que pede ajuda. Procura-se pessoas, não um caso de sucesso. 

Ando correndo de quem está pronto, inteiro, formado. Tenho pena desses feras, perfeitos, acima de qualquer suspeita. Pessoas impecáveis, super-hiper-mega organizadas e produzidas me causam pânico. Tenho medo de pegar a doença da perfeição e nunca mais ser eu mesma. 

Mulheres perfeitas à base de cápsulas. Homens bem-sucedidos escravos de um comprimido azul. E ninguém toca no assunto do que não deu certo. Fazem-se caras e bocas, sorrisos e poses. Tudo isso para disfarçar que, por trás dos holofotes, somos todos iguais!

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