Mais de 50 pacientes aguardam transferência hospitalar na UPA

Outros esperam por cirurgia em casa; situação voltou a ser criticada na volta das reuniões da Câmara

Matheus Augusto

Divinópolis voltou a ser palco, nas últimas semanas, de novas críticas quanto à dificuldade de transferência hospitalar. Na segunda-feira, 1°, ganhou repercussão o caso de Gustavo Henrique Rocha Silva, de 25 anos. Ele conta ter entrado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na sexta-feira, 28, com sangramento na gengiva e hematomas pelo corpo. Exames apontaram para baixa contagem de plaquetas — enquanto o ideal é 150.0000/mm³, Gustavo estava com apenas 6 mil. Na noite de terça, ele conseguiu a transferência para o Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD). 

Entraves

Em nota publicada na segunda, o Instituto Brasileiro de Políticas Públicas (Ibrapp), responsável pela administração da UPA, ressaltou que nenhum dos casos refere-se a mau atendimento ou negligência. A administração reforça o caráter de pronto atendimento da unidade, “onde o paciente deve permanecer por no máximo 24 horas e, depois de avaliado pelo corpo clínico, receber alta ou ser transferido para um hospital”.

— O que de fato ocorre é que a UPA (...) está com alta demanda de entrada de paciente e baixa saída de vaga em hospitais da cidade e região. (...) Todos os colaboradores da UPA não tem medido esforços para atender da melhor maneira possível todos os pacientes, mas destaca que a unidade NÃO é um hospital e não tem recursos financeiros, estruturais e profissionais para tal finalidade — justifica. 

Atualmente, de acordo com dados atualizados em 1º de agosto, a cidade tem 106 pacientes à espera de uma vaga hospitalar. Desses, 55 estão internados na UPA, enquanto os demais são pacientes ortopédicos, que aguardam por suas cirurgias em casa. 

— A disponibilidade de vaga hospitalar é do SusFácil que é gerido pelo Estado, não tendo competência, porém, nenhum vereador ou profissionais da UPA em conseguir tal feito — destaca o Instituto.

Outra dificuldade citada pela administração da UPA é a recusa de pacientes em serem transferidos para hospitais fora de Divinópolis. 

Discursos

O tema também foi abordado durante a volta do recesso parlamentar, na Câmara. Hilton de Aguiar (MDB) voltou a cobrar união entre os agentes políticos municipais, estaduais e federais.

— É muito tranquilo época de eleição essa mentirada e demagogia. (...) Mas na hora que o pessoal está morrendo na UPA, não vem ninguém — criticou. 

Hilton ressaltou o esforço dos profissionais que trabalham na UPA e classificou a Saúde da cidade como “precária”.

— Estão todos desesperados e cobrando com razão. (...) Infelizmente, o Estado é omisso.

Em seu pronunciamento, Ademir Silva (MDB) relatou casos em que a espera por uma cirurgia chega a dois ou mais anos. 

— O povo continua esperando. (...) Não tem nem Plano Municipal de Saúde — afirmou.

De acordo com Josafá Anderson (Cidadania), os vereadores recebem diariamente mensagens de famílias solicitando a intervenção junto à regulação para a transferência de pacientes.

— É inaceitável o que está acontecendo em Divinópolis — lamentou. 

Ney Burguer (PSB) relembrou que a regulação é responsabilidade do Estado.

— A regulação não funciona. (...) O poder está na mão de quem regula, do Estado. (...) Vamos fazer a regulação funcionar — cobrou. 

Para o vereador Flávio Marra (Patriota), o problema está além de recursos e emendas, e passa por carência na Atenção Primária, falta de medicamento na Farmacinha e dificuldades para transferência de pacientes. 

— Tenho que cobrar, não estou aqui para passar pano quente. (...) Divinópolis não tem que pensar apenas em tapar buracos e calçamentos.

Reforço das ações 

Conforme informou anteriormente a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a regulação segue protocolos estabelecidos para que todos os pacientes recebam o tratamento adequado em tempo hábil. 

— A secretaria reforça que segue monitorando o fluxo regulatório dos leitos em todo o estado, com o objetivo de gerar um atendimento qualificado e em tempo oportuno dos pacientes. A Regulação Estadual utiliza-se de um fluxo regulatório bem definido para os casos de urgência e emergência, no qual a instituição de origem, seja ela um Pronto Socorro, uma Unidade de Pronto Atendimento 24 horas ou até mesmo um Hospital, ao identificar a necessidade de transferência do paciente, procede com a solicitação no sistema informatizado de regulação estadual, o SUSfácilMG, que por sua vez gera um laudo de solicitação a ser atendido pelas centrais de regulação — explicou. 

A pasta acrescentou, ainda, que o trabalho é ininterrupto.

— A Secretaria reforça ainda que as 13 Centrais Estaduais de Regulação funcionam 24 horas por dia, 7 dias na semana, com o objetivo de buscar a vaga adequada, até encontrar o recurso assistencial necessário ao quadro clínico de cada paciente cadastrado no SUSfácilMG.

Diálogo

O secretário de Saúde (Semusa), Alan Rodrigo, participou no mês passado de uma audiência sobre o assunto na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

— Os fiscais acompanham duas vezes ao dia e tem contato direto com a Central de Regulação. A gente tem uma relação muito estreita com o Núcleo Interno de Regulação — detalhou. 

Para Alan, com o esforço coletivo, é possível encurtar o prazo de espera dos pacientes que aguardam transferência hospitalar. O chefe da pasta citou o exemplo positivo do ‘Valora Minas’, da SES-MG, que valoriza os hospitais por sua resolubilidade e papel assistencial. 

— É preciso que todos os pares e todos os atores dessa comunhão se entendam no mesmo cenário de atuação. O que a gente percebe na questão da fiscalização de leitos, a gente acaba penalizando o bom prestador, aquele que tem muitos leitos, tem alta rotatividade, vários equipamentos de alta complexidade ali concentrados e o hospital que tem 30% de ocupação, que recebe seu recurso quase ordinário e dele vive tão somente, fica a mercê dessa fiscalização — destacou. 

Em sua avaliação, é fundamental discutir, em especial, a situação de hospitais menores, com menos de 50% de ocupação. 

— (...) estão se tornando subclínicas, e quase se transformam em internações sociais, com taxa de permanência superiores a 20, 30 dias, gerando pouca produtividade, baixa resolutividade. Agora olhem se tem alguma UPA vazia na macrorregião Oeste — refletiu. 

Ao fim, Alan reforçou a importância de reconhecer os bons prestadores de serviço e, através da união entre Legislativo, Executivo e terceiro setor, “olhar para a rede como um todo”.

 — Esses hospitais que, sequer, conseguem bater 50% de ocupação. Por que? E quando você liga para a Central de Regulação o médico não quer regular para esse hospital porque eventualmente pode não ser resolutivo para esse caso. Por que está aberto esse hospital? Para que ele consome recursos? É preciso analisar o problema sobre todos esses paradigmas porque, solução tem — concluiu.

Conforme dados de outubro de 2019, a Oeste é a 5ª menor, entre as 13 macrorregiões, no que diz respeito à soma de leitos de internação hospitalar (gestão estadual, municipal e leitos complementares), com 1.415 leitos.

 

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