O silêncio

Editorial - O silêncio 

“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons.” Esta frase é atribuída a Martin Luther King e tem um valor inquestionável em qualquer tempo, século, década ou ano. E talvez nenhuma frase caia tão bem ao momento atual no Brasil. Hoje, o litro de gasolina está perto de chegar a R$ 7, se paga quase R$ 30 em um pacote de arroz, R$ 7 em um de feijão, R$ 45 pelo quilo da carne e R$ 100 pelo botijão de gás…  Entrar em um supermercado já não dá mais prazer, pois, a cada vez que se vai, tudo fica mais caro. Lutamos dia a dia, incansavelmente, para colocar a comida na mesa, para se ter o básico. E aqueles que ainda têm a oportunidade de lutar, de apenas substituir marcas podem-se dizer privilegiados, pois, para milhões de brasileiros, já não há nem mesmo o básico. O gás já foi substituído pelo fogão a lenha; no armário só tem o mínimo, quando tem. Hoje, enquanto milhões lutam pelo básico, outros milhões já voltaram para a linha extrema da pobreza, e o pior, apenas o silêncio reina. 

Um silêncio que chega a incomodar. Levantamos, pagamos um absurdo para sobreviver, e o que se escuta? Nada! E o mais desolador? Como diz aquele velho ditado: “quem cala consente”. Por quê? Por que os brasileiros não vão mais para as ruas? Por que não protestam pelo custo da gasolina? Por que não protestam pelo preço dos alimentos, do gás, do leite, do óleo de cozinha? Por que se calaram e resolveram aceitar tudo? Por que os bons se calaram? A sensação que se tem é que o povo resolveu ser “resiliente” do dia para noite. Resolveu simplesmente aceitar esta dura e cruel realidade. Esta dura e cruel realidade é que desmotiva, que causa descrença. Aquele povo que foi às ruas protestar em 2016, quando a gasolina custava R$ 2,80 o litro, não existe mais. O gigante adormeceu, está em coma e talvez nunca mais desperte deste sono profundo. O gigante se calou diante de aumentos salariais desproporcionais, da aprovação do aumento do fundo eleitoral ‒ safra bilionária ‒ diante dos altos preços. Simplesmente inerte diante de tudo. Além das altas nos preços, há os projetos de lei absurdos que são aprovados bem debaixo do nariz da população. Simplesmente nada. E, quando pensam que o “errado” acontece apenas em Brasília, o povo está muito enganado. Nesta semana, os vereadores de Divinópolis aprovaram o projeto de lei que autoriza a reeleição na Presidência da Câmara. Até então, esta prática era proibida. O presidente eleito cumpria dois anos de mandato e depois não podia concorrer à Presidência da Casa, como previsto no Regimento Interno. É legal? Sim. Mas não deixa de ser questionável. E, quando trata-se de “representantes do povo”, podemos desconfiar que por trás disso tem sempre algo a mais. Nada é feito de boas intenções. Aliás, já diz outro velho ditado: “De boas intenções, o inferno está lotado”. Enquanto tudo isso acontece, o povo permanece calado, parece que perdeu a voz. Segue em total letargia, sem grandes expectativas de acordar o gigante. Enquanto isso, nos quatro cantos do país, os responsáveis por tanto desrespeito com o povo ‒ detalhe, ele deixa ‒  seguem rindo à toa.

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