OS BIS DE JULHO

Inocêncio Nóbrega

Mal saímos da condição de território-colônia e mergulhamos numa crise, diria institucional, motivada por fatores diversos. A guinada do então Príncipe Regente, que sinalizava liberal, cedeu lugar a uma política de retranca, de estilo centralizador, com nítidos propósitos de retorno a Portugal. Discutia-se na Assembleia Constituinte, presidida pelo Andrada Antônio Carlos, ao lado das demais, a proposta do pernambucano Moniz Tavares de que os portugueses estabelecidos no Brasil deveriam ser expulsos, no que teria irritado Dom Pedro I. Misturou-se ao alijamento do “Gabinete de José Bonifácio”. Como se não bastasse a combatividade da imprensa, que dava cobertura aos trabalhos parlamentares, bem como as críticas ao monarca, na condução dos interesses nacionais.

O Dois de Julho de 1823, de perto vivia esse clima, embora sem conexão ao de ordem cívico-militar, que se instalara na Bahia, reflexo do Sete de Setembro anterior. O governo luso insistia em preservar seus domínios a partir do limite-sul baiano ao extremo norte do Grão-Pará. Às duas regiões confiou suas ações aos experimentados militares de guerra, Madeira de Melo para o perímetro do Nordeste. Na outra ponta, pressionado pelos nossos soldados, exatamente no mesmo mês, dia 31, semelhante revés sofre o major João Fidié, que sob total apresenta incondicional rendição à Junta Governativa de Caxias, Maranhão.   

O Recôncavo Baiano, especialmente, capitaliza o glorioso e histórico feito, nesse Estado. Em 1973, seus 150 anos foram comemorados com os estilos que a ditadura permitia. Jornais locais, “A Tarde”, “Diário de Notícias” e “Tribuna da Bahia” tentaram, com suas matérias, amenizar o baixo astral da população, visível ante as imagens publicadas, segundo as quais o general Médici, cercado de engravatadas autoridades e pessoas fardadas, mantinha-se equidistante da generosa massa popular.  Sabia-se que naqueles instantes muitos patriotas foram obrigados a se submeter às brutais torturas, vários procurando o exílio ou mortos, impedidos, naturalmente, dele participarem, a exemplo do Sesquicentenário da Independência, de 1972.

Este Bicentenário traz toda diferença, com o presidente Lula prestigiando o evento, sendo ovacionado em contagiante civismo. Novos tempos, nem incerteza do rumo político, de 1823, nem a equivocada direção imposta ao País, em 1964, decorrente de Golpe de Estado, mas o predomínio da democracia e do Estado de Direito. É preciso que somemos as duas vitórias e façamos uma única festa, que seria de todo Nordeste, em particular, para ufania da Pátria. Em respeito a uma conquista em comum, ao Exército Patriótico aglutinar-se-iam muito além dos 10 mil combatentes, entre homens e mulheres, a ele atribuídos. Dois-bi, uma só efeméride.

Jornalista

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