Moro-Dellagnol deveriam estar presos?

DOMINGOS SÁVIO CALIXTO 

 

MORO-DELLAGNOL DEVERIAM ESTAR PRESOS?

Agora se pode compreender melhor o conto de Kafka, “Diante da Lei” (1915).

Entenda-se. Dentro dos padrões da extinta (?) operação lava-jato, Moro-Dellagnol já estariam presos, pois era assim que eles, Moro-Dellagnol, agiam na lava-jato, como muralhas antes da lei, contra (os outros) selecionados investigados.

Dellagnol estaria preso pela lava-jato até que explicasse detalhadamente como foram parar na conta da 13ª Vara Federal de Curitiba a quantia de US$ 682.560.000,00  vinda dos EUA, conforme acordo de “Non Prosecution” (protocolo 00004164/2019), assinado com a investigada Petrobras. Essa quantia, em 2019, equivaleria naquela época a dois bilhões e meio de reais. Muito dinheiro a ser devidamente explicado, inclusive pelo juiz responsável por aquela vara (...).

Não obstante às denunciações do advogado Tacla Duran,  Moro já estaria preso pela lava-jato até que explicasse claramente sua fortuna, sua ligação com a CIA, suas palestras e suas atividades junto à consultoria Alvarez & Marsal, empresa com a qual se ajustou depois que ele deixou a magistratura. Essa firma teria recebido cerca de R$ 42,5 milhões das empresas que foram alvo da lava-jato. Como isso é possível?  Dados mantidos em segredo até 21 de janeiro de 2022, mas que vieram a público através do ministro Bruno Dantas (TCU).

Aliás, quebra de sigilo era a especialidade de Moro-Dellagnol da lava-jato, assim como os vazamentos oportunistas, mandados de busca e apreensão espetaculares combinados com sites específicos e cobertura midiática. Sim, a lava-jato fazia assim.

Parece óbvio que Moro-Dellagnol não gostariam de ser investigados pelos Moro-Dellagnol da lava-jato. Claro que não. Certamente não iriam gostar de terem suas fortunas profundamente investigadas com auxílio da CIA, juntada de documentos falsificados, uso de grampos ilegais – inclusive contra advogados, como fizeram com o escritório de Cristiano Zanin.

Claro que não gostariam de ter suas casas reviradas, camas, sofás, escritórios, tablets de filhos tomados, tudo filmado e jogado à plebe ignara, rosnenta e odiosa. Não gostariam de ter seus familiares expostos e ameaçados por polícias políticas, muito menos gostariam de ter pessoas próximas sendo presas ‒ por meses ‒ como forma de extorquir uma delação “premiada” de interesse. 

Moro-Dellagnol também não gostariam de ser presos pouco antes das eleições, para que não pudessem disputá-las, ainda que a comissão de direitos humanos da ONU notificasse o país sobre a ilegalidade de tal medida, o que seria completamente ignorado pelo estado brasileiro, apoiado com o debochado de alguns “juristas”.

Moro-Dellanol agiram como porteiros da lei, assim como no conto de Kafka. Certamente Moro-Dellagnol, em sendo investigados, não vão querer juízes e procuradores como “porteiros”. Ao contrário, vão requerer vias sem obstáculo algum, para que possam correr livres para os braços da constituição ‒ o que não foi permitido ao camponês de Kafka.

(Dedicado ao reitor Luiz Carlos Cancellier, levado tristemente ao suicídio, por abusos da lava-jato)

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