Relatório da CPI da Permuta Estética será lido em dezembro

Morte de paciente completa seis meses nesta semana

 

 

Da Redação

A morte de Iris Doroteia Martins, de 45 anos, completa seis meses nesta semana. Ela foi vítima de um procedimento mal-sucedido em uma clínica biomédica no Centro de Divinópolis. O caso gerou enorme repercussão e desdobramentos na época.

A Câmara de Divinópolis nomeou, duas semanas depois,  uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação da Vigilância Sanitária no caso. De acordo com informações obtidas pelo Agora na tarde de ontem, o relatório final será lido em dezembro.

CPI

A comissão é composta pelo requerente e relator Flávio Marra (Patriota), Edson Sousa (Cidadania) — presidente —, Roger Viegas (Republicanos), Ademir Silva (MDB) e Anderson da Academia (PSC). 

Diversas oitivas foram realizadas durante o período de investigação. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Divinópolis (Sintram) protagonizou uma das cenas mais marcantes. Ele disse que a clínica da biomédica nunca possuiu alvará sanitário e funcionava através de um decreto assinado pelo prefeito Gleidson Azevedo (Novo). 

A Prefeitura negou as afirmações e disse que o local foi fiscalizado três vezes, mas em nenhum foi avaliado alto risco sanitário que justificasse a interdição da clínica.

Próximos passos

De acordo com o presidente da CPI, Edsom Sousa, todas as oitivas já foram realizadas. 

— Tivemos uma reunião deliberativa e estamos aguardando uma informação importante. Eu acredito que a comissão deve terminar os trabalhos e apresentar o relatório final, no mais tardar, até a primeira quinzena de dezembro — explicou.

Ele preferiu não citar detalhes sobre o relatório.

— O que eu posso dizer é que o vereador Ademir, relator da CPI, está fazendo um trabalho muito sério e ético. Quem achou que essa CPI ia se transformar em pizza, está certo. Mas é a pizza sabor verdade — pontua.

A CPI preferiu não convocar a biomédica para depor. Questionado, Edsom Sousa justificou a medida.

— Em relação ao comportamento profissional, a comissão achou melhor deixar para a Polícia Civil (PC). O que eu posso dizer é que temos alguns dados que a população irá gostar — finalizou. 

Relembre

A biomédica Lorena Marcondes foi presa em flagrante no dia 8 de maio, data do crime. O julgamento do habeas corpus ocorreu no dia 23 e a profissional passou para a prisão domiciliar.

A prisão domiciliar foi relaxada em agosto deste ano. Neste fim de semana, Lorena foi vista no show do cantor Gusttavo Lima em Divinópolis.

Na conclusão do inquérito, a PC pediu a prisão preventiva da biomédica, mas ainda não se tem novidades sobre a solicitação. 

Investigação

Em outubro, a Polícia Civil indiciou a biomédica por homicídio doloso. O inquérito, com mais de 700 páginas, foi divulgado pela PC em coletiva. Outras duas profissionais, que prestavam assistência à biomédica durante os procedimentos, também foram indiciadas pelo crime na condição de partícipes. A um terceiro funcionário foi atribuído fraude processual, por alteração na cena do ocorrido.  

Complexidade

Chefe do 7º Departamento da Polícia Civil, Flávio Destro classificou o trabalho como “complexo”. O médico-legista, João Paulo Nunes, explicou a cadeia de eventos que levaram à morte da paciente. Segundo ele, todas as análises corroboram para a tese do procedimento ser, de fato, uma lipoaspiração. 

Íris teria sofrido um choque hemorrágico, com perda significativa de sangue. Análise toxicológica, realizada pelo Instituto Médico Legal (IML) em Belo Horizonte, também revelou a presença do anestésico Lidocaína, que deve ser administrado com “rigor, técnica e precaução”. 

A junção entre a hemorragia e a intoxicação culminou na parada cardiorrespiratória, conforme o inquérito. 

Perícia

A perita criminal Paula Lamounier esteve na clínica e afirmou ter encontrado frascos com substâncias injetáveis, de uso restrito a ambientes hospitalares e ambulatoriais, com disponibilidade de suporte ventilatório e hemodinâmico.

Exames confirmaram, segundo os documentos, a presença do perfil genético de Irís em toalhas e capas de almofadas ensanguentadas. Além de outras substâncias, também foi encontrado o polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA, que não é indicado para fins estéticos. 

— Não é indicado para fins estéticos. 

Outras vítimas

O delegado responsável pelo caso, Marcelo Nunes Júnior, ainda afirmou que, desde o primeiro dia, houve tentativas dos envolvidos em “esconder provas”. 

— Todos tentaram alterar a cena do crime, isso é óbvio, está mais do que demonstrado. Limparam o local, esconderam maquinário, não achamos materiais, temos imagens deles saindo, com as coisas da clínica, em sacos. 

Em seu entendimento, o caso não pode ser rotulado como uma fatalidade, pois, para isso, seria necessário cumprir todas as exigências legais, o que não ocorreu. Outros casos de pacientes da biomédica, inclusive, ainda estão em investigação na Polícia Civil, de acordo com o delegado. 

Defesa

Advogado de Lorena, Tiago Lenoir manifestou “surpresa” com o indiciamento por homicídio doloso. Em sua avaliação, a coletiva não apresentou fatos considerados importantes pela defesa. 

A condução da investigação também foi criticada pelo profissional.



 

 

 













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