Preço da irresponsabilidade

Preço da irresponsabilidade

Os mineiros assistiram, incrédulos, ao desprendimento de uma rocha, nos Cânions de Capitólio, atingindo quatro lanchas, que terminou na morte de 10 pessoas e em mais 35 feridos. O acidente chocou o país e o mundo, e trouxe à tona um tema que é debatido há anos: fiscalização e imprudência. Tudo isso se torna mais intenso, mais doloroso, quando especialistas no assunto afirmam que a tragédia poderia ter sido evitada. Mais revoltante ao pensar que essas 10 pessoas que tiveram suas vidas ceifadas pelo “acaso” poderiam estar em suas casas, com suas famílias, fazendo planos para o próximo fim de semana, sorrindo, mandando bom dia para seus amigos e familiares, simplesmente vivendo. Por mais que os seres humanos sejam finitos e que todos estejam sujeitos a partir a qualquer momento, ainda é difícil aceitar as mortes ocorridas no último sábado, principalmente porque, conforme especialistas, poderiam ter sido evitadas. 

O que mais entristece, choca e traz desconsolo nesta situação é pensar que só depois desse acidente as autoridades locais e estaduais voltaram o olhar para um problema que estava ali, bem debaixo dos olhos de qualquer um. Quem já foi a Capitólio conheceu as belezas da cidade, dos Cânions, do chamado “mar de Minas”. E é impossível não se apaixonar. Impossível também não ir à cidade e não fazer o tradicional passeio de lancha. Um lugar cheio de boas memórias se transformou em um lugar de tristeza, de pesadelo, e isso ficará marcado para toda a eternidade por um simples motivo: falta de fiscalização. Sim! Faltou um olhar mais responsável, técnico e ético daqueles que são eleitos para representar o povo. Dentro desse “olhar mais técnico” não é incluído um “relatório geológico que indicasse uma previsão em que a rocha iria se desprender”, mas o olhar técnico e também humano, de proibir passeios de lancha com o tempo chuvoso, com as chuvas assolando Minas Gerais desde o início da última semana. 

É fato que tentar achar um culpado para essa tragédia neste momento, não diminui a dor das famílias e daqueles que se solidarizaram com o acidente, mas encontrar a sequência de erros que culminou na morte dessas pessoas evita que mais pessoas sejam vítimas da falta de fiscalização e da imprudência. Por aqui, no Brasil, infelizmente, como não existe planejamento, fiscalização e organização, muita gente paga com a vida uma conta que não é sua. Isso é cruel, mas é real. Pensar que o adolescente de 14 anos, por exemplo, poderia estar conversando com os seus amigos. É de se fazer a pergunta: até quando o povo brasileiro viverá assim? Até quando será comandado sem qualquer tipo de planejamento, ou organização? Até quando o preço da irresponsabilidade será pago com vidas? E também, até quando a própria população será negligente? Vale lembrar que, na maioria dos casos, essa culpa tem que  ser dividida. 

É tudo muito triste, muito intenso, muito doloroso. É mais do que revoltante. É desesperador. É a certeza de  abandono à nossa própria sorte.

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