Quando a vítima vira culpada

Quando a vítima vira culpada

 

Laiz Soares

Um ambiente predominantemente masculino, uma mulher desacreditada e uma agressão.  A bandeirinha Marcielly Neto foi agredida na última semana durante uma partida de futebol pelo técnico Rafael Soriano, a resposta do agressor: “Mentira. Está se usando porque é mulher. Está querendo aproveitar de uma situação porque é mulher". 

Mesmo com câmeras filmando o momento da violência e com todos os torcedores e jogadores presentes, Rafael negou a pancada. O técnico ainda ameaçou processar a bandeirinha caso ela falasse que foi agredida. 

Nesse caso, a agressão foi gravada e, mesmo com as palavras de Rafael, Marcielly foi ouvida. Mas quantas mulheres são desacreditadas todos os dias? Quantos agressores desmentem as vítimas e saem ilesos das situações?

A situação piora quando pensamos na fala “Está se usando porque é mulher”, em qual situação ser agredida é um privilégio, uma vantagem? Vemos o quanto os valores são invertidos hoje em dia quando Marcielly, uma vítima, é colocada como culpada da própria agressão. 

A violência contra mulher é tão normalizada em nossa sociedade que, quando ela ocorre, é minimizada e vista por muitos como vitimização. No momento em que a vítima busca pela justiça contra o crime, ela até é vista por alguns como quem quer se aproveitar da situação. 

Mas essa não é a realidade. Segundo o Atlas da Violência de 2021, somente entre março de 2020 e dezembro de 2021, no Brasil ocorreram 2.451 feminicídios e 100.398 casos de estupro e estupro de vulnerável do gênero feminino.

Segundo os dados da pesquisa, em 2021, houve um total de 1.319 feminicídios no país, recuo de 2,4% no número de vítimas registradas em relação ao ano anterior. Em 2021, em média, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada sete horas.

Discursos como o do técnico são tão comuns que a própria legislação brasileira aborda esse tipo de ação na lei 14321/2022: “§ 1º Se o agente público permitir que terceiro intimide a vítima de crimes violentos, gerando indevida revitimização, aplica-se a pena aumentada de 2/3 (dois terços).”

A revitimização pode ser entendida como o sofrimento contínuo da vítima, mesmo após a violência, de modo que elas revivam sem  necessidade a situação de violência, outros episódios que gerem sofrimento ou descrédito, como o caso de Mariana Ferrer e Marcielly.

Em entrevista, Marcielly Neto ainda contou que está acostumada com assédios e violências verbais, mas nunca imaginou que enfrentaria uma violência física. Na sociedade muitas vezes nos acostumamos em sermos tratadas como inferiores e oprimidas, mas esse não é nosso lugar.

Violência contra mulher, seja violência física, psicológica ou verbal,  é crime e deve ser punida como tal!

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