Saudade da minha mãe

Augusto Fidelis

Saudade da minha mãe 

Quando criança, eu detestava ir à escola. Minha mãe, porém, embora não soubesse ler nem escrever, achava o estudo da maior importância. Todas as vezes que eu fugia da aula, ela esquentava as minhas costas com o reio. Apesar de todo seu esforço, fui reprovado três vezes no primeiro ano. Somente quando apareceu por lá um casal de americanos, que ensinava aos meninos técnicas agrícolas, e prendas domésticas para as meninas, as coisas ficaram mais interessantes. Também nessa época a escola passou a receber trigo, leite em pó e aveia para a merenda.

Nesse tempo, talvez mais do que agora, o Dia das Mães era uma data muito importante no calendário escolar. Ensaiávamos exaustivamente as músicas, os números de dança, as poesias. Quando chegava a hora de abraçar as mães, a maioria dos meus colegas levava flor de casa ou do mato. Eu sempre fazia diferente. Comprava papel de seda e minha vizinha confeccionava rosas lindas. Para tanto, eu juntava os ovos que minha galinha botava e os vendia na bacia das almas, mas conseguia o meu propósito de fazer bonito na festa da escola.

Minha mãe, sozinha, com tantos filhos para cuidar, desdobrava-se em mil afazeres. Lavava roupa todo dia, criava galinhas, plantava hortaliças e uma enorme variedade de ramos de chá, pois quem mora na roça tem de estar prevenido, principalmente naquela época em que não tínhamos sequer um rádio. O tempo passou e seus meninos se encaminharam na vida, apesar do dinheiro sempre escasso. Mas ela fez a cada um compreender que dinheiro é bom, mas não é a única vantagem que o ser humano deve ter; há outros valores que precisam ser preservados no coração e na mente.

Ao terminar a sua tarefa, quando se preparava para usufruir, de maneira mais tranquila, de todo o esforço de uma existência, Deus a chamou perante a sua face, para ser recompensada no céu. Embora eu saiba que Deus lhe é misericordioso, acho que as mães não deviam morrer. Deveriam ser eternas como as montanhas, para serem contempladas pelo menos de longe. Bem que pedi, implorei ao Altíssimo mais alguns anos para ela. No entanto, a incessante oração talvez fosse apenas egoísmo da minha parte. Enquanto eu bradava aos céus, com certeza, eu pensava apenas no meu bem-estar. 

Outra vez chega o Dias das Mães. Vejo a movimentação de tantos filhos em busca de agrados e tudo mais que possa marcar bem a data. Ouço música e barulho de festa em tantos lares. A mim não resta alternativa a não ser beirar uma sepultura, mirar uma cruz inerte que, apesar de tantos anos, ainda traz escrito o seu nome. Não quero chorar, mãe, mas uma saudade que dá nó na garganta não permite que as lágrimas sejam retidas. As flores de papel há muito se desfizeram, porém, ficaram tantas lembranças que me dão estímulo para viver. Obrigado, mamãe!

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