Sempre Ângela Lopes

 

A primeira pessoa a constatar o potencial de Ângela Lopes para as câmeras, para o olhar das multidões, foi a grande educadora Martha Eugênia Silva. Escolheu a modelo adolescente para brilhar no carro alegórico do Colégio Frei Orlando, representando a Estátua da Liberdade. A roupa foi montada com linha, agulha e alfinete. A professora Martha Eugênia “dirigia” o molde da túnica, executada pela professora Irene Silva e pela zelosa mãe, Iria Tavares Lopes. O desfile do cinquentenário de Divinópolis não seria o mesmo caso prescindisse daquela exuberante Estátua da Liberdade. Aquele papel determinou a carreira e a personalidade de Ângela: mulher bela e livre.

Na primeira década dos anos 70 já estava em Belo Horizonte, enturmada com bambas da produção de moda que despontavam na capital. Dentre eles, Luiz Otávio Brandão e Zeca Perdigão. Dali, era exportada para os grandes desfiles de moda do país. Com Ângela Lopes na passarela, não havia para mais ninguém. Modelo de moda, de adereço, de fotografia. Tenho uma foto dela sentada num banco de jardim, postura admirável, com a mão sobre os olhos, enxergando longe. Essa foto chama a atenção, talvez porque sequencie a metáfora do seu primeiro trabalho, a Liberdade. Agora, “enxergar longe”, “além das fronteiras”.

Conheceu seu esposo, Gastão, num curso de andamento e postura que ele realizava no atelier de Luiz Otávio Brandão. Recíproco amor à primeira vista. Para toda a vida. Ele está nas mãos do Pai há cerca de dez meses. Um desastre automobilístico o colheu implacavelmente. Ela não processou essa perda. Testemunhava a dificuldade de ser sem ele. Embora agradecesse a Deus o presente de tê-lo em sua vida, em todos os momentos. Ele não lhe soltava as mãos para atravessar uma rua. Por outro lado, vivia entre lágrimas e sorrisos. Dizia: “Tãozinho amou minha alegria. Preciso reconquistar o sorriso, a gargalhada, a alegria de ter família e amigos”. Mas isso era cada vez mais difícil. Até onde sei, não existe um diagnóstico médico que justifique a morte de Ângela Lopes, neste 28 de junho. Morreu de paixão.

Os seus amigos transitamos entre a dor e os momentos de alegria. Ela nos permitiu contemplar a extrema beleza, domingo após domingo, por quase dois anos, na primeira capa do “Caderno Feminino” do “Estado de Minas”. Era a grande musa das produções de moda de Zeca Perdigão.

Comentários