In the beginning

Domingos Calixto

No início eram a terra e a posse, e o espírito do Capital pairava sobre lucro. Então o Capital disse: “Façam-se os latifúndios” (!) e os latifúndios foram feitos. 

E o Capital viu que os latifúndios eram bons e produziam espoliação e grilagem, e também produziam commodities e investimentos futuros. Foi o primeiro dia.

Então o Capital disse: “Faça-se o mercado” (!) e o mercado foi feito e o mercado gostava muito do latifúndio.

E o Capital viu que mercado era bom e produzia mais espoliação e exploração, e também produzia investimentos e ações que circulavam maravilhosamente. Foi o segundo dia.

Então o Capital disse: “Façam-se as corporações” (!) e as corporações foram feitas e gostavam muito do mercado.

E as corporações eram boas e produziam mais e mais exploração e marginalidade, e também produziam globalização e flexibilização dos mercados. Foi o terceiro dia.

Então o Capital disse: “Façam-se os bancos” (!) e os bancos foram feitos e gostavam muito da globalização.

E os bancos eram bons e produziam mais e mais exploração, e também produziam segurança e liquidez para as grandes fortunas. Foi o quarto dia.

E o Capital disse: “Façam-se as instituições públicas de repressão” (!) e as instituições públicas de repressão foram feitas, e gostavam muito dos bancos.

E as instituições públicas de repressão eram boas e mantinham mais e mais a exploração, e ainda produziam mais ignorância, mais alienação e mais pobreza. Foi o quinto dia.

E o Capital disse: “Façam-se as leis” (!) e as leis foram feitas e gostavam muito das instituições públicas de repressão.

E as leis eram boas e mantinham mais e mais a exploração e a ignorância, e também puniam e prendiam mais e mais a pobreza. Foi o sexto dia.

E o Capital agradou-se de sua obra, e no sétimo dia disse: “Não é bom que estejais sós e desamparados, façamos então o estado à nossa imagem e semelhança” (!) e o estado foi feito das costelas das leis públicas de repressão. 

Assim, depois da criação do estado, ninguém mais se sentiu só no jardim das obras, nem o latifúndio, nem o mercado, nem as corporações, nem os bancos, nem as instituições públicas de repressão, nem as leis.

Então, o Capital proibiu a árvore do conhecimento, do bem e do mal. E finalmente pode descansar. 

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