Quando a maldade acompanha nossos filhos

Um novo ano, uma nova escola, nova professora e, para as crianças autistas, também uma nova acompanhante terapêutica. Se você está chegando no mundo do TEA agora e não faz ideia do que seja e isso pode deixar que eu explico.

No contexto escolar, quando se fala de crianças e adolescentes diagnosticados no Transtorno do Espectro Autista (TEA), existe um profissional designado especialmente para cuidar e zelar pelo desenvolvimento pleno dos nossos pequenos, ele se chama: acompanhante terapêutico, popularmente chamado de AT.

Como já dissemos aqui o autismo afeta o desenvolvimento de crianças em três áreas diferentes: comunicação, socialização e comportamento. É uma alteração no desenvolvimento neurológico que se inicia na infância e, dentre os diversos sinais característicos podemos citar interesses e atividades que tendem a ser restritos e repetitivos, dificuldade em entender comportamentos e regras sociais além de extrema rigidez cognitiva, o que dificulta, e muito, o aprendizado e a interação social; elementos essenciais para o bom desempenho escolar. As características inerentes ao TEA são uma barreira natural ao aprendizado e é função do acompanhante terapêutico ser o elo entre a criança TEA e o mundo exterior.

Num mundo ideal esse profissional deve entender de desenvolvimento infantil, transtornos de aprendizagem e do neurodesenvolvimento, bem como de pedagogia, análise do comportamento e mais que tudo: gostar de crianças. Empatia, cuidado e carinho devem permear todo o processo de alfabetização, a vontade da criança deve ser sempre levada em conta, ela deve ser ouvida e sua vontade respeitada.É isso, o mínimo, que toda mãe espera ao deixar seu filho na escola.

As mamães de crianças autistas tem muitas leis a seu favor e uma delas é a Lei Berenice Piana é, como é conhecida a Lei Nº 12.764, de 2012, que institui os direitos dos autistas e suas famílias em diversas esferas sociais. Por meio desta legislação, pessoas no espectro são consideradas pessoas com deficiência para todos os efeitos legais e, portanto, têm os mesmos direitos assegurados. Assim sendo, toda escola tem o dever legal de disponibilizar acompanhantes terapêuticos para seus alunos TEA e zelar pelo bom desempenho desses profissionais junto aos aprendizes.

Aconteceu que na última semana, nossa cidade se viu no centro de uma polêmica: antes mesmo de iniciar seus trabalhos uma experiente profissional da educação, em vias de formalizar seu contrato com o Município, foi apontada como a autora de áudios vazados na internet onde estaria encorajando e até mesmo ensinando métodos para se agredir uma criança. Expressões como “dar uns tapas e socos” e até mesmo instruções de como derrubar a criança com uma rasteira são o assunto principal dos áudios que, segundo informações da Prefeitura de Divinópolis, acabaram por ser encaminhados para a Polícia Civil e seguem em investigação.

Mães, pais e toda a comunidade Autista do Brasil se horrorizaram e, mais uma vez, temem por suas crianças. Como nossos autistas têm tanta dificuldade em se comunicar e por vezes nem mesmo falam podem se proteger de adultos assim? Quem poderá defendê-los se quem deveria zelar por eles é quem os agride? Quem vai acreditar na verdadeira inclusão quando pessoas assim se dizem profissionais e se infiltram em nossas escolas e em nossos lares? Como vamos protegê-los da maldade que acompanha nossos filhos?

Comentários