Saúde volta a ser criticada na Câmara

Vereadores também cobraram abrigo municipal para animais soltos apreendidos

 

Matheus Augusto

Dois temas dominaram os pronunciamentos da Câmara na tarde de ontem: a precariedade da saúde e a falta de estrutura para receber animais soltos. Na primeira reunião após a visita do governador Romeu Zema (Novo) a Divinópolis, os vereadores voltaram a criticar a demora para a retomada da obra do Hospital Regional, prevista apenas para o fim do ano. 

 

Saúde

Durante seu pronunciamento, Ana Paula do Quintino (PSC) novamente pediu ao secretário de Saúde (Semusa), Alan Rodrigo da Silva, melhorias na atenção primária, dada a alta procura por atendimento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA). A vereadora contou ter ido à UPA no domingo, quando encontrou duas crianças com “certa urgência” para transferência, mas não havia vaga. 

Ana Paula também apresentou que, no período de funcionamento das unidades de saúde, de 7h às 17h, a UPA atendeu 255 pacientes. O alto número, segundo ela, comprova a baixa eficácia da atenção primária.

— A maioria das pessoas que estavam lá [na UPA] tinha pulseira verde [casos classificados como leves]. Elas não tinham que estar ali, tinham que ser atendidas nos postos de saúde — relatou. 

Enquanto esteve na UPA, Quintino ouviu relatos de quem esperava no local, como o encaminhamento do posto para à unidade e atendimento apenas após 1h da manhã. 

— Enquanto a ponta [atenção primária] não funcionar, não adianta. (...) Ontem, eu me senti numa praça de guerra na UPA. O tanto de gente que tinha de fora, tinha o dobro dentro. Lá não é lugar para isso — reforçou. 

Em seguida, o vereador Ney Burguer (PSB) mencionou o Hospital Regional, o qual classificou como “palanque eleitoral”, como parte da solução para desafogar a unidade de urgência e emergência na cidade. No entanto, ele também criticou a visita do governador. 

— Você [Zema] está achando que o divinopolitano é palhaço. (...) Vai completar quatro anos. (...) A UPA está lotada. (...) Você vem aqui só buscar voto e namorar — afirmou. 

Para Ney, o governador, apesar de fazer parte do partido Novo, repete práticas da “velha política”. 

Quem também comentou o assunto foi Lohanna França (PSC). A vereadora lembrou que, como medida paliativa, a atual administração municipal comprou leitos particulares, apesar da ação não resolver o problema a longo prazo. 

— A não finalização do Hospital Regional faz com que não tenhamos para onde encaminhar os pacientes. (...) Quem tem que resolver a questão dos leitos de internação é o estado — apontou.

A vereadora citou, ainda, problemas na atenção primária, como o afastamento de servidores em decorrência de contaminação por covid-19.

— Muitos postos de saúde estão desfalcados e as contratações não estão acontecendo com a agilidade necessária — pontuou.

Outro ponto criticado direcionado à Prefeitura foi a alocação de um mesmo gerente para mais de uma unidade de saúde.

— A gestão da saúde em Divinópolis está pior. (...) Colocar gerentes para mais de uma unidade não funciona. (...) Tem gerente responsável por três unidades. Como que ele vai cuidar direito da unidade de saúde? Os gerentes estão exaustos — relatou. 

O vereador Ademir Silva (MDB) não poupou críticas à situação, em especial à demora da retomada do HR. 

— Em Governador Valadares já começou, daqui 15 dias será o de Teófilo Otoni… e Divinópolis? Só no final do ano — disse, em referência aos demais hospitais paralisados no estado, que estão sendo retomados. 

Para ele, o governador chantageia Divinópolis ao prever a retomada da obra apenas no fim do ano, após a eleição.

— Se ele ganhar, enrola mais uns três anos. (...) se ele perder, devemos voltar atrás em todas as negociações com o futuro governador — avalia Ademir.

Sobre a atenção primária, o vereador vê o cenário como um “problema sério”.

O coitado está passando mal, doente. Onde ele vai? Para a UPA. Chega na UPA, espera 10h, 12h. Quando a situação está crítica, leva para dentro, fica mais alguns dias até que uma luz brilhe na luz do túnel e ele é transferido — detalha.

Antes de encerrar seu discurso, Silva relatou que, há quatro meses, a unidade de saúde do bairro Serra Verde encontra-se sem médico. Em outra, onde deveria haver três médicos, há apenas um. Ele também citou a escassez de alguns insumos. 

— Não adianta construir posto de saúde um atrás do outro se a gente não consegue ter médico para cuidar, dar a receita e fazer os atendimentos — concluiu.

Recorrente ao abordar o tema, Hilton de Aguiar (MDB) destacou o trabalho dos profissionais na UPA e criticou o secretário de Saúde e cobrou providências do prefeito Gleidson Azevedo (PSC). 

— O prefeito deve estar dormindo. (...) Os postos de saúde não estão atendendo como deveriam. (...) É muito difícil legislar numa cidade em que o prefeito parece que tem algo no olho atrapalhando a visão — disse.

Hilton chamou Zema de demagogo por “brincar com a cidade”, mesmo tendo recebido mais de 90 mil votos no segundo turno da eleição passada. 

— Falar que vai terminar o hospital público depois das eleições é um tapa na cara, é rir do povo. Nunca vi um governo que fizesse tanta covardia contra nossa cidade — criticou.

Por outro lado, Flávio Marra (Patriota) ironizou que gostaria de “morar nas propagandas da Secretaria de Saúde”.

— Sempre que entramos em contato parece que está tudo bem. (...) Não falta leito, não tem fila. É o que eles falam — frisou. 

Assim como os colegas, Marra também criticou Zema. 

— Já se passaram 3 governadores (...) e o hospital público é obra eleitoreira. 

 

Animais soltos

Outro tema presente durante a reunião foi a preocupação com animais soltos pela cidade. O exemplo dado para destacar a importância da discussão de políticas públicas sobre o assunto foi a morte, na última sexta-feira, 17, de um motociclista, de 47 anos, que não resistiu aos ferimentos após atropelar um cavalo solto na BR 494. 

Primeira a mencionar o caso, Lohanna classificou a situação como “assombrosa” e defendeu punições aos responsáveis. A vereador lembrou que o Centro de Referência de Vigilância em Saúde Ambiental (Crevisa) não tem essa função e, por isso, se faz necessária a luta por um abrigo municipal. 

Em sequência, Roger Viegas (Republicanos) pontuou que, há quatro meses, enviou um requerimento à Prefeitura solicitando informações sobre o planejamento de um local adequado para o cuidado de animais e abrigo de animais apreendidos em vias públicas. A resposta, a qual considera “vaga”, citava estudos em andamento para lidar com a situação. 

O vereador lembrou que, anteriormente, existia o espaço conhecido como “curralzinho” para alocar os animais nesta situação. Diante do cenário, Roger se comprometeu, com o aval do Executivo, articular emendas para viabilizar a construção de uma estrutura similar. Como contrapartida, a administração precisaria garantir, através do orçamento, recursos para manutenção, como a contratação de veterinário, demais profissionais e compra de insumos. 

— Uma cidade do tamanho de Divinópolis não tem um local adequado para o cuidado dos animais — citou Viegas.

Uma das alternativas oferecidas pelo vereador foi a possibilidade da administração municipal firmar parcerias com universidade para minimizar os custos. 

— Divinópolis tem capacidade, tem tirado a vida de muitas pessoas — encerrou. 

Presidente da Comissão de Bem Estar e Proteção Animal, Flávio Marra, contou receber reclamações diárias sobre o assunto.

Qualquer bairro de Divinópolis em que você for tem animal abandonado. (...) Parece que deu enxame de cavalo abandonado — citou.

Representante da causa no Legislativo, ele pediu uma “atitude rápida” à atual gestão. 

— Já chegou ao extremo. (...) A Prefeitura está esperando mais o quê agora? Porque já aconteceu de tudo, já teve acidente, morte… — finalizou.

 

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