Sem o mínimo

Sem o mínimo

Laiz Soares 

 

Você sabe com qual intenção o salário mínimo foi criado?

Idealizado em 1938, por Getúlio Vargas, o salário mínimo foi criado pensando em dar condições para famílias comprarem o mínimo de alimento, moradia e transporte para se viver. 

Antes mesmo da constituição da ONU e da Declaração dos Direitos Humanos, este valor que tanto ouvimos falar, foi inventado para garantir a vida e dignidade das famílias brasileiras.  Ver esta preocupação do Estado brasileiro, já na década de 30, é notável, mas atualmente,  é lamentável ver que esta legislação não passa de palavras.

O pagamento mínimo para sustentar uma família de 4 pessoas no mês de fevereiro no Brasil seria de R$ 6.754,33, segundo o Dieese. Isso significa cinco vezes o valor atual do salário mínimo, de R$ 1.212. Após a compra de uma cesta básica sobram apenas R$ 74 do salário mínimo, e segundo IPCA-15 a tendência é este valor piorar.

A inflação a que chegamos é a maior desde o Plano Real, há 28 anos atrás. De acordo com o IBGE, 78% dos produtos já foram atingidos pela crise econômica. Já são 377 produtos monitorados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. E situação é ainda mais grave, pois este alto número de produtos com preços elevados  pode realimentar a própria inflação.

 

O Brasil é um caso raro de país com taxas de dois dígitos de inflação, juros e desemprego. Em 2021, nosso país já era um dos piores como referência mundial, o Brasil foi o país que registrou a maior elevação inflacionária em pontos percentuais dentro do grupo das 20 maiores economias do planeta. 

Estamos falando de moradia, transporte, alimentação, saúde, educação, vestuário, higiene, lazer e a previdência dessas famílias. Estamos falando do essencial, daquilo que todo cidadão deveria ter direito.

Ver um direito conquistado após tanta luta se transformar em apenas mais um dos projetos negligenciados pelo governo é revoltante, não somente ao considerarmos a vida dos brasileiros como também pela história de nosso povo.

Começamos o mês de maio celebrando os direitos conquistados pelos trabalhadores, o dia primeiro foi estabelecido como Dia do Trabalho em referência ao salário mínimo. No mesmo mês em que nossos direitos sociais são o foco comemorativo, vemos eles sendo ignorados diante da crise que nos encontramos.

Educação, Saúde, alimentação, moradia, transporte, segurança, este é o mínimo que todo cidadão precisa para uma vida digna. É o que todo brasileiro merece. O que todo cidadão tem direito de receber. Até quando nossa legislação será ignorada?

 

A Constituição brasileira é um avanço recente em nosso país. Apenas em 1988 foi consolidado em nossa lei os direitos fundamentais de todo cidadão. Precisamos valorizá-los e defendê-los, não queremos justiça apenas no papel. 

A justiça está em políticas públicas eficientes contra a fome no brasil, está em transportes públicos de qualidade para a população, está na garantia de moradia para todo brasileiro. Nossos direitos são inegociáveis. 



Laiz Soares é formada em Relações Internacionais e estudou Administração e Marketing na ESSCA na França. Fez formação executiva no Insper em Relações Governamentais no Brasil. Chefiou o gabinete da deputada Federal Tábata Amaral e fundou o movimento Nenhuma a Menos.

 

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