Grito de socorro

Grito de socorro 

Em algum momento da vida, boa parte da população sonhou que tentava gritar, mas não conseguia. Pedia socorro, porém, sua voz não saía. Talvez esse seja o exemplo perfeito para tentar imaginar o que os idosos internos da Vila Vicentina passaram. Desumano. Asqueroso. Cruel. Nojento. Não existem palavras neste mundo que consigam expressar o sentimento ao ler a notícia de capa do Agora, de ontem. Qualquer pessoa que tenha o mínimo de empatia não consegue ler os relatos dos familiares dos idosos e dos ex-funcionários sem sentir repulsa, um nó na garganta. Não é possível imaginar a angústia, o desespero, a dor de cada um. Não é possível imaginar como um ser humano – se é possível chamar assim – consegue fazer algo tão pavoroso com outro, como o que era feito na Vila. Hoje, a única sensação que domina qualquer um é a de um grito entalado na garganta. Aproximadamente dois anos. Cerca de 730 dias. Esse foi o período em que idosos foram expostos ao pior que um ser humano pode passar em sua existência na Terra. 

Quanto vale uma vida? Ou o fim de uma vida? Em pleno 2022, quando se acredita que a humanidade está evoluída, um fato desse esfrega na cara da sociedade que não! Ainda se tem muito a evoluir e os seres humanos fracassaram totalmente. Na empatia, no amor ao próximo, no amor a si mesmo, na prestação de socorro, na atenção, no cuidado. O ser humano falhou terrivelmente. Os mesmos que colocam a Bíblia debaixo do braço, usam o nome de Deus em vão, ditam regras como fulano, beltrano ou cicrano devem viver, apontam as falhas dos outros e pregam a moral e os bons costumes são os que cometem atos atrozes. Sim! Isso, fato. A humanidade esbanja hipocrisia. Afinal de contas, o mundo não é dividido em pessoas más ou boas, pois todos têm trevas e luz, a grande diferença é a escolha do lado que cada um decide agir. Infelizmente, o que se vê a cada dia são mais e mais pessoas escolhendo o caminho das trevas. 

É impossível falar das falhas da humanidade sem falar dos representantes do povo.  O que pode ser visto em Divinópolis. A situação da Vila Vicentina foi escancarada e mostrou também os erros até mesmo imperdoáveis por parte de quem é pago para fiscalizar, para defender os direitos do povo. Sobra vídeo, mas falta fiscalização. Sensacionalismo, e o trabalho sério deixa a desejar. Se a Vila Vicentina foi transformada em um palco de horrores, a Câmara foi transformada em um picadeiro. Enfim, o grito de socorro que estava entalado na garganta dos internos foi libertado. E o desejo do lado de cá é que a partir de agora eles possam desfrutar a vida com respeito e dignidade, e que os representantes do povo reflitam sobre o que estão de fato fazendo do parlamento divinopolitano. Pois está mais do que provado que não tem engrenagem nenhuma girando, e não tem colete de “fiscal do povo” funcionando. A coisa é mais séria e mais feia do que se pode imaginar.

 

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