Políticos repercutem vitória de Lula e derrota de Bolsonaro

Atual presidente venceu disputa na cidade, mas não consegui reverter cenário em Minas

 

Matheus Augusto

Apesar de Jair Bolsonaro (PL) ter liderado a disputa presidencial em Divinópolis, mas saiu derrotado nacionalmente. Pelas ruas, apoiadores de Lula (PT) foram às ruas celebrar a apertada vitória do petista. Buzinas, fogos, jingles e a cor vermelha preencheram os pontos de concentração. Enquanto isso, outras lideranças divinopolitanas lamentaram o resultado. 

União

Deputado federal reeleito para o terceiro mandato consecutivo, Domingos Sávio (PL) se manifestou em suas redes sociais logo após o resultado. Sob o som de buzinas e foguetes, ele conta ter questionado a si próprio e a Deus sobre o significado da vitória do Partido dos Trabalhadores e voltou a criticar a sigla. 

— De alguma forma, eu senti a resposta. Nós temos que ter a capacidade não só de ganhar, mas de melhorar esse país. Eles, como oposição, mentiram, mentiram, mentiram. Enganaram nosso povo. Vamos ver como eles vão fazer — afirma.

O político, que assumiu uma cadeira no Congresso em 2011, quando Dilma (PT) era presidente, avaliou negativamente o histórico do partido à frente do país. 

— Eu quero o melhor para o Brasil. Você também quer. A gente não chega a torcer por eles [governo do PT], mas a gente torce pelo Brasil. Porém sabemos que eles não querem o melhor para o Brasil pela história deles — pondera.

Domingos pediu aos apoiadores de Bolsonaro que se mantenham unidos, mesmo com a derrota.

— E, agora, mais do que nunca, nós temos que nos manter unidos e com a capacidade de dizer que não vamos nos submeter a essa atitude absurda de colocar nosso país submisso a interesses que não são cristão, da família, da pátria e da liberdade. Vamos respeitar a democracia, vamos continuar defendendo essa bandeira — apontou. 

Com a voz embargada, o deputado voltou a mencionar os valores repetidos durante a campanha do seu companheiro de partido e falou sobre a importância de reconhecer, na derrota, a oportunidade 

— O filho teu não foge à luta, e a luta não é só ganhar. Às vezes, um resultado como esse nos faz crescer e vamos crescer na defesa do que é justo. Vamos nos manter unidos em defesa de Deus, da pátria, da família e da liberdade — concluiu. 

Senador

Cleitinho iniciou o ano sonhando em ser senador, mas enfrentando resistência política de partidos e coligações. O cenário mudou quando Bolsonaro declarou apoio ao divinopolitano. Lado a lado, percorreram diversos municípios mineiros. Quando assumir a cadeira de senador, Cleitinho terá pela frente um governo petista, que reconhece como legítimo.

— Sempre vou respeitar a democracia — argumentou. 

Apesar disso, prometeu continuar seu trabalho de fiscalização contra a corrupção

— [O crime] compensava, mas não vai compensar mais, porque vocês me colocaram como senador e eu tenho a obrigação de fiscalizar e cobrar — ressaltou. 

Ele afastou, ainda, as declarações de que agora, sob a gestão de Lula, o país se tornará uma Venezuela. 

— Vai ter que passar por cima de mim. Acabou a patifaria neste país, não vamos aceitar — afirmou.

Cleitinho afirma que o ‘capitão’, em referência ao atual presidente, deixa o Palácio do Planalto, mas ficam seus ‘soldados’.

— Você [Bolsonaro] fez vários soldados para poder representar a Nação e eu sou um dos soldados que está lá para representar todo povo brasileiro — classificou.

Apoio local

Apoiador de Bolsonaro e deputado estadual eleito, o vereador Eduardo Azevedo (PSC) lamentou o resultado, mas elogiou a gestão do atual presidente.

— Capitão, você resgatou o patriotismo no Brasil, obrigado Jair Messias Bolsonaro por ter sido o presidente que mudou a história do país e, por isso, o senso de missão explode em meu coração, conte com minha lealdade sempre — publicou. 

Apesar da derrota de Bolsonaro em Minas, ele liderou a disputa em Divinópolis, tendo recebido 76.341 votos (55,64%), enquanto Lula obteve 60.868 (44,36%).

— Aqui, em Divinópolis, conseguimos fazer o dever de casa e aumentar bastante a votação do presidente no segundo turno. Aqui bandido não se cria — frisou Azevedo. 

O vereador voltou a se pronunciar através de suas redes. Ele se comprometeu a “percorrer incansavelmente” Minas Gerais, especialmente nas cidades onde a esquerda saiu vitoriosa, e ser a “voz do conservador contra a frente doutrinária do PT”. 

— Nós precisamos ter esperança porque quando você volta no passado, há dez anos atrás, a pessoa só ouvia falar de PT e PSDB. A direita está surgindo, crescendo e está forte. (...) E, desde já, quanto ao elemento que foi eleito ontem, declaro ser oposição a ele — afirmou.

Para Azevedo, a vitória de Lula significa um “projeto de poder, não de Brasil”.

O contraponto

No próximo ano, quando Lula assumir, dois vereadores de posicionamentos antagonistas deixam a Câmara em direção à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Enquanto Eduardo defendeu a reeleição do atual presidente, Lohanna França (PV) se tornou uma das vozes políticas mais ativas no apoio a Lula. Após a divulgação do resultado, ela participou das celebrações pela cidade. 

— O Brasil feliz de novo! Vencemos! Votei pela democracia, pelas universidades, pelas mulheres, pela juventude, pelo meio ambiente, pelas vítimas da covid, pelo Brasil que quero deixar para nossas crianças! — declarou.

Em outra publicação, ela questionou os simpatizantes do presidente que postaram mensagens de luto. 

— Esse tanto de Bolsonarista postando que está de luto… Eles ficaram de luto pelos mais de 600 mil mortos da pandemia? — questionou.

Com o fim da eleição, defende a parlamentar, o momento é de unir forças em prol de pautas urgentes. 

— (...) é hora de lembrar o que Lula disse ontem: fora da campanha não há dois Brasis. O país é um só. Existem questões urgentes na economia, na educação, na saúde e em outras áreas. A fome e a doença não esperam: a vida é aqui e agora — justificou.

A vereadora pregou união para além do espectro ideológico. 

— Convido os eleitores do presidente Bolsonaro a se juntarem ao esforço de fazer pelo país aquilo que é urgente. Cabe, portanto, a cada cidadão bolsonarista fazer valer agora o slogan de que o Brasil está acima de todos. De fato, eu acredito que está. Para isso, o momento é de criar a frente mais ampla possível, não de investir nas nossas divisões. Sobretudo para Divinópolis e região, será preciso investir naquilo que nos une e não no que nos diferencia. Será preciso estender a mão a todos os mandatários que possam fazer aquilo que o povo espera — destacou. 

 Aliado de longa data

Uma das lideranças que ganhou protagonismo local em apoio a Lula foi o ex-prefeito Demetrius Pereira (PSB). A relação entre os dois é marcada pela articulação na construção da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Em encontro recente com Lula em Belo Horizonte, Demetrius reforçou seu apoio ao então candidato, agora eleito, recordou a visita do petista à Divinópolis e comentou sobre as demandas da cidade, em especial o Hospital Regional. 

Demetrius prevê desafios devido à polarização, mas acredita na capacidade de diálogo e unificação do ex-presidente. 

— Nós conseguimos demonstrar à população de Divinópolis que é possível manifestar pacificamente. A comemoração pela vitória do presidente eleito foi linda. Parabéns a ele e desejo toda sorte do mundo na  sua gestão, que todos sabem que não será fácil. Mas acredito que ele vai conseguir pacificar a nação porque é capaz disso — declarou o apoiador. 

Estado

Em Minas, único estado do Sudeste onde Lula venceu, o governador Romeu Zema (Novo) também reconheceu a vitória do petista. Apesar de ter sido um dos principais aliados de Bolsonaro no estado, com partição ativa na campanha neste segundo turno, Zema se disse aberto ao diálogo. 

— Com o resultado da eleição nacional, desejo sucesso ao presidente eleito. Seguirei cobrando que Minas seja prioridade, como merece. Estarei aberto ao diálogo para que o Brasil possa crescer com trabalho, honestidade e respeito. Que Deus abençoe nossa nação — escreveu em suas redes sociais. 

 

 

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