Saudade...

 Saudade... 

Querida mana Maria, 

 Você reclamou tanto da minha ausência... Disse que agora que estou rica e famosa, esqueci de vocês e até da nossa terrinha boa aí nas Minas Gerais... Essa terra faz jus ao nome: Minas. Minas é ouro, ouro puro 24 quilates, talvez outros quilates ainda mais puros que desconheço. Como poderia esquecer? Pena que nesses cinco anos que estou fora, você, que tanto foi para outras paragens, nunca veio ver. Nova York é um tesouro de riquezas e belezas e vale a pena a gente ver. Um tesouro de pessoas carinhosas, gente que é gente também. Vivo cercada de carinho e de muita paparicagem, muito pelo sucesso dos meus livros. TV, redes, prêmios, entrevistas...

…Mas, NY não é Divinópolis e nunca o será. E eu jamais serei aqui aquela pessoa que sentiu o cheiro, o gosto, as vibrações dessa cidade divina... Daqui eu não sou, eu tentei mas não adianta tentar mais! Estou voltando. Quero atravessar de novo o rio Itapecerica, caminhando devagarinho pela ponte do Porto Velho. Muita água já passou sob a ponte e o rio lá embaixo hoje não deve ser o mesmo, como sói acontecer. Lembro de tanta coisa boa e engraçada e de coisas tristes da minha infância... 

Você lembra das boiadas indo pro matadouro atravessando a cidade e a gente correndo pra dentro de casa pra botar sal no fogo? Puxa vida, que emoção, que medo, que beleza... A rua Goiás, a 7 de Setembro, onde a gente morava. O Catalão... Só agora sei o significado desse nome, Catalão, mas por que o nome do bairro nestes grandes sertões e veredas? 

É... Nunca me esqueci do Didi barbeiro, alto, muito magro e corcundinha de tanto labutar na cadeira de barbeiro. Algumas vezes volto ao meu contexto e me vejo sentada na cadeira de barbearia, alteada e ele cortando meu cabelo. E a franja? Eu saía de lá igual a uma indiazinha... 

 E mais… As professoras Alzira, Irene Silva...

...As colegas, alunas do Grupo Escolar Miguel Couto, uniforme de saia pregueada azul e blusa branca de fustão. E lá vou eu levando a pasta na mão, como um pêndulo, falando sozinha e sonhando... 

 …Saudades muitas, banzo... Não vou falar das pessoas, porque a gente cheira e aperta num abraço. As irmãs, o irmão, as primas... As amigas, a Dalila, quero apertar cada uma num abraço de tamanduá. E papai e mamãe? Viraram saudade. 

No começo do ano chego por aí. Me leva pra passear na cidade, de braço dado, devagarinho, para eu sentir o cheiro e o gosto da nossa Terra do Divino.

 Chega! Em breve a gente conversa ao vivo e em cores... Saudade muita, irmãzinha querida! Breve, muito em breve estou de volta.

 Lucy Guimarães 

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