Prefeito e vereador são denunciados por lei que autoriza permuta de lotes

Texto aprovado pela Câmara trocou 14 áreas pelo terreno em frente ao estádio do Guarani; acusação no MP pode ter vindo de outro vereador

 

Bruno Bueno

O prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (PSC), e o líder do governo na Câmara, Edsom Sousa (Cidadania), foram denunciados ao Ministério Público. O motivo é a Lei 9.096/2022, sancionada em setembro pelo chefe do Executivo e articulada pelo vereador, que cedeu 14 lotes do Município para uma empresa da iniciativa privada em troca do terreno em frente ao estádio do Guarani. 

A justificativa do Executivo partiu da necessidade de melhorias no local que, segundo eles, estava abandonado pela empresa. Os trâmites no Cartório ainda estavam sendo feitos e, portanto, a secretaria não estava autorizada a realizar qualquer serviço na região.

De acordo com Edsom Sousa, a denúncia, que interrompeu o processo de permuta, veio do gabinete de outro vereador. O líder do governo preferiu não citar o nome do colega. 

Justificativa

Edsom argumenta que o terreno é palco de roubos, furtos, prostituição e assassinato: “o local é vergonhoso, extremamente perigoso e necessita urgentemente de uma urbanização”, explica. A luta para permutar a área, segundo o vereador, já acontecia há duas décadas. 

— Urbanizar o local, tornando-se não somente um estacionamento para os jogos, mas uma área multiuso de eventos sociais, de lazer e de esportes: a Esplanada do Tamanduá — explica.

Durante a votação do projeto, em agosto, vereadores contrários à proposta argumentaram que os lotes cedidos para a empresa estão localizados no bairro Chanadour, local próximo à construção do Hospital Regional de Divinópolis, ou seja, iriam se valorizar com a conclusão da obra, tornando a negociação lesiva ao Município.

O líder do governo informou que a denúncia obriga que a empresa faça um muro e passeio no terreno. A medida, relatou o vereador, acaba com o estacionamento dos jogos do Guarani, inviabiliza a presença da torcida e fecha completamente o acesso dos moradores à rua Epitácio Pessoa.

Críticas

Procurado pela reportagem, Edsom Sousa declarou ser favorável à investigação, mas criticou o processo dos fatos.

— É um sentimento de nojo com essa conduta. Eu tenho respeito pelo Ministério Público, mas o que aconteceu foi inadmissível. O projeto ficou  mais de um mês na Câmara e nenhum vereador fez uma emenda. Ninguém perguntou ou fez requerimento. A maioria não participou da audiência pública que eu fiz. Nós chamamos o MP, o conselho, o secretário, a PM e o presidente do bairro Porto velho — argumenta.

A área próxima ao estádio do Guarani é, em sua avaliação, a “pior de Divinópolis” e precisa de mudanças. Ele defende que a ação faz parte de uma iniciativa para “derrubar” o prefeito. 

— Os vereadores, como fiscais da lei, deveriam provocar o bom debate. Ao invés disso, de uma forma covarde, antes do projeto ser votado, usaram o gabinete no horário de serviço para provocar MP. As forças invisíveis retrógradas e conservadoras de Divinópolis estão por trás disso — afirma.

Sem citar nomes, Edsom garante que a denúncia partiu do gabinete de outro vereador da Câmara. O líder do governo não descarta pedir a cassação do colega.

— Estão circulando nos bastidores que vão processar o promotor porque a denúncia deveria ter sido nominata. Temos que aplaudir o MP. Que eles investiguem tudo. (...)  Eu, como corregedor de Ética da Câmara, tomarei providências. Talvez se enquadre no pedido de cassação de um vereador — ressalta.

Por fim, ele voltou a reforçar seu apoio à investigação. Ele também garantiu que busca a verdade dos fatos.

— O Gleidson trocou 3 mil metros em uma área distante por 10 mil metros em frente ao campo do Guarani, sendo que mais de 5 mil são edificáveis. Enquanto tiver uma dúvida sobre o comportamento do governo ou desse vereador, vamos retirar tudo. Queremos a verdade — finaliza.

 

 






Comentários