História do Guarani se confunde com a da cidade

Bugre faz parte de 92 dos 110 anos completados pelo Município hoje; sem apoio, risco de encerrar as atividades é grande

 

 

José Carlos de Oliveira

Divinópolis festeja hoje seus 110 anos de emancipação político-administrativa e por certo tem muito a festejar, por todo o seu crescimento ao longo destas 11 décadas. Mas, no que se refere ao esporte, o município ainda engatinha, uma vez seus administradores (novos e antigos) não valorizam como deveriam os atletas e clubes da cidade, que têm que se virar como podem para alcançar seus objetivos, verdade difícil de ser contestada por quem quer que seja. Nesse sentido, os políticos da nova geração deveriam se ater a tudo que não foi feito até aqui para não cometerem os mesmos erros no futuro. Usar a máxima de que o esporte não é o mais importante é enganar a si mesmo e à população, pois, quando esses mesmos atletas e clubes alcançam o sucesso, é o nome da cidade que é enaltecido em todos os cantos do Brasil

Quando se fala no Guarani, o que se ouve é o Guarani de Divinópolis, e assim é com clubes e atletas, conhecidos e desconhecidos do grande público, que por aqui passaram. Quando falam seus nomes, é o fulano de tal de Divinópolis, é o clube tal da cidade do interior de Minas, Divinópolis, que fica a poucos quilômetros da capital, Belo Horizonte.

Essa é a verdade e é sobre isso que os políticos deveriam meditar quando a cidade chega aos seus 110 anos, sem muito a festejar no esporte. O Bugre, que há mais de nove décadas faz parte da história do município, pede socorro, e, se não aparecer quem o ajude neste momento de crise, corre, sim, sérios riscos de encerrar suas atividades.

Nestes 92 anos de história, que serão completados em setembro, o clube sempre viveu altos e baixos, mas nunca, em tempo algum, correu um risco como o de agora, de se ver obrigado a encerrar suas atividades pura e simplesmente por falta de apoio de políticos, empresários e mesmo da população, em geral, da cidade.

 

Sem time profissional

Rebaixado na Justiça Desportiva no ano passado, por ter usado atleta irregular, o Guarani perdeu ao longo dos últimos meses sua diretoria executiva, com dois presidentes jogando a toalha – Nivaldo Batista (Araújo) e Robson Luís Camargos – e deixando o clube a ver navios, sem ter um comandante que tocasse o barco neste momento de instabilidade. 

Sobrou para o presidente do Conselho Deliberativo, Aléssio Salomé, assumir o comando do clube e tentar o possível e o impossível para mantê-lo em pé. De início, as notícias não são as que a torcida queria e esperava. Sem dinheiro e apoio, o clube se viu obrigado a abdicar do direito de disputar a Segunda Divisão (a Terceirona) do futebol profissional das Minas Gerais, com a promessa de retornar mais forte no ano que vem. Mas isso somente será possível se o clube tiver o apoio de toda a comunidade. E sua rica história representando a cidade no futebol profissional ficará apenas para os livros do passado.

 

História 

O Guarani foi fundado em 20 de setembro de 1930. José de Oliveira reuniu os amigos para a formação de um time de futebol. A partir dessa ideia, a "brincadeira" começou a se tornar séria e foi fundado o Alvirrubro do bairro Porto Velho.

Os primeiros anos do Bugre ficaram marcados pela rivalidade com o Ferroviário Atlético Clube, do bairro Esplanada. O rival era uma equipe dos funcionários da Rede Ferroviária Estadual, hoje FCA, que foi o setor mais forte da indústria divinopolitana na metade do século passado.

Em 1936, com o surgimento da Liga Municipal de Desportos de Divinópolis (LMDD), o Guarani se inscreveu no Campeonato da Cidade, mandando seus jogos em um campo onde hoje se encontra a sede da Copasa, entre os bairros Bela Vista e Esplanada. A partir daí o Bugre consolidou seu nome na cidade e em toda a região Centro-Oeste.

 

Farião 

O estádio Waldemar Teixeira de Faria, onde hoje o Guarani manda seus jogos, foi fundado no fim da década de 40, em 1949. De lá para cá o campo passou por mudanças e hoje sua capacidade é de apenas 4.181 torcedores.

Após a reforma do estádio, na década de 60, o Farião recebeu um duelo entre Guarani e Botafogo do Rio de Janeiro, que trouxe a Divinópolis um dos maiores jogadores da história do futebol, o craque Mané Garrincha.

 

Década de 1960 

Em 1961, o Bugre foi vice-campeão mineiro, perdendo o título para o Cruzeiro nas últimas duas rodadas do torneio, que era disputado no sistema de pontos corridos. Era a melhor campanha do clube até então.

 

Torneio Início 

Em 1964, conquistou o título do Torneio Início. Após empate por 0 a 0 no tempo normal, o Bugre venceu o Atlético Mineiro por 2 a 1 na disputa de penalidades. Na ocasião, o Guarani era escalado da seguinte forma: Pedro Bala; Torres, Faria, Mirim, Luizinho, Gonçalves, Panhoto, Jaime, Sinval (Celmo), Ticrim, Edinho. Técnico: Mário Celso (Marão). 

 

Campeão da Segunda Divisão 

Em 1994, o Bugre conquistou o título da Segunda Divisão. No time treinado pelo técnico Brandãozinho, diversos nomes entraram para a galeria de ídolos do clube, como Assis, Hgamenon, Renato Paulista, Tarcísio, Adilson (Xuxa, Coca-Cola) e vários outros.

 

Idas e vindas 

O início do século XXI ficou marcado por idas e vindas do Guarani, mas no geral os anos foram mais positivos para o alvirrubro. Em 2000, foi vice-campeão mineiro do Módulo II, retornando à elite do Campeonato Mineiro. Mas acabou rebaixado no ano seguinte, com péssima campanha no estadual.

Em 2002 veio a redenção. Mostrou que merecia um lugar na elite do futebol mineiro e foi campeão do Módulo II pela primeira vez.

A partir daquele ano, o Bugre participou de sete temporadas seguidas na elite do futebol mineiro, de 2003 a 2009. Sua melhor campanha foi no campeonato de 2008, quando terminou em 5º lugar e teve o artilheiro da competição. Porém, em 2009, a equipe alvirrubra não conseguiu repetir a boa campanha do ano anterior e foi rebaixada ao Módulo II.

Em 2010, o clube passou por uma reestruturação administrativa, quando tomaram posse o presidente Edilson de Oliveira, o vice Nivaldo Araújo, o gerente Renato Montak, e um corpo gestor de dez membros. Nesse mesmo ano, disputou o Módulo II do Campeonato Mineiro, sagrando-se bicampeão, ao vencer o Mamoré na grande final e conquistando o acesso ao Módulo I para o ano de 2011.

Nesse ano, disputou novamente a primeira divisão do Campeonato Mineiro, terminando a competição na 8ª colocação. O Bugre teve um início de competição avassalador, levando seu nome a muitas manchetes em Minas Gerais e no Brasil. Porém não conseguiu manter a regularidade e brigou contra o rebaixamento no fim do campeonato.

O jovem Luiz Fernando foi o destaque do Bugre, conquistando o prêmio de melhor jogador da posição na seleção Campeonato Mineiro 2011.

No segundo semestre, o Tamanduá participou pela primeira vez da Taça Minas Gerais, sendo eliminado na semifinal pelo Boa Esporte, quarta força do futebol mineiro na época.

Em 2012, terminou o Mineiro na sexta posição, conseguindo uma vaga à Série D do Campeonato Brasileiro. O presidente Edilson de Oliveira chegou a anunciar a desistência da competição, alegando problemas financeiros. Mas, depois de reunião da CBF com os clubes, a entidade ficou responsável pelos gastos com o transporte das equipes, o que fez com que o presidente voltasse atrás à sua decisão.

O Guarani ficou em quinto e último lugar do grupo A6, marcando no total 6 pontos, dos quais cinco foram fora de suas dependências, ficando na 33º posição geral entre 40 equipes. O grupo foi formado por Friburguense-RJ, Nacional-MG, Aracruz-ES e Volta Redonda-RJ, além do Bugre. 

Em 2013, o Bugre terminou o Mineiro na 7ª colocação. O time venceu as partidas contra América-TO, Nacional, Araxá e Boa Esporte – além de empatar com Caldense e Cruzeiro, sendo a única equipe a conseguir pontuar contra a Raposa na primeira fase. O Guarani teve seu mando de campo na cidade de Nova Serrana, na Arena do Calçado.

 

Novos tempos 

No dia 14 de maio de 2013 foi eleita uma nova diretoria, o ex-presidente Edílson de Oliveira renunciou ao cargo, e o vice, Gilson Morais assumiu até o fim do mandato, em junho de 2014.

Naquele ano, o clube celebrou a volta do mando de campo para Divinópolis. Dentre os jogadores contratados para a temporada, sob o comando do técnico Leston Junior, destaques para o goleiro George, os zagueiros Marx Ferraz e Cris, os meias Michel Elói, Tiago Carpini e Michel Cury e os atacantes Tito e Tiago Pereira. O clube terminou o Mineiro na 10ª colocação, se livrando do rebaixamento na última rodada, com uma vitória heroica por 2 a 1 sobre o Tupi, em Juiz de Fora.

Em 2014, em um concurso de musas, a divinopolitana Renata Martins, representante bugrina, venceu como Musa do Mineiro 2014.

Em junho, o presidente Gilson Antônio Morais foi reeleito para comandar a equipe até 2016, entre suas realizações, destacam-se as Certidões Negativas de Débitos Federais e Previdenciários, que permitem ao clube o direito de solicitar e receber verbas federais, como em emendas orçamentárias.

Em parceria com a Liga Central Fut-7, ainda foi vice-campeão do primeiro Campeonato Mineiro de Futebol de 7.

Em 2018, conquistou o tricampeonato do Módulo II, com empate em 1 a 1 frente o Tupynambás, na última partida, disputada no Farião, no bairro Porto Velho, e subiu novamente para a elite do futebol mineiro. A base do time campeão, treinado por Gian Rodrigues, foi: Leandro; Ricardo Luz, Helder, Eduardo e Thiago Balaio; Kauê, Alemão, Leomir e Magalhães; Paulo Morais e Pedrinho.

 

Fim de uma era

Rebaixado no ano seguinte para o Módulo II, o Alvirrubro passou a viver um inferno astral, caindo degrau a degrau, anos após ano. Sem a diretoria que comandou o clube em quase 10 anos – Gilson e Vinícius Morais – e saneou o clube da melhor forma possível, elegeu a Nivaldo Batista, o ex-zagueiro Araújo, na esperança de retornar à elite do futebol mineiro. Mas não deu, sem forças acabou renunciando, e o mesmo aconteceu com seu sucessor, Robson Luís Camargos, que deixou o clube na mão, depois de um vexame de ser rebaixado para a Segunda Divisão do futebol mineiro no tapetão. 

Hoje, comandado interinamente pelo Conselho Deliberativo, tem eleição marcada para o fim deste mês, mas até o momento nenhuma chapa foi inscrita para participar do pleito.   

 

Categorias de base

Momentaneamente fora do futebol profissional, o Guarani tenta se manter vivo nas suas categorias de base. Numa parceria com o Vasco da Gama, do bairro Afonso Pena, disputa competições regionais e estaduais de base em várias categorias e aos trancos e barrancos vai tentando se manter vivo na história do futebol mineiro.

Até quando? Somente os políticos e a população que ama a cidade e o clube poderão responder. Com apoio, o Bugre certamente voltará a ser forte, mas sem ajuda fará apenas parte da história. (Com Davi Raposo)

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