O pano

O pano 

O léxico da língua portuguesa, assim como de toda língua viva, se forma e renova incessantemente. Com o passar do tempo e a evolução da sociedade, não só o léxico da língua portuguesa se renova, algumas expressões populares também. Recentemente, uma frase que caiu no gosto do povo é “passar pano”. A expressão significa “arrumar desculpas ou justificativas” para situações consideradas quase injustificáveis. Quem acompanha a política sabe – e chega a se espantar – com a capacidade que os agentes políticos têm de passar pano para determinadas ações e comportamentos de outras lideranças quando lhes convém. Em outras palavras, quando os parlamentares querem, o certo vira errado e o errado vira certo, desde que frutos sejam colhidos da situação em questão. Ou seja, a postura não está ligada à racionalidade, mas a proteger os aliados e manchar a reputação daqueles que se posicionam contrariamente. 

A necessidade de defender os semelhantes a todo custo não é uma particularidade de Divinópolis, isso é visto em nível federal e estadual. É possível afirmar que faz parte da cultura brasileira. É como dizem por aí, talvez tudo seja uma questão de ilusão. Talvez “a minha verdade não seja a sua verdade” e, enquanto isso, problemas continuam sem ser solucionados pelo Brasil. E é justamente nesse ponto que perguntamos: é possível sonhar em um país melhor quando os representantes do povo enxergam um problema de acordo com o que lhe convém? A resposta para essa pergunta está clara. 

A política precisa ser feita com base convicções, não em ciclo de amizades. Quem erra, seja na fala, no comportamento ou na ação, precisa lidar com as consequências e críticas. Não cabe aos demais tentar justificar as atitudes do colega. É o princípio básico da razoabilidade. Na administração pública, as políticas precisam ser elaboradas em prol da população, visando ao bem-estar e à solução de problemas. Quando há falhas, seja na saúde, educação, infraestrutura ou em outras áreas, os responsáveis precisam ser cobrados para que solucionem a demanda. A solução deve vir em forma de política, não justificativas vazias, culpando administrações passadas ou outras esferas de poder. 

Passar o pano é apenas mais um forma de justificar a existência e a permanência do problema, se esquivando, novamente, da elaboração de um plano para sua dissolução. No âmbito municipal, o mais próximo de nossa realidade, cabe à população cobrar os vereadores, e a eles articular, junto ao Executivo, fiscalização para sanar o gargalo. 

Nenhuma cidade precisa de agentes políticos com a única de finalidade de servir como escudo e advogado de prefeitos, governadores e outras lideranças. Tais chefes de estado já possuem todo um sistema à sua disposição. A discordância, desde que dentro dos limites constitucionais e éticos, é saudável para a democracia e para a construção de políticas públicas que atendam aos anseios de todos os envolvidos. 

O jeito é buscar mais pano, porque haja justificativa para tanto obstáculo que o povo brasileiro enfrenta diariamente. A verdade é que a decadência toma conta do Brasil. É fato que pelo menos a língua brasileira evolui e ganha novos conjuntos de palavras e expressões com o passar do tempo, enquanto a política brasileira continua parada no tempo e o povo esperando por evolução e melhorias. Tragam pano!

 

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