O mercado criou o Estado?

CREPÚSCULO DA LEI – Ano IV – LXXVII

O MERCADO CRIOU O ESTADO? 

Não. O estado criou o mercado.

Parece estar devidamente assentado que o estado moderno é uma sofisticada invenção burguesa. Aliás, bem assentado desde o século XVIII mediante a chancela de uma bestialidade europeia que os teóricos da história chamam – romanticamente – de “Revolução Francesa”.

Sob esse aspecto, o “modus hodierno” no qual esse estado CAPITALISTA recém-inventado precisa fazer fluir é na sua própria moeda, transformando-a em dinheiro oficial dentre tantas outras moedas. Muitas moedas existem e coexistem, mas dinheiro é apenas aquela moeda estabelecida pelo estado.

  Como o estado fortalece sua própria moeda como dinheiro? Como fazer crer que um papel escrito “200 reais” vale mais que um mesmo papel escrito “2 reais”?

Por meio dos impostos. 

              Na medida em que o estado cobra impostos mediante sua única moeda ele (o estado) fortalece-se, bem como o dinheiro que ele determinou por oficial. Considerando-se que é o próprio estado quem fabrica aquela moeda, parece indubitável e improvável que um estado venha a falir pela falta de sua própria moeda, ou seja, aquela que ele mesmo fabrica.

Significa que o estado não precisa diretamente dos impostos para sua existência, mas como seu próprio espaço de circulação. É na circulação do dinheiro (do estado) que ele (estado) se firma como instituição capitalista.

Evidentemente que faz parte dessa circulação a relação econômica com a iniciativa privada. Ela (iniciativa privada), sim, precisa diretamente do dinheiro do estado e vai criar ativos para ela, ao mesmo tempo que cria passivos para o estado – cada nota de dinheiro é uma dívida do estado com seu portador.

É nesse sentido que os gastos do governo precedem à arrecadação, ou seja, primeiro o governo distribui (seu) dinheiro no mercado, em seguida arrecada seu próprio dinheiro. Essa preexistência do dinheiro antes de sua circulação é que confirma a tese de que o estado não precisa dos impostos para se financiar. Na realidade, ele precisa dos impostos para existir na identidade da moeda que ele apresenta como dinheiro oficial.

Ora, então os impostos correspondem a um dinheiro retirado de circulação. Se o estado quer retirar mais dinheiro, aumenta impostos. Caso queira distribuir mais dinheiro, diminui impostos.

Nessa lógica do mercado capitalista, a dívida pública é necessário mecanismo de controle da moeda. É pura “balela” dizer que, por exemplo, “se não houver reforma da previdência não haverá dinheiro para pagar aposentados”. DINHEIRO SEMPRE TEM, pelo menos enquanto existir o estado. A grande preocupação do estado é em relação à moeda estrangeira, sobre a qual ele não (?) tem controle.

Uma outra preocupação do estado capitalista deveria ser em relação aos limites físicos da realidade produtiva concreta na comparação com o mundo dos ganhos e valores investidos e os depositados. 

Assim, se for tomado o PIB mundial (como referência), chegar-se-á à conclusão que ele (mundo real)  não consegue pagar os valores “existentes” no mundo do mercado, ou seja, existem muitos bilionários dotados de bilhões que, na realidade concreta, NÃO EXISTEM.

Essa é uma das razões pelas quais as legislações envolvendo crimes financeiros e contra a economia são PROPOSITALMENTE falhas. Essas falhas visam amenizar a desconfiança dos investidores em suas falcatruas, exatamente porque o capitalismo não passa disso mesmo, uma grande falcatrua.

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