Salve salve a poesia, oração de poetas e curtidores!

 “Óh tempore, óh memória!”

Recebemos e agradecemos ao amigo professor e filósofo José Raimundo Batista Bechelaine preciosidades como as que estão em cima deste texto. 

Em tempos de correspondência erudita como estas, em tempos de sopros do Divino Espírito Santo, esta Divinópolis não pode perder bons ares de mimosear o leitor divinopolitano, de nascença ou não, e vizinhos com texto do derradeiro livro da querida Adélia Luzia Prado de Freitas, em 2013, intitulado MISERERE:

  • A senhora acredita que sua poesia teria o mesmo sentido sem a religião? A poesia é mais uma oração? Acredita que pode haver um poeta ateu?
  • Certamente escreveria outro tipo de poesia, mas não deixaria de escrevê-la. No texto de um poeta ateu , o substrato de sua poesia é o mesmo no de um poeta crente. Porque o fenômeno poético é religioso em sua natureza. A poesia, independentemente da crença ou não crença do poeta, nos liga a um centro de significação e sentido, assim como o faz a fé religiosa. Por isso, é que a poesia é tão consoladora, dá tanta alegria. Minha formação é religiosa, confesso o que creio e é impossível que nossas profundas convicções desapareçam quando escrevemos. Seria esquizofrênico. Mística e poesia são braços do mesmo rio. Deus lhe deu o segundo, mas a fonte é a mesma, o Espírito Divino. A despeito de si mesmo, o poeta ateu entrega o ouro em sua poesia. É simples, rigorosamente, ninguém é o criador da beleza (poesia). Ela vem, eu diria, como Guimarães Rosa, da Terceira margem da alma. O poeta é só o “cavalo do Santo”, queira ou não. Às vezes, somos tentados a desistir quando descobrimos que ela, a poesia, é muito melhor que seu autor. É a tentação do orgulho. Que Deus nos livre dela.
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