Palavras ao vento

Editorial

Se tem uma coisa que o político brasileiro está acostumado a fazer é colocar nariz de palhaço na cara do povo. Aqui, as coisas funcionam a cada dois anos, quando as eleições – locais ou majoritárias – se aproximam. Antes disso é só promessa e mais nada. Entra ano, sai ano, entra administração, sai, vence o mandato e as novelas são as mesmas, não mudam praticamente nada. Em Divinópolis, existem alguns capítulos pontuais que a população acompanha há anos, como o pagamento do gatilho salarial dos servidores públicos municipais, a situação da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Padre Roberto, a conclusão das obras da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Rio Itapecerica, o término da construção do Hospital Público Regional Divino Espírito Santo, a duplicação da MG-050, as taxas do pedágio, a infraestrutura dos bairros carentes e outras situações bem conhecidas. 

Não é por acaso que Divinópolis é conhecida como reduto das promessas eleitorais, o local perfeito para um político conseguir votos com palavras que são simplesmente jogadas ao vento. A cada dois anos, os candidatos fazem os mais belos discursos e as mais lindas promessas. Vão às feiras, comem pastel, cumprimentam o povo, fazem das regiões carentes seus pontos de paradas e, nos últimos anos, acrescentaram os vídeos ‒ que tem para o gosto de qualquer freguesia. Prometem obras feitas, saúde em dia,  asfalto, mesmo sem ter a estrutura de esgoto para isso – a maioria acredita –, escolas em perfeito estado de funcionamento, valorização dos servidores e por aí vai. Tem até candidato à Câmara garantindo obras que são realizadas somente pela Prefeitura. Promessas não faltam. Dá até orgulho de assistir os vídeos gravados pelos ditos “representantes do povo”. Chega a dar uma pontinha de esperança de que, enfim, o povo vai eleger alguém qualificado o bastante para resolver os problemas da cidade. 

Doce – e amargo – engano. Pois basta chegar o 1º de janeiro do ano seguinte à eleição para que tudo volte aos conformes. Uma operação tapa-buraco aqui, outra ali, algumas gravações com velhos bordões e pronto, tudo volta ao normal, exatamente como estava antes das eleições. Afinal, a quem interessa resolver os problemas da cidade, se das promessas saem uns bons votos? Para que dizer a verdade se ela não elege ninguém? Como dizer que não tem como cumprir a lei de gatilho salarial, se uma eleição é feita apenas de ilusão? E é assim, eleição após eleição. E foi assim que Divinopolis se tornou o paraíso das promessas, das palavras ao vento. 

E foi assim também que o Hospital Público se tornou um elefante branco, que as obras da ETE andam a passos de tartaruga, que os bairros longínquos aguardam pelo saneamento  básico há décadas e que tudo está do jeito que está. Pois, além de os políticos terem esta “habilidade”, o povo se deixa ser feito de bobo e parece até gostar de sustentar esta situação, que não faz nada menos do que deixar o país, o estado e Divinópolis parados no tempo, sempre à espera de um milagre ‒ que não virá, certamente, se não houver muito trabalho, honestidade em demasia, o fim da letargia da população e menos promessas. Enquanto isso não acontece, prevalece a conhecida frase: o povo tem os políticos que merece.

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