O exercício de acreditar em si

Laiz Soares

O exercício de acreditar em si

Na última semana tivemos o marco histórico da primeira brasileira a chegar ao top 1 mundial do Spotify. Nos divertimos com os memes, com os mutirões para escutar a música “Envolver” e com a expectativa dessa conquista. 

Na sexta-feira, dia 25 de março, o hit “Envolver” bateu 6,3 milhões de visualizações em 24 horas, trazendo o primeiro lugar para Anitta. Para muitos, esse fato não passa de acontecimento no mundo da música, mas a profundidade dessa conquista é bem maior e cabe de inspiração para mulheres de todo o país.

Anitta começou no funk, um estilo de música periférico que vem da cultura negra e sofre preconceito até hoje, sendo desvalorizado pelos próprios brasileiros. A própria Anitta, Larissa Machado, também vem da periferia, nascida e criada em Honório Gurgel. Durante toda a sua carreira, ela escutou que não era boa o suficiente, teve sua música questionada, sua origem, sua aparência e seus sonhos.

Mesmo com todo o preconceito, desde o início da carreira, em 2010, levantou a bandeira do poder feminino em suas canções.  O empoderamento feminino é tema das músicas e da trajetória de Anitta na carreira nacional e internacional, e esse empoderamento vem de um exercício constante de entender seu valor. 

Na sociedade, nós, mulheres, enfrentamos desafios para  percebermos o nosso valor, pois em todos os lugares nos falam o contrário, assim como falaram com a Anitta.

Somos condicionadas a acharmos que não podemos e nem devemos incomodar os outros e muito menos demonstrar nossas opiniões, pois uma mulher precisa ser sempre educada, doce e afável. A sociedade dá muito mais liberdade ao homem e não há uma expectativa tão alta e tão rigorosa sobre como eles devem ser, se comportar, falar, agir e se vestir, quando se compara às expectativas e pressões impostas às mulheres.

O nível de cobranças e padrões de comportamentos que o mundo impõe aos homens é infinitamente menor do que o que se faz com as mulheres. É por isso que as mulheres estão sempre achando que nunca estão prontas o suficiente. Nunca estão devidamente preparadas para assumir um novo cargo, nunca estão suficientemente bonitas dentro do padrão, sempre buscando a perfeição em tudo que fazem e muitas vezes ficando frustradas e insatisfeitas mesmo quando fazem um excelente trabalho.

Um estudo da empresa de tecnologia HP em 2014 mostrou que as mulheres só se candidatam para uma vaga de trabalho se perceberem que possuem 100% dos requisitos descritos como necessários e condições que o empregador busca na oferta de emprego. Já os homens, ao contrário, se candidatam a vagas mesmo quando eles possuem 60% ou até menos das atribuições e requisitos técnicos descritos.

Essa constatação do mercado é tão forte que gerou demanda inclusive para atuação de novas empresas como a startup Se Candidate, Mulher!, uma iniciativa que ajuda, incentiva e encoraja as mulheres a se candidatarem em qualquer vaga de emprego ou promoção que elas quiserem baseado nessa pesquisa. 

Segundo um levantamento divulgado pelo LinkedIn, com base nos dados de mais de 610 milhões de membros da rede social em 200 países, as mulheres são 20% menos propensas a se candidatar a um emprego em comparação com os homens. Segundo especialistas, isso ocorre porque os meninos são, em geral, educados para ser ousados e correr riscos. Já as mulheres são encorajadas a ser sensíveis e a apostar no que é seguro.

Anitta, em toda a sua trajetória, ressaltou o seu valor e o valor de outras mulheres. É importante seguirmos esse exemplo, acreditar em si mesmo é um exercício diário. Continue firme e não deixe a síndrome do impostor influenciar seu potencial. 

 

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