O bicho mais honesto

Augusto Fidelis

Num dia desses, uma colega de trabalho deixou sobre a minha mesa algumas charadas, que ela copiou da Folhinha do Sagrado Coração de Jesus. Na primeira, a seguinte pergunta: qual é o bicho mais honesto? A resposta estava no pé da página, em letras miúdas, mas me recusei a consultar, porque no meu entendimento seria uma questão de honra decifrar o enigma.

A fim de encontrar um caminho que me possibilitasse melhor investigação, concluí que o mais plausível seria buscar a definição de honesto e, a partir daí, encaixar os bichos que existem, incluso o ser humano, já que todos os animais se relacionam com os da sua espécie e se inter-relacionam com os demais viventes.

Há quem diga que o Latim é uma língua morta, mas todas as vezes que se busca uma palavra, com frequência absoluta, há de se buscar nesse vernáculo a origem do verbete. Então, honesto vem de honestus, que significa casto, virtuoso, conveniente, agradável, atencioso, honrado, bem procedido, enfim, probo.

Por acaso seria o bicho homem alguém que se pudesse chamar de probo? Segundo os entendidos, toda regra tem exceção, por isso existem pessoas probas. No entanto, neste debate não cabe exceção, pois o que importa é a regra e, de acordo com a regra, o bicho homem não é honesto: é o único que conhece dinheiro. E onde há grana tem sempre alguém desejoso de passar a perna no seu semelhante.

Na dificuldade voluntária, já que para eu ter a resposta bastava apenas uma alongada no olhar, inquiri um dos colegas mais próximos, com a seriedade que o caso requeria: qual é o bicho mais honesto que existe na face da Terra? O primeiro ficou perplexo, refletiu, mas achou por bem não se arriscar. O outro, que ouviu a pergunta, declarou que seria o cachorro, por ser o melhor amigo do homem.

Nunquinha, o cachorro não é honesto. Há um provérbio árabe que diz o seguinte: “Se você deixa seu cão com fome, qualquer um que lhe der comida torna-se o seu dono”. Conclusão: o cachorro bajula o dono por causa de comida. Isto se estende a todos os animais domésticos.

“E os animais selvagens? Ora, eles não têm contato com o homem, daí todos podem ser honestos”, palpitou alguém que ouviu a conversa. Neste caso há controvérsia, pois todos os animais domésticos, com certeza, foram selvagens em determinado momento da história.

Na falta de consenso, e como a discussão se alongava além da conta, achei melhor fazer a consulta ao pé da página, algo que eu evitara até então a todo custo. Coloquei os óculos na ponta do nariz, para enxergar melhor, e eis a resposta: o bicho mais honesto que existe é a cobra, porque nunca passou a perna em ninguém. Pensando bem, tem sentido. Você concorda?

 

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