O que interessa é o resultado

O que interessa é o resultado

Laiz Soares

O hospital de campanha que será criado após as obras de adequação no saudoso Hospital Regional de Divinópolis virou um verdadeiro dramalhão mexicano. Ninguém aguenta mais ouvir histórias. Eu, pelo menos, toda vez que vejo alguma coisa, já fico com desânimo, porque sei que lá vem mais justificativas e problemas e nada de solução. É um jogando a culpa e o problema para o outro, cada hora uma versão, cada hora um problema novo, uma desculpa nova. Vão descobrindo novos entraves ao longo do processo. Ninguém parece entender direito como resolver. Vários atores envolvidos. Praticamente todos os políticos na nossa cidade, uma penca de deputados na Assembleia Legislativa  e o governador e sua equipe. Um monte de gente que ganha muito bem, gastando horas e horas de trabalho, e NADA de resultado. Se fosse no setor privado, em uma empresa séria, já estariam todos demitidos. 

É um tal de tirar o corpo fora e não assumir a responsabilidade, uma falação, uma barulhada, mas pegar para si a bucha e mover mundos e fundos para o negócio sair, ninguém faz. Todo mundo quer compartilhar o mérito de estar tentando. Mandou ofício, fez reunião. Isso é processo, é obrigação. O que me irrita na política é que processo é tratado como resultado. “O que importa é que eu fiz algo, tentei.” Isso é uma aberração. No setor privado (lá onde a maioria não sobreviveria por dias nem conseguiria ganhar os salários que ganha), não interessa se você se esforçou, bateu cabeça, fez 500 reuniões. Se você não conseguir resolver o problema e entregar o resultado, você está fora. Se vira e faz acontecer, caso contrário, vamos colocar alguém que resolverá o problema no seu lugar.  

Para mim, um grande drama na política e na gestão pública brasileira é justamente isso. Falta muito, na maioria dos políticos e gestores, pessoas capacitadas e com uma cultura de resultados. Uma cabeça totalmente focada na solução do problema. É o que chamamos no setor privado de “cabeça de dono”. É quando aquele funcionário na empresa age como se ele fosse o dono e está o tempo todo pensando em como resolver os problemas, como fazer as coisas darem certo. Ele não está comprometido com fazer somente a sua obrigação, ele está comprometido com o resultado final, e, se ele precisar, faz o trabalho dele e o dos colegas que não fizeram o seu para o resultado sair.

É o que chamamos de mindset (mentalidade) de excelência. Um colaborar assim vale por mais de 10 medianos/medíocres, que só estão ali para fazer sua obrigação, bater ponto e ganhar seu salário. Esse tipo de profissional geralmente tem muito sucesso na carreira e muitas vezes chega de fato a virar sócio de onde trabalha ou dono do próprio negócio. Nas maiores empresas do país, quem não pensa assim não consegue nem entrar. E, se entra, não dura muito tempo. Tudo isso para dizer que o que deveria interessar no caso do hospital é termos os leitos extras funcionando e pronto. 

Todo o processo técnico e político até que isso saia do papel não interessa à população e não muda nada na vida de ninguém. Quem está morrendo esperando UTI quer uma cama para deitar e um oxigênio para respirar. Isso deveria ser o suficiente para botar senso de urgência e tirar o sono de todos os atores políticos e técnicos envolvidos no processo para que toda a burocracia fosse resolvida o mais rápido possível. Chama todo mundo numa mesa, entende o problema, mapeia os riscos e gargalos que estão travando o processo, define papéis e responsáveis claros, determina prazo, faz um plano de ação corretivo e resolve isso logo. Agora, ficar nessa de “mandei e-mail, fulano falou que a culpa é do beltrano que não fez o cadastro” é postura de gente incompetente, despreparada, sem compromisso com a urgência de salvar a vida das pessoas para ontem. Um líder existe para, num momento desses, puxar para si o problema e fazer não só a parte que lhe cabe, mas agir e influenciar para que os outros também façam a sua parte, conduzindo a todos para o que interessa: o resultado esperado. Liderar parado pedindo e esperando a cooperação de todos como se o problema fosse se resolver sozinho não é liderar. 

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