Regalias x sobrevivência

Regalias x sobrevivência 

Alimentos mais caros, carrinhos de compras cada vez mais vazios, diversão reduzida, o salário mal dá para virar o mês.  O carro, então, virou artigo de luxo, considerando o valor do combustível. E ontem, para o desespero de muitos, a Petrobras anunciou um novo reajuste para o diesel. A partir de hoje, o preço médio de venda para as distribuidoras passará de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro. Para colocar a “cereja no bolo”, segundo cálculos da consultoria financeira Tullet Prebon Brasil, divulgados pelo jornal O Globo, a perda do poder de compra do brasileiro será de 1,7%, descontada a inflação. Além disso, se descontada a inflação prevista para o fim do mandato, o piso salarial cairá de 1.213,84 em dezembro de 2018 para 1.193,37 em dezembro de 2022. Isso é apenas a comprovação de que ser brasileiro, viver no Brasil está cada vez mais difícil. 

Este ano é o terceiro seguido em que o governo federal não promove reajuste do piso salarial acima da inflação. O Brasil hoje tem a maior parcela de trabalhadores ganhando um salário mínimo desde 2012, segundo o IBGE. Além disso, 64% das pensões e aposentadorias pagas aos brasileiros estão fixadas pelo piso salarial. O quadro é o mais desesperador possível, e paralelo a isso, em Minas Gerais, os servidores públicos estaduais vivem a angústia da disputa acerca do reajuste salarial da categoria. Há mais de seis anos sem ao menos a reposição da inflação, os servidores públicos estaduais sobrevivem à queda de braço entre Executivo e Legislativo. Após o governador Romeu Zema (Novo) negar aos servidores da Saúde e da Segurança Pública um reajuste de 14%, aos da Educação a recomposição de 33,24% e manter a reposição da inflação de 10,06% para todo o funcionalismo público estadual, o tema foi parar na Justiça. 

O Supremo Tribunal Federal (STF) remarcou, para entre os dias 20 e 27 deste mês, o julgamento da ação. No plenário virtual, os 11 ministros do STF terão um prazo para se manifestar sobre o assunto. Ou seja, eles têm até o dia 27 de próximo para indicar a decisão final sobre o reajuste dos servidores. O que mais incomoda nisso tudo, analisando toda a conjuntura, é que, além de o brasileiro perder a cada um pouco do se poder de compra e estar apenas tentando sobreviver a este cenário caótico da economia brasileira, quem trabalha servindo ao povo, quem está literalmente carregando este país nas costas precisa “mendigar” algo que é seu por direito, visto que não há sequer a reposição da inflação para a categoria há anos. Há ainda outro ponto: aqueles que agora definem o destino de milhares de servidores têm um bom e rechonchudo salário, além das demais regalias, que permitem que nenhum desses “atores” sintam 1/3 do que um trabalhador brasileiro passa hoje para sobreviver.

Os mesmos que hoje estão nesta “queda de braço” são os que não sabem, e nunca saberão, o que significa perder 1,7% do seu poder de compra e o quanto isso impacta em um lar brasileiro. Por aqui, infelizmente, tudo continua na mesma. O brasileiro lutando, sobrevivendo e seguindo, enquanto, do outro lado, quem tem todas as regalias possíveis decide o que vai ter na sua mesa.

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