Morre a primeira-dama do teatro de Divinópolis

Irene Silva tinha 96 anos e brilhou nos palcos da cidade

Da Redação

O teatro de Divinópolis que viveu momentos de brilho e glamour nas décadas passadas, perdeu no fim da tarde desta quinta-feira, 15, a primeira mulher a brilhar nos palcos divinopolitanos: Irene Silva. Muitos poucos valorizaram e engrandeceram tanto o teatro como ela. Precursora de uma época, abriu caminho para que outras se aventurassem no mesmo caminho.

Nascida em 21 de setembro de 1927, Irene Silva completaria 97 anos em 2024. A quase centenária, ainda lúcida e cheia de histórias, fazia questão de comemorar os aniversários, lado dos filhos, genros, netos e bisnetos. Em cada data, mais um capítulo de sua longa história.

Se com apenas 12 anos de idade, ela enfrentou a sociedade machista da época para viver seus sonhos, hoje parta com a certeza de ter feito o certo e que deixará um legado é imortal.

História

Se hoje Divinópolis ainda mantém vivo o sonho do teatro, foi porque aqui viveu uma mulher chamada Irene Silva. Em sua ousadia para se tornar atriz de teatro, ela não se contentou em ser apenas mais uma, tinha que ser a melhor. E a carinhosa alcunha de ‘Primeira-Dama do Teatro de Divinópolis’, jamais será esquecido.

Mas, não fez só isso. Foi professora e diretora escolar. Ao lado da irmão Martha Eugênia, transformaram o Colégio Frei Orlando em um dos melhores estabelecimentos de ensino da época. Pelo educandário, passaram homens ilustres, empresários, políticos, que se destacaram na cidade e em Minas Gerais.

Em 2017, no seu aniversário de 90 anos, o Agora fez uma entrevista com Irene Silva escrita por seu sobrinho José Carlos de Oliveira. O jornal reprisa parte dela abaixo em sua homenagem.

- O que é teatro para a senhora?

É uma maneira de abrir os olhos das pessoas para os problemas da vida. É preocupar as pessoas, mostrando a elas a realidade de uma maneira bem suave, jocosa... Na parte social, também abordando certos aspectos da política, o teatro é muito importante. E a plateia faz parte do teatro, ela vive as mesmas coisas que os atores estão vivendo no palco. É um encontro, uma boa oportunidade de encontrar as pessoas, de pôr a nossa vida em dia, não é isso? A gente aprende demais, porque a vida é um aprendizado. Teatro é vida. Acho a arte cênica, na minha maneira de sentir, maravilhosa. Eu me realizo muito, me sinto plenamente realizada quando estou no palco.

Homenagem

A história de Divinópolis se confunde com a própria história de seus principais personagens. Pessoas brilhantes, cada uma em seu tempo e no seu modo de ser e pensar, aqui nasceram, viveram e ainda vivem, construindo e engrandecendo o nome da cidade.

Se Divinópolis é hoje uma cidade universitária, que pensa e vive o amanhã, é porque personagens que por aqui passaram a ajudaram a ser assim: uma cidade que olha sim para o amanhã, mas sem nunca abrir mão de suas raízes e de valorizar o seu passado.

Com orgulho daqueles que a tornaram o que é hoje, Divinópolis segue seu curso, construindo um futuro cada vez mais promissor para seus filhos e netos. A cidade vive o moderno, mas sem se descuidar e nem desmerecer o seu passado.
Se hoje a cidade tem uma história a contar e novos capítulos a escrever, é porque pessoas brilhantes a fizeram ser assim e a tornaram no que é: uma cidade que não tem medo de antever seu próprio futuro.

Na cultura, Divinópolis escreveu lindos capítulos em sua história. Viu nascer lendas, que levaram e ainda levam seu nome a todos os cantos do Brasil. Pode-se citar vários, mas não é chegado o momento. Que desculpem os nossos heróis anônimos, ou mesmo seus familiares e amigos que aqui ainda vivem, mas hoje a atenção está toda voltada apenas para uma pessoa em especial, a mulher inigualável, heroína que ousou escandalizar toda uma sociedade apenas para realizar seus sonhos. Ela quis se tornar uma atriz de teatro, numa época em que a mulher era criada apenas para ser esposa e mãe, sem direito a nenhum outro desejo que não estivesse restrito ao próprio lar. Seu nome Irene Silva.
No teatro havia espaço apenas para os homens, mas ela decidiu contrariar o óbvio e foi em busca do sonho de ser atriz.

Se hoje a mulher se empoderou e ganhou o mundo, disputando espaço com homens em todas as áreas da vida, foi porque em épocas não muito distantes viveram mulheres como Dona Irene Silva, que ousaram sonhar com um amanhã melhor para todas com direito a vez e voz.

(Do sobrinho, José Carlos)

Morte

Irene Silva não vinha bem de saúde e morreu em casa. O velório será na Igreja Nossa Senhora Aparecida e o loca do sepultamento é o cemitério do Centro com horário ainda a ser definido.

 

 

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