Qual é a vontade de Deus?
AUGUSTO FIDELIS
Aos domingos, sempre pela manhã, alguém bate a campainha. Geralmente são mulheres, com a Bíblia na mão, ávidas por falar das suas convicções religiosas. No último fim de semana eram duas, mas esclareceram que a conversa não seria sobre religião, mas sobre a Bíblia, porque as pessoas precisam saber qual é a vontade de Deus.
Desde pequeno a gente aprende que a vontade de Deus está contida em dez preceitos, fáceis de serem entendidos. Se a humanidade os observasse, não teríamos assassinatos, traições, roubalheiras e trapaças. O primeiro diz que devemos amar a Deus sobre todas as coisas, porque ele é o Senhor. Por isso, diz o segundo mandamento, não se deve tomar seu santo nome em vão. No terceiro, o Senhor manda que se guarde o domingo e os dias de festa. Até aí, o Criador lembra às criaturas a importância dessa relação na vertical, para que possam ser ouvidas quando clamarem aos céus.
Mas como amar a Deus sobre todas as coisas se não o vemos? Para facilitar essa percepção, o Senhor ditou sete preceitos que tratam da relação na horizontal. É na prática do amor e do respeito entre os iguais que se pode amar o Criador. Jesus Cristo foi muito claro nesse aspecto: “Deixe sua oferenda diante do altar e vá primeiro reconciliar-se com o seu irmão”. O quarto preceito manda honrar pai e mãe. Infelizmente, nos dias de hoje, está cada vez pior a relação entre pais e filhos. Não matar, diz o quinto mandamento, porque tirar a vida do próximo é algo inconcebível. Somente o Criador, no tempo determinado, tem esse direito.
O sexto mandamento diz que não se pode cometer adultério. Este se atrela ao nono, que fala que não se pode desejar a mulher do próximo, o que inclui o marido da próxima. Nos últimos 20 anos, com o crescimento do número de televisores nos domicílios, e incentivo das novelas, uso da internet, o despudor cresceu em cem por cento. O nono mandamento é um dos mais desrespeitados na atualidade.
O sétimo mandamento é claro: não furtar. Sempre houve vagabundagem no Brasil, mas é difícil saber se em algum momento da história houve tanta roubalheira como agora. E o que é pior: não se trata apenas dos ladrões comuns. Praticam também a gatunagem aqueles que, por dever de ofício, deveriam zelar pelo bem comum.
O oitavo mandamento diz para não levantar falso testemunho. Por incrível que pareça, a mentira está institucionalizada no país. Todo mundo mente sem nenhum remorso, seja para limpar a própria barra ou de outrem, desde que possa levar alguma vantagem. O décimo mandamento, ao prescrever que não se pode desejar as coisas alheias, resume os sete da relação na horizontal. É essa mania de querer o que é dos outros a origem de todos os conflitos. Bem, o fardo do Senhor é leve, os homens e as mulheres é que o tornam pesado, por pura vaidade.