Sem noção

Sem noção

O escritor Umberto Eco sabiamente afirmou em 2015: “As redes sociais deram o direito à fala à legião de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho e não causavam nenhum mal para a coletividade. Nós os fazíamos calar imediatamente, enquanto hoje eles têm o mesmo direito de palavra do que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”. Quando fez tal afirmação, Eco assistia o início do “boom” das redes sociais. Logo após a sua morte, em fevereiro de 2016, a invasão dos ignorantes se intensificou e perdura até hoje. Umberto morreu de câncer, aos 84 anos, e soube aliar uma singular inteligência do passado a uma extrema capacidade de antecipar o futuro. Sem sombra de dúvidas, o filósofo, com essa citação, previu o que esperava a humanidade nos próximos anos. 

Hoje, o Brasil e o mundo passam por um momento extremamente delicado, quando as democracias estão em “jogo” por causa das redes sociais. Não é de hoje que esta luta entre democracia x redes sociais está travada. Sem qualquer tipo de maturidade para lidar com a liberdade que a internet dá e com o impacto que ela pode causa em uma sociedade, o povo utiliza as redes sociais sem qualquer responsabilidade e por diversas vezes tenta substituir leis por vídeos, troca o que deve ser feito por pedidos de compartilhamentos e curtidas, e obrigação por discursos acalorados e chorosos nas redes sociais. Em 2015, com o seu olhar crítico, Umberto Eco definiu muito bem, com palavras cirúrgicas, o que o futuro reservava para a humanidade. 

Nos despedindo de 2021, quase em 2022, vemos, inertes, muitas vezes até mesmo sem acreditar, que a humanidade perdeu o rumo, perdeu a noção. O povo quer tudo na marra, quer substituir o processo democrático, o processo legal, que garante a ordem social, por achismos na internet, por discursos apaixonados, cercados de palavras vazias. Querem substituir fatos por “eu acho”, querem trocar o diálogo por politicagem. É assim, neste processo, dando voz a uma legião de imbecis, tentando substituir fatos, leis, por achismo, que a humanidade caminha aos poucos para trás. É assim, com textos lindos publicados nas redes sociais, com discursos apaixonados, pedindo mudanças, que o povo anda em círculos. É exigindo determinados comportamentos, mas não mudando o seu, e acreditando que palavras bonitas – e vazias – mudam o mundo que a população caminha para trás. 

Dar voz aos imbecis, querer burlar leis, vídeos com opiniões, apontando apenas os problemas, sem mostrar a solução, é a combinação perfeita para o caos absoluto. A frase de Umberto Eco mostrava apenas a “ponta do iceberg”, o que estava por vir ainda não era mensurável, pois, atrelado a tudo isso, está a coragem; a noção mandou abraços. O povo perdeu a vergonha de ser burro, e segue causando danos à coletividade, sem qualquer tipo de culpa ou responsabilidade. A conta da “invasão dos imbecis” chegará, e não será barata. E não haverá um ser humano que não pagará por ela. Quem viver verá! Tudo é só uma questão de tempo.

 

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