O horror da guerra visto daqui (III)

CESAR VANUCCI 

 

A atuação magistral do Ministério das Relações exteriores do Brasil na ONU e demais plenários onde se debate o horrendo conflito do Oriente Médio, somada à impecável performance da nossa FAB e dos nossos diplomatas no repatriamento de compatriotas nas zonas conflagradas estão sendo objeto de compreensível louvação por parte da comunidade internacional. O tom pacifista das intervenções, a disposição solidária para com as partes alvejadas, o resoluto propósito de alcançar com eficácia os alvos pretendidos, evidenciados nas ações promovidas por esses nossos denodados patrícios, projetam admiravelmente a índole e o sentimento humanitário que povoam a alma nacional. 

  Todas as circunstâncias apontadas arrancam da memória velha de guerra deste escriba uma emblemática citação feita, há tempos, pelo famoso sociólogo italiano Domenico de Mais, recentemente falecido. Com efeito, falando de seu encantamento pela vocação humanista de nossa gente, ele assim se expressou: “Ninguém bombardearia as Torres Gêmeas, se elas estivessem localizadas no Brasil”.

   Voltemos. Agora, o foco das atenções para o horror da guerra ainda sem perspectivas de acabar, à hora em que redigimos esse texto. Deploravelmente o clamor humano e os apelos sensatos dos homens e mulheres de boa vontade nos mais diferentes rincões deste planeta azul para que cessem imediatamente a abominável porfia bélica não têm encontrado a acolhida almejada por parte dos contendores. O coro de vozes proclamando a necessidade da paz, a possibilidade de “pausas humanitárias”, a criação de corredores por onde possam chegar às multidões sitiadas artigos de subsistência básica, inclusive combustível para geradores dos hospitais colapsados, não conseguem sensibilizar “os senhores da guerra”. Como não conseguem igualmente convencer os setores engalfinhados no morticínio e destruição, da urgência da libertação de inocentes reféns e da interrupção dos disparos de mísseis. Os extremismos radicais recusam-se a pôr fim na violência, não importa a dimensão da catástrofe humanitária que se desdobra diante dos olhares perplexos de todos. A retórica exaltando a excelência da paz tem sido intensa, mas nenhuma atitude decisiva foi tomada ainda, passando-se da teoria para a prática. Minorias belicosas fazem prevalecer, sobre maiorias bem intencionadas e com lúcida compreensão da geopolítica concebida pelos amantes da paz, posições intolerantes, negacionistas, de primitivismo ideológico assustador. Tais minorias, de um lado, negam a existência legítima do Estado de Israel. De outro lado, fazem de tudo para que o Estado da Palestina não seja implantado. Desafiam, despudoradamente, abertamente, a ONU, o entendimento consensual das Nações.  Por tão execrável motivo os horripilantes dramas da guerra a que estamos assistindo, impotentes e angustiados, continuam, maleficamente para a condição humana, a se sobreporem às discussões acaloradas das mesas de negociações diplomáticas. É aí que as diferenças, pendências, tensões, divergências, deverão ser lançadas de maneira a se encontrar porta ampla de saída para a crise política e a tragédia humanitária que assolam uma parte do mundo sob o olhar permanente de todos os viventes, não importa sua nacionalidade, sua etnia, sua crença.

 Por derradeiro, uma palavra sugestiva do Papa Francisco: “O terror e a guerra só causam morte e destruição.”

 

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