Presos em operação que apura fraudes contra instituições bancárias são soltos

Investigação segue com análise de documentos e outros materiais apreendidos

 

Da Redação

Todos os envolvidos presos na operação da Polícia Federal (PF) na quinta-feira, 11, contra lavagem de dinheiro e fraudes foram soltos no dia 16. Segundo apurou o Agora, a prisão temporária era de cinco dias e o órgão não solicitou a prorrogação do prazo. O objetivo principal, conforme afirmou a PF no dia da ação, era apreender documentos cruciais à investigação, bem como coletar depoimentos dos supostos envolvidos no esquema. A investigação continua e o material apreendido está em análise.

Ao todo, 12 pessoas foram presas na região metropolitana de Belo Horizonte, Contagem e Lauro de Freitas, na Bahia. Em Divinópolis, os agentes prenderam um casal, dono de uma rede de postos de combustíveis com cerca de 30 unidades na cidade e região. Segundo o órgão, as provas colhidas até o momento apontam a rede como pontos de lavagem de dinheiro de um golpe previamente aplicado contra instituições bancárias. No dia, eles foram ouvidos e transferidos para o presídio Floramar.

 

Prisão

Na coletiva da operação, o chefe da Polícia Federal, delegado Daniel Souza Silva, disse que o foco da fase em andamento era combater a lavagem de dinheiro, com o objetivo de ressarcir os bancos afetados pelas fraudes. Todos os suspeitos presos foram ouvidos e conduzidos ao sistema penitenciário, onde permaneceram por cinco dias à disposição da Justiça para novos questionamentos.

— O fundamento das prisões foi justamente para coletar provas — explicou o chefe da PF.

 

Caso

A investigação começou em julho de 2020, quando a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) em Minas Gerais repassou informações sobre a obtenção de documentos falsos para aplicação de golpes em instituições financeiras a partir de registros fraudulentos no sistema da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

Basicamente, os criminosos usavam documentos oficiais de identificação, porém com informações falsas ‒ com exceção da foto ‒ para abrir empresas fantasmas, por meio das quais solicitavam crédito e empréstimos a bancos. Quando conseguiam valores significativos, desapareciam e iniciavam o processo de lavagem do dinheiro obtido. 

Responsável pelo caso, o delegado Felipe Baeta detalhou o processo. 

— Eles obtinham documentos ideologicamente falsos. O documento era materialmente verdadeiro. E, a partir disso, criavam empresas para aplicar golpes de estelionato contra instituições financeiras [como solicitações de empréstimos]. Com a obtenção desses valores, de forma fraudulenta, eles faziam a lavagem do dinheiro em uma grande rede de postos de combustíveis e também no mercado imobiliário — esclareceu.

Quando os bancos cobravam o valor, não era possível encontrar nem a empresa, por ser fantasma, nem o solicitante, visto a inveracidade dos dados.

 

Crimes

As fraudes começaram por volta de 2016 e, após conseguirem valores substanciais, o foco dos suspeitos passou a ser a lavagem do dinheiro.

— A fraude começou há quatro, cinco anos atrás. Feito isso, eles abandonaram as fraudes e passaram a lavar o dinheiro que foi ganhando nessas fraudes. A rede de postos de combustíveis foi crescendo — detalhou o delegado Daniel Souza.

Na Bahia, por exemplo, os suspeitos de participação no esquema, presos na operação, são dois cunhados (e suas esposas) do casal detido em Divinópolis. Lá, o dinheiro era lavado por meio de uma imobiliária e imóveis. 

Os demais suspeitos identificados são falsários, responsáveis por fornecer contas e bens para a dispersão do patrimônio.

Até o momento, foi identificado o envolvimento de 47 pessoas físicas, 38 empresas criadas para aplicação de golpes e mais de 300 documentos fraudulentos, entre CPFs, RGs, carteiras de motoristas, contratos e outros.

Os bancos, inclusive, tiveram dificuldade em identificar as fraudes e entender que se tratava do mesmo grupo. Ainda não há cálculo específico de quantas fraudes foram realizadas. 

— Pode ter ficado muita coisa por fora — detalhou.

Foram bloqueados cerca de R$ 12 milhões em bens, como imóveis e carretas de transporte de combustíveis, para ressarcimentos das fraudes. 

 

Receita

A participação da Receita Federal é para a coleta e cruzamento de dados, bem como questões de sonegação fiscal. No caso da rede de postos de combustíveis, foi identificado indícios de sonegação tributária. Segundo o auditor fiscal da RF, Michael Lopes, além dos bancos, prejudicados diretamente, o mercado do setor foi afetado, bem como os cidadãos. 

— Isso é uma concorrência desleal. Quando se tem um grupo com sonegação fiscal, ele consegue vender seu produto por um valor mais baixo, lesando os seus concorrentes. Se ele está sonegando e os impostos servem para saúde, educação e segurança pública automaticamente tem essa questão — explicou o auditor fiscal da  Receita, Michael Lopes.

 

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