Medida do homem

Augusto Fidelis

 

Conta-nos Malba Tahan que certo homem conseguiu a chave que dá acesso à gruta do destino, onde fica o livro da vida. Ele adentrou o recinto, observou o ambiente e, trêmulo como uma vara verde, caminhou em meio a uma névoa fina, que absorvia a luz azul vinda de uma candeia. Ao aproximar-se do livro, uma voz de trovão o advertiu de que teria um minuto para estar ali, e, esgotado o tempo, perderia a oportunidade de ouro que é dada a um mortal a cada mil anos.

Imediatamente, o homem abriu o livro na sua página. Para sua tristeza, verificou que seu destino era ser miserável pelo resto da vida. Ao lado do livro havia lápis e borracha. O homem, no entanto, resolveu dar uma olhada nas páginas dos seus inimigos e descobriu que a fortuna lhes sorria. Então, resolveu apagar a boa sorte deles e colocar só desgraças para cada um. Quando voltou à sua página, esgotou-se o tempo. O gênio responsável pela gruta o jogou para fora e nunca mais ele pôde voltar. 

“O dinheiro não tem a mínima importância, desde que a gente não tenha muito”. Essa opinião é de Truman Capote e nos leva a entender que ter muito dinheiro é problemático devido a uma série de circunstâncias: dinheiro mal administrado acaba; há sempre alguém querendo surrupiá-lo; nada pior do que ficar pobre depois de ter conhecido a fortuna. O rico é insensível à dor dos pobres e faz de tudo para acumular mais. É por isso que São Mateus adverte: “Onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração”.

Um provérbio árabe chama-nos à atenção: “Não é o que possuímos, mas o que gozamos que constitui nossa abundância”. Já a sabedoria chinesa nos alerta: “Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”. Para encerrar o nosso encontro de hoje, em que o assunto foi essa complicada questão do dinheiro, talvez seja melhor ficarmos com a opinião de Martin Luther King Jr: “A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio”.

Nesta época em que vivemos, com tantos ladrões à espreita, o melhor, talvez, é não ostentar, mesmo que tenha uma banheira cheia de moedas de ouro. Não há problema em perder bens materiais, o que precisa ser preservado a todo custo é a vida, pois tudo passa, tudo se resolve, mesmo as crises. É preciso manter a vida e a dignidade em época de vacas magras, sem invejar a boa sorte de outros. A boa sorte cada um tem a sua, que virá ainda que tardia. É o que lhe desejo caro leitor, estimada leitora, neste dia.

 

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