O direito versos corações ofendidos

O Tribunal de Justiça de São Paulo condenou, na semana que passou, uma mulher a indenizar o pai de seus filhos por ter excluído ele e os familiares dele do batismo das crianças. Melhor, a mulher sequer informou o pai sobre o momento tão peculiar e importante da vida dos filhos. O processo tramita em segredo de justiça, razão pela qual as informações são soltas e impossibilita realizar profunda análise e atribuir juízo de valor, mas isso nos remete a diversas divagações. 

 

Posterior dada maturidade e experiência de vida, eu sigo acreditando que o direito não socorre a quem dorme, porém, independente dos direitos postos que devem, sim, ser reivindicados, acredito que há dadas coisas que vai muito além do jurídico, aliás, não me estranhem caros leitores, afirmo que na vida o direito é apenas a ponta do iceberg. 

 

As pessoas estratégicas que tendem ao poder natural de abrir portas para outra, sendo elas possuidoras ou não de títulos ou certo poder econômico, social, eclesiásticos, independente da categoria de influência, geralmente são as pessoas mais difíceis de lidar. Não estou falando que são pessoas ruins e, sim, difíceis em razão das feridas que sofreram para chegar onde estão. Essas pessoas, geralmente, precisam passar por cima de seus traumas, dores, para alcançar o que alcançaram, portanto, dificilmente elas estão preocupadas com o sentimento do outro. 

 

Lado outro, geralmente as pessoas que precisam se sentirem aceitas por alguém, não conseguem lidar com esse primeiro tipo de gente. Afinal, é o tipo de gente sem tempo, complicadas, mas inescrutavelmente afirmo que são pessoas que podem gerar oportunidades para os seus e para terceiros. Assim, concluo que pessoas com emoções mais delicadas, sensíveis, que não são treinadas, não souberam trabalhar o passado, as feridas, os abandonos, os problemas familiares, a traição, não conseguem lidar com esse tipo de pessoa, tudo porque ela se torna um recipiente de ofensa que rouba dela muitas oportunidades. 

 

As migalhas de ofensas quando consumidas são veneno para relacionamentos. Uma pessoa ofendida não se submete a autoridade, ela quebra princípios de honrar pai e mãe (por mais razão que tenha para ficar ofendida), entenda, eu não estou dizendo que você não possa ficar com raiva, indignada, não estou dizendo que você deve abrir mão de seus direitos, aqui vou mais profundo, pois uma pessoa ofendida se amargura com a dureza e avareza do outro e nesse movimento não consegue se tornar generosa.

 

Em provérbios 17:9 diz que a ofensa tem função de massacrar o amor e afastar as pessoas que devem estar juntas.  Já em Pv. 19:11, diz que a sabedoria do homem lhe dá paciência e a sua glória é ignorar as ofensas.  Portanto, meus caros, as oportunidades só se abrem para os de coração limpo. Ademais, em Mt. 6:14, afirma que se você perdoar as ofensas dos outros, o PAI celestial também perdoará a sua - ou seja, nós também ofendemos a Deus.  Então qual a regra? Qual a melhor direção? Penso que é decidir ter um coração inofendível.  Com o passar dos anos percebi que as decisões e atitudes de algumas pessoas, de alguma maneira tentavam me enfraquecer, mesmo que as decisões não fossem sobre algo em relação a mim e sim situações que indiretamente me atingiam – mas a virada foi a decisão que tomei de eu não me tornar e ou ser como a pessoa está, digo está porque ela pode mudar. Não somos, estamos. Ninguém é o seu pior e nem os sentimentos ruins que lhe assolam, miseráveis pelos quais são acometidos. Eu acredito que qualquer ser humano pode triunfar sobre eles, pois as pessoas são maiores e melhores que sentimentos nocivos. Eu também posso decidir não ser amiga e estar perto de certa pessoa, mas não me tornar uma pessoa amargurada porque essa ou essas pessoas agem diferente do que eu agiria. Ainda que eu tenha decidido não ser amiga, decidi também não ser inimiga, e caso a pessoa venha cair e eu puder ajudar, eu vou levantá-lo (s), tudo porque eu decidi ter um coração inofendível. Por qual razão? Porque sou boa? Não, ao contrário, por reconhecer minha miserabilidade e total dependência de Deus. Reconheço que muitas pessoas podem tentar ofender o outro pelo simples fato delas saberem que não podem ter o que o outro tem, e isso vai além do material. 

Quem não tem um coração ofendido, sabe como reagir às ofensas. O maior desafio é decidir todos os dias não mudar o coração. Essa capacidade só pode ser diuturnamente exercida se pararmos para ouvir a voz divina. Para isso é necessário retirarmos o orgulho do coração e equilibrar as emoções.

- Quem está perto de Deus está livre - pois é inimigo das ofensas. Eu acredito que a regra mais difícil é ficar em silêncio diante das pessoas e nos abrirmos somente com Deus, pois a verdade é que Deus usa quem Ele quer e da maneira que deseja, isso independe de gostarmos ou não de dadas pessoas. Deus ama quem você rejeita, sabia?

Que o nosso coração seja terra inalcançável pela ofensa, que dele exale o perfume de cristo. 

 

Quanto ao pai que provavelmente será indenizado pela exclusão da vida dos filhos no momento de uma celebração una, eu reitero, o direito não deve ser burlado, e quando for necessário reivindique sem que a ofensa azede seu coração e lhe roube o processo de vida pelo qual você está inserido, afinal, na vida somos meros passageiros meus amigos. 

 

Por Flavia Moreira. Advogada, pós-graduada em Direito Público, Direito Processual Civil, pelo IDDE em parceria com Universidade Coimbra de Portugal, ‘IUS GENTIUM CONIMBRIGAE, especialista em Direito de Família e Sucessões, associada ao IBDFAM e membro do Direito de Família da OAB/MG.

 

Comentários