O silêncio vale ouro

Ômar Souki

O excesso de barulho aumenta nossos níveis de estresse, com efeitos negativos na saúde física e mental: doenças cardiovasculares, dores de cabeça, ansiedade, depressão e insônia.  Enquanto isso, o silêncio nos proporciona inúmeros benefícios: diminui a pressão arterial, melhora a concentração e o foco, diminui a aceleração do pensamento, estimula o crescimento dos neurônios, reduz o cortisol (hormônio do estresse), aumenta a criatividade, facilita o sono, encoraja a atenção plena.  

Aqui do meu escritório posso escutar alguns ruídos que se intercalam: vozes de vizinhos, trânsito ao longe, latidos distantes, movimentos no andar de cima etc.  Também saboreio intervalos de silêncio, não só livres dos sons externos, mas também vazios de quaisquer pensamentos alheios a este texto. Escrever para mim é um momento de silêncio — que não depende tanto da existência ou não de ruídos externos —, é um presente para o meu cérebro. Pois, além de diminuir o impacto dos estímulos auditivos que chegam de fora, faz com que o meu vazio interior seja preenchido somente por uma coisa: o assunto sobre o qual estou refletindo. Além de proporcionar-me satisfação pessoal, a imersão no silêncio criativo é também benéfica para minha saúde.

Luciano Bernardi, médico e músico, realizou em 2006 pesquisas que apontaram para o valor do silêncio. Ele percebeu que, nos momentos de descanso entre as canções, o cérebro humano reduz os níveis de estresse. “Cada crescendo destas músicas, um aumento gradual do volume, estimulava o corpo e levava ao estreitamento dos vasos sanguíneos abaixo da pele, aumentando a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos, além de provocar um aumento das taxas respiratórias. Por outro lado, os diminuendos, diminuição gradual do volume, causavam o relaxamento, diminuindo os batimentos cardíacos e diminuindo também a pressão sanguínea” (www.bbc.com, 23 de junho de 2009).

O psiquiatra Guilherme Spadini sugere que devemos inserir espaços silenciosos no nosso dia a dia: “O primeiro passo é tomar uma decisão. Decidir que quer cuidar mais de si. Reservar um tempo para desacelerar. Meditação é um bom caminho, talvez o que mais diretamente proponha o exercício do silêncio. Mas há opções indiretas. Alguns esportes, como natação, também convidam ao silêncio. A prática de escrever algo diariamente exige que se dedique algum tempo ao silêncio, organizando ideias” (www.consumidormoderno.com.br, 11 de novembro de 2020).

Isabelia López, filósofa, afirma que: “Durante a prática da meditação o estresse diminui e ocorrem outros ganhos a nível psicológico, pois ela também melhora a qualidade do sono, a memória, relaxa a mente, diminui a tensão muscular, entre outros. À medida que meditamos, podemos experimentar o escopo terapêutico do silêncio, incluindo a surpreendente regeneração dos neurônios” (www.melhorcomsaude.com.br, 27 de maio de 2020).

Não importa qual seja a nossa atividade, podemos decidir por algumas pausas estratégicas durante o dia. Tomar distância de nossas tarefas, respirar fundo e deixar os pensamentos passarem, sem nos apegarmos a eles. Mesmo nos ambientes urbanos encontramos espaços onde podemos acalmar nossos pensamentos, tais como igrejas e praças. À medida que cultivarmos o hábito do silêncio, sentiremos um aumento sensível em nossa produtividade e em nosso bem-estar.   

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