Oito cidades da região apresentaram água imprópria, diz Ministério da Saúde

Divinópolis teve boa qualidade; levantamento reuniu informações de 2018 a 2020 e substâncias que podem causar câncer

 

Bruno Bueno

Oito cidades da região Centro-Oeste de Minas Gerais apresentaram água imprópria. A informação é do levantamento realizado pelo Ministério da Saúde (MS) e detalhado pelo site Repórter Brasil (RB) nesta semana. Os dados foram coletados entre 2018 e 2020.

Com os dados do site RB, que disponibilizou o mapa da água contaminada, o Agora realizou um levantamento para saber a qualidade hídrica dos 37 principais municípios da região. De acordo com os dados, oito cidades foram reprovadas no teste e registraram, ao menos uma vez, substâncias impróprias que podem, inclusive, causar doenças crônicas, como câncer. São elas: Abaeté, Cláudio, Córrego Danta, Martinho Campos, Moema, Pedra do Indaiá, Perdigão e Pitangui.

 

Municípios

A cidade de Cláudio registrou a presença de mercúrio na água. O material é classificado como possivelmente cancerígeno pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), devido ao aparecimento de tumores de estômago, na tireoide e renais em animais. A mesma substância foi encontrada em Pedra do Indaiá, que também registrou a presença de chumbo, material classificado como provavelmente cancerígeno para o ser humano, pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc).

Os municípios de Perdigão e Moema registraram a presença de trihalometanos no setor hídrico. A substância faz parte de um grupo de compostos químicos e orgânicos que derivam do metano. Ele inclui substâncias como o clorofórmio, classificado como possivelmente cancerígeno pela Iarc.

O levantamento encontrou a substância de antimônio na água de Abaeté. O material também é classificado como possivelmente cancerígeno pela Iarc. Os sais solúveis de antimônio, após serem ingeridos, exercem forte efeito irritante na mucosa gástrica e provocam vômito, além de cólica, diarreia e toxicidade cardíaca. A mesma substância foi encontrada em Martinho Campos, que também registrou a presença de níquel, material cancerígeno que é utilizado  na fabricação de aço inoxidável e na produção de ligas, baterias alcalinas, moedas e outros.

 

Lista

A lista prossegue com a cidade de Pitangui, que registrou a presença de nitrito como N. O material é classificado como provavelmente cancerígeno para o ser humano pela Iarc. Ele é utilizado como conservante de carnes e embutidos, e também é encontrado na água potável, no solo, nos vegetais e em fertilizantes, o que aumenta a exposição dos humanos a essa substância.

Córrego Danta, município localizado a 154 km de Divinópolis, registrou a substância cromo na água. De acordo com a pesquisa, o cromo VI é classificado como cancerígeno para o ser humano pela Iarc, órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele é utilizado principalmente na fabricação de ligas metálicas e estruturas da construção civil. Os seus compostos possuem diversos usos industriais, como tratamento de couro, preservante de madeira e na fabricação de tintas e pigmentos.

 

Outros municípios

De acordo com o levantamento, 14 municípios não registraram substâncias impróprias na água durante a pesquisa. São eles: Divinópolis, Carmo do Cajuru, Conceição do Pará, Itaúna, Japaraíba, Nova Serrana, Santo Antônio do Monte, São Gonçalo do Pará, Arcos, Bambuí, Dores do Indaiá, Luz, Oliveira e Carmópolis de Minas.

— Entre 2018 e 2020, na água de Divinópolis, todas as substâncias estavam dentro do limite de segurança — diz a pesquisa.

O restante dos municípios pesquisados pelo Agora não tiveram a água analisada pela pesquisa do MS. De acordo com o levantamento feito pelo RB, essas cidades, assim como várias outras no país, não enviaram informações ou forneceram dados inconsistentes sobre o setor hídrico na cidade.

São eles: Carmo da Mata, Itapecerica, Itatiaiuçu, Lagoa da Prata, Leandro Ferreira, São Sebastião do Oeste, Formiga, Córrego Fundo, Bom Despacho, Estrela do Indaiá, Pompéu, Pará de Minas, Igaratinga e Onça de Pitangui.

 

Dados

De acordo com o site RB, os dados do mapa são resultados de testes feitos pelas empresas e instituições responsáveis pelo abastecimento. Eles integram a base de controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, o Sisagua, do Ministério da Saúde. 

— A água tratada pode carregar agrotóxicos e outras substâncias químicas e radioativas que são perigosas para a saúde quando acima dos limites fixados pelo Ministério da Saúde. O mapa revela onde ocorreu esse tipo de contaminação. As informações são de testes feitos pelas empresas de abastecimento que foram enviados ao Sisagua, banco de dados do Ministério da Saúde — destaca.

Os testes são feitos pelas instituições responsáveis pelo abastecimento e enviados ao Sisagua. Ainda conforme a pesquisa, alguns especialistas já pesquisam sobre possíveis riscos oferecidos pela mistura de diferentes substâncias na água, mesmo que todas estejam dentro do limite. 

— A Europa já fixou um limite para a soma de substâncias. Isso ainda não existe no Brasil. Quando essas substâncias estão acima do limite, a água é considerada imprópria para o consumo. Nesses casos, as instituições de abastecimento deveriam informar a população sobre o problema, assim como sobre as medidas tomadas para resolvê-lo — pontua.

 

Riscos e grupos

Os riscos de desenvolver doenças crônicas são maiores para quem bebe a água imprópria de forma contínua, ou seja, diversas vezes ao longo de meses ou anos. 

— Os critérios para fixar os limites de segurança para cada substância na água são do Ministério da Saúde, assim como a lista de substâncias que devem ser testadas na água de 2 a 4 vezes por ano — apontam os dados.

Os materiais registrados no mapa da água foram divididos em grupos distintos. As “substâncias com os maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer” são as que têm maior evidência de risco à saúde. Elas são listadas como “reconhecidamente” ou “provavelmente” cancerígenas, disruptoras endócrinas ou causadoras de mutação genética. 

— O segundo grupo, “substâncias que geram riscos à saúde”, reúne todas as outras que também oferecem risco, segundo a literatura internacional e o Ministério da Saúde. Entre elas estão as "possivelmente" cancerígenas", além das que podem causar doenças renais, cardíacas, respiratórias e alteração no sistema nervoso central e periférico — finaliza.

 

Copasa

A reportagem entrou em contato com a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), responsável pelo abastecimento de água dos municípios citados. De acordo com a empresa, a produção hídrica está dentro dos padrões.

— Em resposta à reportagem recém-publicada sobre o Mapa da Água no país pelo Repórter Brasil, respeitado veículo de comunicação pautado por atuações nas áreas dos direitos fundamentais dos cidadãos e do meio-ambiente, a Copasa vem esclarecer que produz e distribui a água tratada para seus usuários em estrita obediência aos padrões de vigilância e potabilidade estabelecidos pela legislação vigente, conforme portaria GM/MS 888/2021 do Ministério da Saúde — afirmou.

Ainda conforme a resposta, a empresa está realizando um levantamento nos municípios abordados pela reportagem para evidenciar as observações registradas pelo jornal Repórter Brasil. 

— A Copasa tranquiliza todos os seus usuários, informando que a vigilância e o rigoroso controle da qualidade da água configuram-se como um processo valoroso para a empresa, razão pela qual salienta que a água tratada e distribuída se encontra dentro dos padrões de potabilidade, não representando quaisquer riscos à saúde das populações atendidas — disse.

A empresa também destacou que trabalha com centenas de laboratórios locais nas unidades operacionais para controlar e vigiar a qualidade da água. 

— De forma sistemática, resultados anômalos ocasionais nas análises de qualidade de água dão origem a novas campanhas amostrais, com a verificação do histórico geral de qualidade do sistema envolvido, inspeção sanitária para identificar eventuais causas e providências imediatas para a eliminação dessas causas e correção de problemas pontuais constatados — concluiu.

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