Meio ambiente: avanços e retrocessos acumulados ao longo de cinco décadas

Jornal Agora registrou os principais pontos em que articulações do poder público e privado já poderiam ter surtido mudanças significativas

Anna Lúcia Silva

O meio ambiente em Divinópolis é uma preocupação constante de governos que entram e saem do poder. No entanto, o que se percebe é que as preocupações não resultam em ações suficientes para mudar o cenário de descaso, que se arrasta ao longo de décadas. O Jornal Agora elencou os principais pontos em que articulações do poder público e privado já poderiam ter surtido mudanças significativas. 

A reportagem mostra a situação da Lagoa do Sidil, que por anos sofreu com descaso e ainda hoje, mesmo com pequenos avanços, sofre com a falta de políticas públicas que seriam capazes de revolucionar o cenário na região. O rio Itapecerica, onde o esgoto dos moradores é lançado in natura, também foi abordado pela reportagem, assim como a Mata do Noé, Parque da Ilha e Parque do Gafanhoto. Confira como Divinópolis conseguiu avançar nesses aspectos e os retrocessos acumulados ao longo de cinco décadas. 

 

Lagoa do Sidil

A Lagoa do Sidil amargou por anos e vários governos se passaram sem nenhuma vontade política suficiente para mobilizar e fazer acontecer projetos ainda vigentes no papel sobre a revitalização do espaço. Hoje ela está limpa e sem aguapés, mas a retirada das plantas só ocorreu na atual administração.

No coração da cidade, ela pode ser a base de um grande investimento em infraestrutura, mas nada foi definido até então.

 

Situações críticas 

Por mais de dez anos o cenário na lagoa foi moldado por um imenso tapete de aguapés, indicando poluição da água. A região também se tornou destino para lixo e entulho e a situação já foi denunciada várias vezes pelo Jornal Agora. 

Em entrevista ao Jornal, uma moradora da região já declarou que o aspecto degradado do local viabilizava a prática criminosa contra o meio ambiente, de descarte irregular de lixo em área de preservação. 

— Nós, como moradores do Residencial do Lago, ficamos chocados com o descaso dos políticos que se arrasta por anos com essa lagoa. O Residencial só recebeu esse nome porque na ocasião de sua construção havia um projeto de revitalização que prometia transformar a Lagoa do Sidil em uma área verde e, inclusive, com lazer — disse Jessica Cristina Reis. 

 

Revitalização 

A revitalização da lagoa é algo discutido e acompanhado pelo Jornal Agora desde 2011, quando, na ocasião, o problema era só os aguapés. Nessa época, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente havia solicitado junto à Superintendência Regional de Meio Ambiente a autorização para a limpeza da área, o que não ocorreu. Nessa mesma época, o então secretário de Meio Ambiente, Pedro Coelho Amaral, afirmou à imprensa que havia um projeto para transformar a lagoa em um parque e que o Município estava em negociação com os nove proprietários da região.O impasse não foi superado. 

 

Aguapés 

O aguapé, também conhecido como baronesa, é um vegetal aquático composto por 95% de água e fica flutuando na superfície de lagos, represas ou rios. A planta serve de habitat para microorganismos ou refúgio para peixes. Mas, em grande quantidade, vira uma praga, como já aconteceu na lagoa do Sidil e, atualmente, ocorre em parte do rio Pará e Itapecerica.

— Esse efeito de tapete que comumente se forma é um elemento problemático, que traz impacto ambiental onde estiver. A planta se reproduz dentro de um processo muito rápido. Isso acontece geralmente nesse período, que é a passagem da primavera para o verão, onde o clima fica mais quente e favorece o desenvolvimento dessa planta — explicou o biólogo Claudemir Cunha.

A Prefeitura pontuou que a área é de Preservação Permanente e precisa de autorização dos órgãos ambientais para qualquer ação no local e reforçou ainda que repudia descarte de lixo e entulhos no espaço.

 

 Mata do Noé

Protagonista de inúmeras queimadas ao longo desses 50 anos, a Mata do Noé é considerada o “Pulmão de Divinópolis”. Localizada na região próxima ao viaduto do bairro Esplanada que dá acesso ao Nossa Senhora das Graças, a mata emoldura as margens do rio Itapecerica e favorece a melhoria da qualidade do ar, filtrando as impurezas e partículas de poluição por meio das árvores, mas, quando queima, só gera prejuízos à flora e fauna e à saúde da população. 

— Sempre que temos um chamado para atender na Mata do Noé, nos preocupamos com as espécies verdes e animais do local, que são diversos. Anualmente atendemos muitos incêndios de pequenas e grandes proporções na área — disse o sargento do Corpo de Bombeiros Luciano Silveira dos Santos.

A mata pertenceu a Noé Bueno e Dona Alice, mas foi desapropriada. Entre os anos de 2012 e 2013 surgiu a iniciativa de um anteprojeto de lei do Plano Diretor Participativo do Município para transformar a Mata em um parque. A proposta foi criticada na ocasião pela Organização Não Governamental (ONG ) divinopolitana Ação Renovadora, ou simplesmente Grupo AR, que defendeu que a iniciativa poderia prejudicar a preservação da área. De lá para cá, nada mais foi idealizado para o local até hoje.

 

Rio Itapecerica 

O Itapecerica abastece 80% da população de Divinópolis e o problema com as constantes poluições se arrastam há anos em um local em que, no passado, era possível até nadar. Há anos, a maior parte do esgoto sem tratamento é despejada no rio, e a promessa de tratar os dejetos segue no papel.

Em alguns pontos do curso d'água os aguapés também podem ser vistos em grande número. 

Um problema que, de acordo com o ambientalista Jairo Gomes, vem se agravando nos últimos 15 anos. A pior crise registrada foi em 2010. 

— As plantas impedem as incidências de raios solares nas águas. É uma barreira que contém sedimentos sólidos, que descem para o fundo do rio e agravam o problema do assoreamento. O aguapé é uma planta natural, mas não pode virar uma praga — explicou o ambientalista.

 

Esgoto tratado

Sobre a promessa de esgoto tratado, o presidente da Companhia de Abastecimento de Minas Gerais (Copasa), Carlos Eduardo de Castro, esteve em Divinópolis no fim do mês passado e anunciou a construção de mais um reservatório com capacidade de quatro milhões de litros para atender toda a cidade, além de melhorias do sistema de abastecimento de água na região Noroeste, que inclui bairros como Alto São Vicente e Serra Verde.

Ele também comentou sobre a implantação de dois reservatórios no bairro Liberdade, com capacidade para 525 mil litros; sobre a ampliação da Estação de Abastecimento (ETE) do Rio Pará; sobre o atraso da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do rio Itapecerica que era para ter sido entregue em 2016.

— Com relação ao esgotamento sanitário, nós temos a ETE Itapecerica, que de fato, já era para ter entrado em operação em 2016. Tivemos alguns problemas depois da licitação, a empreiteira quebrou, tivemos que fazer uma nova licitação, o fato é que, neste momento, já estão chegando na ETE os esgotos para serem tratados de mil imóveis. Estamos em fase de pré-operação, entrarão ainda, até o fim deste ano, mais 40 mil imóveis, de tal forma que a gente possa atender mais de 150 mil pessoas e ainda, no ano que vem, mais 35 mil imóveis sendo tratados também na ETE do Itapecerica. Isso vai fazer então, que Divinópolis supere a marca de 80% da população com a coleta de esgoto — explicou.

A expectativa, assim como em décadas, foi novamente alimentada pela fala do porta-voz da empresa. 

— O que Divinópolis precisa é, de fato, ter qualidade ambiental, e o esgoto tratado sem dúvidas é a questão mais importante —disse a ambientalista Marina Carla. 

 

Poucos avanços

Poucos avanços foram registrados ao longo das últimas décadas, apenas diálogos e tratativas para o tratamento do esgoto no Itapecerica, a limpeza completa dos aguapés na Lagoa do Sidil e o crescimento de ONGs que batalham em trabalhos de formiguinha para cuidar do meio ambiente. Fora isso, os retrocessos são mais evidentes. O Parque do Gafanhoto, que já foi local de lazer e, por último, em meados de 2009 e 2010, sede de estudos da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), na ocasião Fundação Educacional de Divinópolis (Funedi), hoje segue sem nenhuma atuação ou intervenção capaz de preservar e cuidar do espaço. Na mesma linha segue o Parque da Ilha, antes frequentado pela comunidade e cuidado pelo Município, que esteve fechado até pouco tempo por causa da pandemia de covid-19. Reaberto, algumas ações foram iniciadas, como plantios de mudas. A Prefeitura promete transformar o local em um grande espaço de lazer, mas ainda não há data.

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